3 de junho de 2019 – A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde do Brasil promovem em Brasília nesta segunda-feira (3) o II Encontro Regional sobre Ações de Prevenção da Obesidade Infantil no âmbito da Década de Ação das Nações Unidas para Nutrição. O evento, que segue até amanhã (4), conta com a participação de representantes dos governos da Argentina, Belize, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Risca, Equador, Granada, México, Panamá, Peru e Uruguai, bem como de membros da academia e da sociedade civil.
“Reconhecemos que a obesidade infantil compromete o futuro de nossas crianças e temos o desafio de garantir que elas tenham a oportunidade não apenas de sobreviver, mas acima de tudo, de prosperar e viver suas vidas em seu pleno potencial”, afirmou Socorro Gross, representante da OPAS e da OMS no Brasil. Para ela, a obesidade, particularmente a obesidade infantil, é um problema complexo que tem raízes em vários fatores e, por isso, exige uma reposta coordenada em nível intersetorial. “Para que possamos avançar nestas agendas nos próximos anos, precisamos atuar de forma conjunta. Vejo neste encontro uma grande oportunidade para consolidarmos essa união e esse compromisso”, ressaltou.
Gross defendeu que as medidas regulatórias estabelecidas no Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno e no Plano de Ação da OPAS para a Prevenção da Obesidade em Crianças e Adolescentes são essenciais para combater a epidemia global de obesidade. “Podemos citar como exemplos os impostos sobre bebidas adoçadas, a regulamentação da publicidade de alimentos ultraprocessados para crianças, a implementação da rotulagem frontal de advertência, a promoção da atividade física e o incentivo ao aleitamento materno”, afirmou a representante da OPAS no Brasil. Ela pontuou ainda o importante papel desempenhado pela amamentação no combate à obesidade infantil. “O leite materno é um dos alimentos mais saudáveis que existe. Já temos evidências de que bebês que amamentam sofrem um risco menor de ter excesso de peso ou obesidade durante a infância e a adolescência”.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o Brasil é o país mais sedentário do mundo e que está trabalhando para implementar o plano global da OMS para promoção da atividade física. Além disso, lembrou que os esforços para combater a obesidade infantil não estão apenas sob a responsabilidade do Ministério da Saúde, mas devem ocorrer por meio de uma integração com outros setores – entre eles economia, agricultura, educação e esportes. “Há uma série de pontes a serem construídas para gradativamente reposicionar não só o Brasil, mas o mundo, na adoção de hábitos saudáveis”.
“Quando dialogamos sobre obesidade infantil, consideramos dois pilares: primeiro a alimentação, segundo a atividade física, que combate o tempo de tela das crianças. No mundo inteiro, elas passaram a ficar muito mais reclusas, muito menos expostas às atividades lúdicas típicas da infância e da adolescência”, alegou Mandetta. Segundo o ministro, é necessário avançar em formas de promover a atividade física nas escolas e também o esporte comunitário.
Para Rafael Zavala, representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) no Brasil, o fato de quatro países das Américas, entre eles o Brasil, estarem na lista dos 10 primeiros com maior número de pessoas obesas no mundo é preocupante e exige uma resposta urgente. “Temos um desafio no contexto de globalização da obesidade: ter maior oferta de alimentos saudáveis e sistemas alimentares sustentáveis. Nós precisamos reinventar as culturas alimentares”, disse.
Florence Bauer, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) no Brasil, informou que a obesidade tem crescido durante a primeira infância e que, para enfrentar esse problema, é necessário focar em medidas importantes como a rotulagem, alimentação nas escolas, publicidade direcionada ao público infantil e conscientização sobre hábitos saudáveis. “As consequências que o sobrepeso e a obesidade têm sobre a saúde já são conhecidas, mas existem muitos outros fatores. Sabemos que essas condições afetam a autoestima das crianças, têm uma relação com bullying nas escolas e consequentemente uma relação com acesso à educação. Existe também uma ligação entre o bullying e o suicídio entre crianças e adolescentes, que nos preocupa muito”, adicionou.
Ao mesmo tempo em que se empenham esforços para acabar com a fome em todo o mundo até 2030, é necessário atuar para cuidar da epidemia de obesidade, segundo Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA). “Quando as pessoas começam a ter menos condições de consumir, acabam ficando obesas. Isso acontece porque os alimentos mais acessíveis são aqueles que mais fazem mal à saúde, que têm mais açúcar e sódio, os ultraprocesados que estão em todas as prateleiras de supermercados”. Balaban reiterou a importância de medidas regulatórias como a rotulagem com advertência frontal, que dá aos consumidores e consumidoras as informações necessárias para que possam fazer escolhas alimentares mais informadas e conscientes.
O coordenador-geral substituto do Programa Nacional de Alimentação Escolar do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Valdo Xavier, também participou da cerimônia de abertura do encontro falando sobre a importância de uma alimentação adequada nos ambientes escolares.
Sindemia de obesidade, má nutrição e mudança climática
As conclusões do relatório “The Global Syndemic of Obesity, Undernutrition, and Climate Change”, publicado na revista científica The Lancet, também foram apresentadas aos participantes do encontro pelo assessor regional de Nutrição e Atividade Física da OPAS, Fábio Gomes. Uma sindemia é resultado de duas ou mais condições que ocorrem simultaneamente no espaço e tempo, interagem umas com as outras e têm causas comuns, como é o caso da obesidade, má nutrição e mudança climática. De acordo com Gomes, “o bem-estar e a saúde humana e o bem-estar e saúde do meio ambiente são importantes tanto para intervir sobre esses problemas quanto para compreender como eles se interconectam e quais são suas causas comuns”, afirmou. Confira a publicação na íntegra clicando aqui.
Crédito da foto: Erasmo Salomão/Ministério da Saúde