OPAS, Distrito Federal e município de Vitória de Santo Antão compartilham experiências no atendimento integral para pessoas Trans e LGBTQIAPN+

Reunião dde intercâmbio
Foto: OPAS/OMS/Karina Zambrana
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Brasília, 22 de agosto de 2024 – Especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) acompanharam uma visita de intercâmbio entre a coordenação do Ambulatório LGBTQIA+ Dani Almeida, do município de Vitória de Santo Antão, no estado de Pernambuco, e o Ambulatório Trans do Distrito Federal (DF). A iniciativa buscou promover a troca de experiências e fortalecer as práticas de atendimento especializado para a população Trans e LGBTQIAPN+.

A sigla LGBTQIAPN+ abrange pessoas que são Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer, Intersexo, Assexuais, Pan, Não-binárias e mais. Durante a visita, realizada em Brasília no dia 15 de agosto, o coordenador do Ambulatório no município, Washington Barros, apresentou o trabalho realizado no município, desde 2022, com foco no atendimento as necessidades específicas dessas populações.

“O nosso propósito é cuidar da prevenção e não apenas da patologia. A demanda sempre existiu e antes [da sede própria] o atendimento e o cuidado dessa população era descentralizado nas unidades de saúde, até que sentimos a necessidade de criar um espaço próprio para atender esse público, especialmente porque sabemos que na ponta nem todos [os profissionais] estão preparados para recebê-los”, destacou. 

Com cerca de 140 mil habitantes, Vitória de Santo Antão conta com um Ambulatório LGBTQIAPN+ desde 2022. Com sede própria, o espaço conta com uma equipe multidisciplinar e oferece uma série de serviços de saúde como atendimento clínico especializado, orientação ao processo transexualizador, com disponibilização da hormonização, apoio psicoterapêutico, vacinação, testes rápidos, ações de prevenção para infecções sexualmente transmissíveis e práticas integrativas e complementares como ventosaterapia e auriculoterapia.

No Distrito Federal a população Trans conta com um ambulatório de assistência especializada desde 2017, com uma equipe multidisciplinar composta por endocrinologia, clínica médica, psiquiatria, psicologia, nutrição, dermatologia, fonoaudiologia, assistência social, urologia, ginecologia e enfermagem.

Trans são pessoas que se identificam com um gênero diferente ao qual foram designadas no nascimento, baseado em seu sexo biológico. O ambulatório trabalha a sensibilização e o respeito às diferenças e a dignidade humana, em todos os níveis de atenção. A especificidade do nome “Ambulatório Trans”, segundo a coordenadora do Ambulatório Trans do DF, Sid Vasconcelos, é uma reparação histórica para uma população que desde sempre sofre com a invisibilidade e a falta de acesso aos serviços de saúde.

“Estamos falando de uma população que morre por ser trans e a saúde dessa população é negada por ela ser trans. [Com o Ambulatório Trans] estamos reparando a saúde e a existência dessas pessoas”, destacou a coordenadora relatando que essa população muitas vezes tem atendimento de saúde negado por não terem a mesma “passabilidade” de pessoas cis (que, ao contrário das pessoas trans, são aquelas que se identificam o gênero designado no nascimento, baseado no sexo biológico) ou LGBTQIAP+.

Sob a perspectiva trans, a “passabilidade” significa a capacidade de uma pessoa ostentar uma aparência e caracteres físicos que a permitam ser reconhecida socialmente como alguém do gênero ao qual se entende pertencer, sem que sua condição seja notada ou descoberta.

O Ambulatório Trans do DF atende 400 pessoas por mês, com 20 novas admissões mensais. A porta de entrada e através da fila de espera com aproximadamente 2 anos para admissão.

Pela OPAS participaram do encontro a consultora da coordenação de Sistemas e Serviços de Saúde e Capacidades Humanas para a Saúde, Maria Silvia Fruet e a consultora de Doenças Crônicas Não Transmissíveis, Larissa Veríssimo.

No dia anterior, a equipe de Vitória de Santo Antão esteve na sede da OPAS, acompanhada da deputada federal Iza Arruda e da coordenadora do Programa de Imunização do município, Camila Karina, para apresentar o ambulatório Trans e outras boas práticas de saúde como as ações de vacinação no município como o “Vitória vacina em casa”, de vacinação porta a porta, o “Distraindo a dor”, que faz uso de óculos de realidade virtual para vacinação de crianças e adolescentes;  o “Vacinas no campo”, que conta com um ônibus para vacinação itinerante; e a “Vacina para o comércio”, que leva os principais imunizantes para os estabelecimentos comercias do centro da cidade.

Saúde da população trans: a experiência do Brasil

A violência é uma realidade no cotidiano de homens e mulheres trans e travestis em todo o mundo. A violência e o estigma têm impacto direto na saúde dessa população, que enfrenta dificuldades desde sair na rua, se relacionar socialmente até buscar cuidados quando necessários.

Segundo dados do Dossiê ‘Assassinatos e Violência contra Travestis e Transexuais Brasileiras’ elaborado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2023, houve um aumento de mais de 10% nos casos de assassinatos de pessoas trans em relação a 2022, com 155 mortes, sendo 145 casos de assassinatos e 10 casos de suicídio. A mais jovem trans assassinada tinha 13 anos.

O Brasil conta com uma Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, desde 2011, e com um processo transexualizador no Sistema Único de Saúde que permite o acesso a procedimentos com hormonização, cirurgias de modificação corporal e genital, assim como acompanhamento multiprofissional.