18 de setembro de 2018 – Embora menos pessoas tenham adoecido e morrido por tuberculose (TB) no ano passado, os países ainda não estão fazendo o suficiente para acabar com a doença até 2030, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os esforços globais evitaram cerca de 54 milhões de mortes por essa causa desde o ano 2000, mas a tuberculose continua a ser a doença infecciosa mais letal do mundo.
O Relatório Mundial da Tuberculose 2018, da OMS, divulgado nesta terça-feira (18), em Nova York (Estados Unidos), pede uma mobilização sem precedentes de compromissos nacionais e internacionais. A Organização pede que os líderes políticos reunidos na próxima semana para a primeira reunião de alto nível das Nações Unidas sobre tuberculose tomem medidas decisivas, com base nos recentes movimentos dos líderes da Índia, Federação Russa, Ruanda e África do Sul. Quase 50 chefes de Estado e de governo devem participar da reunião.
“Nós nunca vimos tal atenção política de alto nível e compreensão do que o mundo precisa fazer para acabar com a tuberculose e a tuberculose resistente a medicamentos”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Devemos aproveitar este novo momento e agir juntos para acabar com essa terrível doença”.
Para atingir a meta global de acabar com a tuberculose até 2030, os países precisam urgentemente acelerar sua resposta – inclusive aumentando o financiamento nacional e internacional para combater a doença. O relatório da OMS fornece uma visão geral do estado da epidemia e dos desafios e oportunidades que os países enfrentam na resposta.
Status da epidemia de TB
- Em geral, as mortes por tuberculose diminuíram ao longo do ano passado. Em 2017, houve 1,6 milhão de mortes (incluindo entre 300 mil pessoas HIV positivas). Desde 2000, uma redução de 44% nas mortes por tuberculose ocorreu entre as pessoas com HIV em comparação com uma diminuição de 29% entre as pessoas HIV-negativas;
- A nível global, cerca de 10 milhões de pessoas desenvolveram TB em 2017. O número de novos casos está caindo 2% ao ano, embora tenham ocorrido reduções mais rápidas na Europa (5% ao ano) e na África (4% ao ano) entre 2013 e 2017;
- Alguns países estão se movendo mais rápido do que outros – como evidenciado na África Austral, com declínios anuais (em novos casos) de 4% a 8% em países como Lesoto, Swazilândia, Namíbia, África do Sul, Zâmbia e Zimbábue, graças a melhor prevenção e cuidados de tuberculose e HIV. Na Federação Russa, o compromisso político de alto nível e os esforços intensificados de TB levaram a declínios mais rápidos nos casos (5% ao ano) e mortes (13% ao ano).
- A TB resistente a medicamentos continua a ser uma crise global de saúde pública: em 2017, estima-se que 558 mil pessoas tenham desenvolvido uma doença resistente a pelo menos a rifampicina – o fármaco de TB de primeira linha mais eficaz. A grande maioria dessas pessoas tinha TB multirresistente (MDR-TB), isto é, resistência combinada à rifampicina e à isoniazida (outro medicamento chave de primeira linha para TB).
- A OMS estima que um quarto da população mundial tem infecção por tuberculose.
Resposta à TB: desafios e oportunidades
Acesso ao cuidado e prevenção:
- Subnotificação e sub-diagnóstico de casos de TB continuam sendo um grande desafio. Das 10 milhões de pessoas que ficaram doentes com TB em 2017, apenas 6,4 milhões foram oficialmente registradas pelos sistemas de notificação ou de vigilância nacionais, deixando 3,6 milhões de pessoas não diagnosticadas, ou detectados e não registradas. Dez países foram responsáveis por 80% dessa lacuna, com a Índia, Indonésia e Nigéria no topo da lista. Menos de metade das estimadas um milhão de crianças com TB foram registradas em 2017 – uma lacuna muito maior na detecção do que em adultos.
- A cobertura de tratamento está em 64% e deve aumentar para pelo menos 90% até 2025 para atingir as metas de TB.
- Para melhorar urgentemente as taxas de detecção, diagnóstico e tratamento, a OMS, a Stop TB Partnership e o Global Fund lançaram a nova iniciativa em 2018, Find. Treat. All. #EndTB, que fixou o objetivo de prestar cuidados de qualidade para 40 milhões de pessoas com TB de 2018 a 2022.
- Apenas cerca de metade das estimadas 920 mil pessoas com TB associada ao HIV foram registradas em 2017. Dessas, 84% estavam em terapia antirretroviral. A maioria das lacunas no diagnóstico e tratamento ocorreu na Região Africana da OMS, onde a carga de TB associada ao HIV é mais alta. Apenas uma em cada quatro pessoas com MDR-TB foi registrada como tendo recebido tratamento com um regime de segunda linha. A China e a Índia, sozinhas, abrigavam 40% dos pacientes que necessitavam de tratamento para a MDR-TB, mas não registraram o recebimento. A nível global, o sucesso do tratamento de MDR-TB permanece baixo, em 55%, muitas vezes devido à toxicidade dos medicamentos, tornando impossível para os pacientes permanecerem em tratamento. Há um mês, a OMS emitiu um comunicado rápido (Rapid Communication) sobre as principais mudanças na TB resistente aos medicamentos, com base nas mais recentes evidências científicas. Essas mudanças devem resultar em melhores resultados de tratamento e mais vidas salvas. A OMS já está trabalhando com países e parceiros para implementar essas mudanças.
- A Organização prevê que pelo menos 30 milhões de pessoas devem poder ter acesso ao tratamento preventivo de TB entre 2018 e 2022, com base nas novas orientações da OMS. Embora o tratamento preventivo para tuberculose latente esteja se expandindo, a maioria das pessoas que têm necessidade ainda não está tendo acesso aos cuidados. A OMS recomenda enfaticamente o tratamento preventivo para pessoas vivendo com HIV e crianças menores de cinco anos que vivem em domicílios afetados por TB. A OMS emitiu novas orientações relacionadas em 2018, para facilitar um maior acesso a serviços preventivos para aqueles que precisam.
Financiamento para implementação e pesquisa
- Um dos desafios mais urgentes é aumentar o financiamento. Em 2018, os investimentos em prevenção e atenção à tuberculose em países de renda baixa e média caíram US$ 3,5 bilhões abaixo do necessário. O relatório sinaliza que, sem um aumento no financiamento, a diferença anual aumentará para US$ 5,4 bilhões em 2020 e para pelo menos US$ 6,1 bilhões em 2022. São necessários mais US$ 1,3 bilhão por ano para acelerar o desenvolvimento de novas vacinas, diagnósticos e medicamentos.
“É inaceitável que milhões de pessoas morram e muitas mais sofram diariamente com essa doença evitável e curável”, disse Tereza Kasaeva, diretora do Programa Mundial de Tuberculose da OMS. “Precisamos unir forças para erradicar essa doença que tem um impacto social e econômico devastador sobre aqueles que são ‘deixados para trás’, cujos direitos humanos e dignidade são limitados, e que lutam para ter acesso aos cuidados. O tempo para a ação é agora”.
A OMS está orientando ações nacionais e globais para alcançar todos com cuidado, incluindo aqueles com TB, através de uma agenda de saúde transformadora e impulsionando para a saúde universal. Isso inclui engajamento proativo com a sociedade civil e outras partes interessadas importantes para ajudar conjuntamente os países a alcançarem o fim da TB.
Oportunidade histórica para colocar a resposta à TB nos trilhos
O Encontro de Alto Nível da ONU, na próxima semana, se dará em um momento crítico. Acabar com a epidemia de tuberculose requer ação além do setor de saúde para abordar os fatores de risco e os determinantes da doença. Os compromissos a nível dos Chefes de Estado serão essenciais para galvanizar a ação multissetorial.
“Temos de nos certificar de que esse relatório e os compromissos que ouviremos na próxima semana por parte dos líderes dos países na Reunião de Alto Nível sobre TB se traduzam em ação”, disse Eric Goosby, enviado especial da ONU sobre tuberculose. “Igualmente importante, devemos garantir que vamos responsabilizar nossos líderes pelas ações que prometem tomar. E devemos nos responsabilizar por manter a pressão”.
Em junho deste ano, uma audiência interativa com a sociedade civil foi organizada pelo Gabinete do Presidente da Assembleia Geral, com o apoio da OMS, a Stop TB Partnership, sociedade civil e outras partes interessadas como uma etapa preparatória para a reunião de alto nível. A OMS continua a trabalhar em estreita colaboração com o Gabinete do Presidente da Assembleia Geral nos preparativos para a Reunião de Alto Nível em 26 de setembro, com a sociedade civil e os parceiros.