6 de setembro de 2018 – A preparação e a resposta a pandemias de influenza, como a que ocorreu em 2009, foram temas abordados nesta quarta-feira (5), último dia do 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (Medtrop). Em 2018, completaram-se 100 anos da maior crise de saúde pública da história moderna: a gripe espanhola, que infectou cerca de um terço da população mundial em 1918.
Um século depois, o conhecimento e as tecnologias para lidar com tais pandemias são sofisticados e podem ajudar não só os países a responderem a elas, mas também a diminuírem seus efeitos devastadores – como é o caso das vacinas. Roberta Andraghetti, assessora regional em Regulamento Sanitário Internacional (RSI) da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), apresentou algumas ferramentas disponíveis para uso dos Estados Membros.
Segundo Roberta, o Programa Mundial de Influenza da OMS, que existe há 70 anos, tem como principais componentes a resposta e a vigilância a essa enfermidade. A iniciativa conta atualmente com uma rede de 144 laboratórios nacionais, seis centros colaboradores, quatro laboratórios reguladores essenciais, 13 laboratórios de referência, um centro colaborador para vigilância epidemiológica e outro para estudos ecológicos.
A vigilância em nível mundial, de acordo com Roberta, é realizada com base em fatores epidemiológicos e virológicos. A vigilância virológica é feita por meio da plataforma online FluNet, que gera tabelas, gráficos e mapas com dados em nível de país que são atualizados semanalmente. Essa ferramenta também serve para rastrear o movimento dos vírus da influenza globalmente e interpretar dados epidemiológicos.
Já a vigilância epidemiológica se dá por meio da plataforma FluMart, desenvolvida para facilitar a troca de dados, harmonização, consolidação e armazenamento de dados relacionados à influenza. “Os produtos gerados nessa ferramenta trazem mapas com análises e relatórios com a distribuição dos vírus gripais e dos casos, entre outros. Além disso, é possível comparar o estado de ‘virabilidade’ da influenza em diferentes partes do mundo e visualizar a distribuição de indicadores qualitativos, como a geografia da atividade viral, impactos, tendências e intensidade”, afirmou Roberta.
O conceito de avaliação da gravidade e da resposta ante a influenza pandêmica ou não pandêmica “resulta da pandemia de gripe H1N1 em 2009, pois antes se utilizavam parâmetros de visualização em nível de distribuição epidemiológica, mas não em nível de gravidade do fenômeno que estávamos observando”, alegou Roberta. A assessora regional afirmou também que a definição da gravidade de uma pandemia é estabelecida em função de três indicadores, sendo eles a transmissibilidade do vírus (o número de pessoas doentes), a gravidade da doença e seu impacto nos sistemas de atenção à saúde e na sociedade em geral.
Outra ferramenta apresentada é o Pandemic Influenza Preparedness Framework (PIP), que tem como principal objetivo criar um sistema para “melhorar e fortalecer o intercâmbio de vírus gripais com potencial pandêmico no ser humano e conseguir com que os países que necessitam de vacinas e medicamentos para salvar vidas tenham um acesso mais previsível, eficiente e equitativo a elas em futuras pandemias”. Dessa forma, o componente propicia que os Estados Membros, o setor industrial, outros setores e a OMS se dediquem de forma conjunta a pôr em prática uma estratégia mundial de preparação e resposta ante a uma pandemia de influenza.
Influenza no Brasil
Walquiria Aparecida Ferreira de Almeida, técnica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde do Brasil, afirmou que a pandemia de 2009 foi um marco importante para o aprimoramento da vigilância no país. “Precisamos conhecer os vírus da influenza e o comportamento da doença. Temos que lembrar que eles podem dizimar populações”, pontuou. Um dos desafios sublinhados por ela é conseguir uma maior adesão nas campanhas de vacinação de massa. “Toda a população está exposta, então as medidas preventivas são extremamente importantes”, complementou.
Nancy Bellei, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), falou sobre a droga utilizada para influenza atualmente no Brasil, o oseltamivir, e sobre os medicamentos que estão em processo de desenvolvimento e testagem e que, em breve, devem estar disponíveis como outras opções de tratamento.
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