Brasília, 29 de novembro de 2023 (OPAS) - A Secretaria de Saúde Indígena (SESAI) do Ministério da Saúde brasileiro e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) promoveram em Brasília, Brasil, um encontro nacional de atenção psicossocial e promoção do bem viver em comunidades indígenas. O evento, que ocorreu de 20 a 24 de novembro, reuniu especialistas em medicinas indígenas (pajés e lideranças comunitárias) e referências técnicas de atenção psicossocial dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) e do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena (DAPSI).
Além de dar voz às especialistas em medicinas indígenas, os cinco dias de encontro criaram um espaço para que os profissionais de referência técnica que atuam nos DSEI compartilhassem experiências exitosas que podem ser adaptadas ou replicadas em outros contextos.
Além disso, os participantes discutiram as linhas de cuidado para pessoas em situação de violência, redução de danos ocasionados pelo uso prejudicial de álcool e outras drogas, prevenção e monitoramento das tentativas de suicídio e cuidado de pessoas em uso de medicamentos psicotrópicos.
Weibe Tapeba, secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde do Brasil, revelou que as contribuições realizadas no encontro serão importantes para a construção da nova proposta de Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. “Estamos buscando caminhos e isso precisa estar muito bem estruturado. Buscaremos aproveitar e incluir em nossa nova política todo insumo e subsídio que for resultado deste encontro e das demais ações que nós realizaremos em nome da SESAI com relação ao tema de atenção psicossocial e saúde mental”, enfatizou.
De acordo com Elisa Prieto, coordenadora de Determinantes da Saúde, Doenças Crônicas Não Transmissíveis e Saúde Mental do escritório da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, é essencial contar com a participação da população indígena na construção das políticas públicas. “Este evento é muito importante e oportuno para discutir as linhas de cuidado e revisar cartilhas e materiais que já foram lançados”, afirmou. “O trabalho que vocês vão desenvolver terá um impacto para além do Brasil. Este país faz fronteira com muitos outros países, temos povos que compartilham territórios e, por isso, essa experiência vai ser muito rica para informar como podemos avançar como Região (das Américas)”, complementou.
Em 2019, o Ministério da Saúde e a OPAS publicaram a cartilha “Atenção Psicossocial aos Povos Indígenas - Tecendo redes para promoção do bem viver”, que é resultado de um processo de construção participativa junto a indígenas, profissionais de saúde e gestores sobre práticas, perspectivas e expectativas em relação ao acolhimento e atenção diferenciada às populações indígenas. O documento orienta a gestão da atenção psicossocial nos Distritos Sanitários Especiais Indígena (DSEI) e fornece subsídios para a organização das ações relacionadas à atenção psicossocial dos povos indígenas, assim como orientações básicas para o desenvolvimento dessas ações, tanto para os profissionais de saúde quanto para os gestores. Após o encontro realizado na semana passada, o material de referência deverá ser revisado e aprimorado.
Segundo Carmem Pankararu, diretora do Departamento de Atenção Primária à Saúde Indígena da SESAI, um dos intuitos do encontro nacional é fortalecer as medicinas indígenas nos territórios, dando protagonismo a pajés e cuidadores da comunidade. “Nós temos falado muito da atenção psicossocial e do bem viver na promoção da saúde na aldeia por meio da medicina indígena e isso é muito especial. Este momento que estamos vivendo na saúde indígena vem crescendo, é uma pauta permanente para nós e nosso objetivo é fortalecer cada vez mais o bem viver dentro dos territórios”.
“O que a gente faz como pajé é um trabalho 24 horas, pois chegam pessoas para a gente cuidar de madrugada”, explicou a Pajé Nadia Pitaguary, do Ceará. “Uma grande preocupação nossa é até que ponto é algo psicológico e até que ponto é espiritual. Nós, pajés, nos preocupamos com isso. Se a gente não cuidar do espiritual e dar só remédio, não vai passar”, avaliou.
Para o Pajé Celso Xukuru-Kariri, presidente do Fórum de Presidentes de Conselhos Distritais de Saúde Indígena (FPCONDISI), a integração das medicinas indígenas e da medicina ocidental precisa ser fortalecida. “Temos que começar a trabalhar isso, porque a saúde indígena tem algo diferenciado e é isso que a gente vem trabalhando junto com as equipes dentro das nossas comunidades”, acrescentou, destacando a necessidade de diálogo entre os profissionais da atenção psicossocial.
