Bicicletas no ambiente de trabalho são forma de promover saúde dos funcionários, preservar meio ambiente e melhorar o trânsito

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21 de agosto de 2017 – Quando Milvo Rossarola chegou à Representação da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) em Brasília, ficou surpreso ao encontrar um bicicletário completo à disposição dos funcionários. O ciclista e representante da organização não-governamental Bike Anjo impressionou-se ainda mais quando lhe disseram que poderia estacionar seu equipamento no local. “Essas iniciativas ainda são tímidas e (as instituições e empresas) ainda não descobriram que trabalhar a mobilidade é pensar na saúde do funcionário. Para mim, a OPAS está à frente, pois construiu um sistema prático e não burocrático”, afirma.

Em junho de 2014, a Organização implementou um projeto que disponibiliza gratuitamente aos seus cerca de 200 colaboradores 12 bicicletas: duas dobráveis elétricas, sete dobráveis manuais e três de passeio. Mais do que uma forma de lazer, como ressaltou Rossarola, a oferta de bicicletas no ambiente de trabalho pode ser uma estratégia para mobilizar os funcionários a adotarem hábitos benéficos ao meio ambiente e à própria saúde.

Seu uso como meio de transporte gera atividades físicas regulares que previnem diversas doenças crônicas não-transmissíveis, como hipertensão e diabetes, e o bem-estar físico e mental dos funcionários. Além disso, esse tipo de atividade reduz a quantidade de veículos no trânsito e as emissões de partículas nocivas à saúde, além de estimular o uso do espaço público.

Colocando essa ideia em prática

Victor Pavarino, consultor em segurança no trânsito da OPAS/OMS, foi uma das pessoas envolvidas no desenho e na implementação da iniciativa. “Começamos a discutir a ideia em 2013, buscando relacionar dois temas importantes: a mobilidade segura e sustentável e a promoção da saúde”, recorda. Em um primeiro momento, o organismo internacional entrou em contato com empresas especializadas em aluguel de bicicletas, com o intuito de instalar uma estação em seu terreno. Após o processo de amadurecimento da ideia, no entanto, chegou-se à conclusão de que seria mais simples desenvolver o projeto internamente, com o auxílio dos próprios especialistas da área e também dos ciclistas aficionados que trabalham na representação.

Na primeira fase de desenvolvimento do projeto, em meados de 2013, a OPAS/OMS elaborou uma pesquisa online para definir as opiniões dos funcionários em relação às bicicletas, seus perfis e hábitos de mobilidade cotidiana, bem como os custos econômicos associados ao deslocamento individual para o trabalho. Com esses dados, foi possível fazer um levantamento dos custos e dos equipamentos mais adequados para a equipe.

Rossarola ressalta que as instituições e empresas interessadas em implementar um projeto como esse ‘não precisam inventar a roda’. “Não é preciso fazer nada mirabolante. Na verdade é bem simples: criar um bicicletário, colocar bicicletas à disposição e incentivar os funcionários a utilizarem os equipamentos a princípio como lazer e, depois, como meio de transporte.”

O feedback da equipe é importante, mas a demanda tem que ser induzida

É importante pontuar, segundo Pavarino, que a pesquisa junto aos funcionários ajuda na compreensão das necessidades em função dos perfis e também auxilia no planejamento das ações, mas não deve ser determinante para a decisão de implementar ou não o projeto. "Existe um conceito chamado 'demanda induzida', que é basicamente ofertar um produto que encoraja as pessoas a procurarem mais aquilo que é ofertado. Quando facilitamos os meios, há um incentivo pela demanda”, explica. Justamente por isso, o bicicletário está estrategicamente posicionado no estacionamento interno da Organização, bem na entrada do edifício, onde há um grande movimento de colaboradores.

Experimentando novas formas de locomoção

Oferecer bicicletas no ambiente de trabalho é uma forma de incentivar os colaboradores a experimentar um novo meio de locomoção, que vai trazer benefícios para a saúde e para o meio ambiente. “Dessa forma, incentivamos a equipe a testar as bicicletas antes de comprá-las. É sempre interessante experimentar um produto antes de adquiri-lo, assim não há riscos de ele acabar encostado, sem nenhuma utilidade”, pontua Pavarino.

Foi exatamente o que aconteceu com Melissa Figueiredo, secretária da Organização no Brasil. Antes de o projeto ser colocado em prática, ela costumava pedalar apenas aos fins de semana. “Quando comecei a trabalhar na OPAS/OMS, há quase dois anos, resolvi fazer da bike um meio de transporte”, conta. Pouco tempo depois de adotar esse novo estilo de vida, Melissa resolveu comprar seu próprio equipamento e começou a usá-lo como principal meio de locomoção para o trabalho. Em pouco tempo, ela percebeu que sua saúde e qualidade de vida começaram a melhorar. “A minha disposição aumentou. Sinto que tenho mais energia, mais fôlego e também fico menos estressada. Pedalar também ajudou a controlar os meus níveis de colesterol”, diz a funcionária.

Construindo uma política de uso

Durante a concepção do projeto, várias dúvidas surgiram. “Neste momento, nos confrontamos com todos os aspectos burocráticos”, lembra Pavarino. Quando adquiridas, as bicicletas se tornariam parte do patrimônio do organismo internacional e estariam sujeitas às mesmas normas que regem o uso dos outros equipamentos e materiais da Organização.

“No entanto, a bicicleta é diferente de um notebook ou de um celular, que a pessoa precisa devolver no mesmo estado em que pegou emprestado”, pondera o consultor. A partir dessa reflexão, percebeu-se que era preciso ‘pensar fora da caixa’. “Andar de bicicleta implica em gastar seus componentes e às vezes furar um pneu, entre outras várias coisas”, esclarece.

A equipe da OPAS/OMS envolvida no desenho do projeto decidiu simplificar todo o processo para evitar que a burocracia desestimulasse os funcionários a usarem as bicicletas. “A manutenção de uma bicicleta é relativamente barata. Com todas essas questões, tivemos que enxergar o custo-benefício da situação, então, na política de uso, descomplicamos e retiramos o máximo de restrições que poderiam amedrontar ou desanimar os colaboradores a usarem as bicicletas”.

Para poder usar a bicicleta, o colaborador precisa apenas preencher um cadastro interno, que permite o controle das retiradas e devoluções. O usuário pode permanecer até 24 horas com o equipamento, sendo permitido renovar o empréstimo caso não haja mais reservas. Também é possível alugar as bikes para o fim de semana: a retirada é feita às sextas-feiras e as devoluções, às segundas-feiras. No momento da devolução, a equipe da OPAS/OMS responsável pela manutenção das bicicletas verifica se há algum dano ou avaria, que precisa ser registrado.

Garantindo um trajeto mais seguro para os ciclistas

Todas as bicicletas disponibilizadas possuem os equipamentos e acessórios de segurança previstos pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Entre eles estão a sinalização refletiva dianteira e traseira e o espelho retrovisor, além de um suporte para garrafa. No momento da reserva da bicicleta, o colaborador recebe também um colete refletivo e um capacete (que não está previsto atualmente no CTB, mas é recomendado pela OPAS/OMS).

De acordo com Rossarola, é possível utilizar a bicicleta no dia a dia de forma segura e responsável. “É fundamental conhecer as regras de trânsito e também o trajeto cotidiano e seus obstáculos. Recomendo que se faça a primeira viagem com calma, mas acima de tudo, mostrando aos veículos que o ciclista também tem direito à faixa, direito de estar ali ocupando pelo menos um terço dela. É importante mostrar aos veículos o que você está fazendo, se vai virar à esquerda ou à direita. É fundamental que você mostre suas ações”, aconselha o ciclista.