Comunicação popular e comunitária em saúde:  iniciativas brasileiras apoiadas pela OPAS e pela Fiocruz apresentam resultados

divulgação do projeto

Brasília, 17 de março de 2023 – Os resultados do projeto de fortalecimento da comunicação popular e comunitária em saúde no Brasil, promovido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), foram apresentados nesta quinta-feira (16/03), em um seminário virtual.

Intitulada “A pandemia e o território: comunicação comunitária no enfrentamento da COVID-19, demais emergências sanitárias e suas consequências”, a ação – que conta com financiamento do Governo do Canadá – selecionou 15 iniciativas, dentro de 138 inscritas, por meio de uma chamada pública feita no ano passado.

“Quando falamos em comunicação comunitária, estamos muito abertos a compreender as realidades das diferentes localidades do país, as suas características, as suas idiossincrasias e as suas limitações. E é por isso que dialogar com esses públicos é algo muito importante para quem quer trabalhar com saúde”, destacou o coordenador da Assessoria de Comunicação da Fiocruz Brasília, Wagner Vasconcelos, na abertura do Seminário.

No projeto, foram contempladas três propostas de cada região geográfica do Brasil, desenvolvidas por organizações da sociedade civil com o objetivo de reforçar a capacidade de resposta dos territórios frente às crises sanitárias e suas consequências sociais, a partir da estruturação e consolidação de estratégias de comunicação em saúde.

Para a vice-diretora da Fiocruz Brasília, Denise Oliveira e Silva, os projetos não só atendem a perspectiva da horizontalidade no falar e se expressar, mas sobretudo na ação de transformar as realidades. “Nós acreditamos que esse é um desafio da sociedade brasileira, porque a relação de uma ciência cidadã é horizontal e se expressa por meio de um processo comunicativo. Estamos felizes e orgulhosos de todo esse trabalho feito pelos nossos comunicadores”.

Além da seleção das propostas, o trabalho envolveu o acompanhamento e monitoramento dos projetos, por meio do contato permanente entre as organizações e assessores sociotécnicos, que contribuíram para a gestão e execução das ações, em um processo contínuo de troca de conhecimentos e aprendizado mútuo.

Foram realizadas sete oficinas de trocas sobre temas transversais às diferentes iniciativas, como produção audiovisual com smartphone, comunicação visual, mídias sociais, podcast, informações falsas/desinformação, vacinas e comunicação de risco. Esses espaços de trocas intensificaram as relações e a conexão entre todos os envolvidos, resultando no início da constituição de uma rede de comunicação em saúde, a nível comunitário.

A representante da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, Socorro Gross, também ressaltou a importância da comunicação entre pares que, mais do que a troca de informações, promove a modificação de condutas e de realidades. “Especialmente quando esse trabalho é feito em articulação com outros entes do SUS (Sistema Único de Saúde brasileiro), como as secretarias municipais, estaduais de saúde e outras instituições que são referência na construção de capacidades”, destacou.

Diversidade

Estima-se que as ações do projeto tenham beneficiado mais de 300 mil pessoas, direta ou indiretamente. Uma característica marcante foi a diversidade, com iniciativas que envolvem povos de terreiro, ciganos, indígenas, negros, migrantes e refugiados, entre outras populações.

A expectativa é que as experiências possam ser levadas para outros territórios, estimulando novos trabalhos nesse campo e fortalecendo a participação social, que é um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS).

Conheça as iniciativas:

  • Associação Comunitária do Sítio Belo Horizonte
    Crato, estado do Ceará

O projeto “Minutos de Mais Saúde nos Territórios: a Rádio Literária Carrapato no combate à desinformação e no fortalecimento da cidadania no território do Crato, CE” tem buscado fomentar a comunicação popular em saúde por meio da consolidação da Rádio Literária Carrapato, com melhoria da infraestrutura, capacitação de voluntários e produção de 12 episódios do podcast Minuto Mais Saúde, transmitido pela rádio web e por caixas de som instaladas em postes em espaços públicos da comunidade.

  • Instituto Conviva / Rede de Migração Unidos no Brasil
    Boa Vista, estado de Roraima

O “Projeto de comunicação para a promoção de campanhas de saúde, estímulo à vacinação, consequências das crises sanitárias produzidas pela Covid-19 e enfrentamento à desinformação e às fake news na comunidade de João de Barro” é realizado por migrantes venezuelanos e tem conduzido uma campanha de estímulo à vacinação e combate a informações falsas e desinformação nas mídias sociais, bem como uma capacitação para que moradores atuem como facilitadores e multiplicadores das ações de comunicação comunitária em saúde.

  • Cooperativa de Trabalho Catarse
    Porto Alegre, estado do Rio Grande do Sul

O projeto “Informar é vacinar! – uma história de fake news contra vacinas e o sistema público de saúde”, do Coletivo Catarse, consiste no  documentário "Informar é Vacinar!", que utiliza como personagens os bonecos de Oswaldo Cruz e Machado de Assis para dialogar sobre vacinas, cobertura vacinal e os efeitos das informações falsas e da COVID-19.

  • Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT)
    Cuiabá, estado do Mato Grosso

O projeto “Juventude Cigana: da invisibilidade à comunicação popular em saúde” consiste na oferta de uma formação online em comunicação popular em saúde para jovens romani brasileiros. Os temas dos encontros virtuais são: a informação e a comunicação no campo da saúde; o que é desinformação e fake news, e como identificá-las; definição e identificação de racismo, anticiganismo, discursos de ódio e violências simbólicas; checagem de informações; uso seguro das redes, midiatização e juventude; produção de conteúdo para as redes e os desafios para a autorregulação.

  • Rede de Notícias da Amazônia (RNA)
    Santarém, estado do Pará

Com o projeto “Comunicando segurança alimentar e saúde na região do Baixo Amazonas”, o objetivo da Rede de Notícias da Amazônia (RNA) é dar visibilidade a iniciativas de promoção da saúde e da segurança alimentar que são desenvolvidas pelas comunidades, de modo que essas ações possam ser não somente reconhecidas, como também replicadas em outros espaços. A proposta consiste em produzir uma série de podcasts sobre o tema e distribuí-la às emissoras associadas e parceiras da Rede, bem como a rádios comunitárias.  A equipe fez o levantamento de ações, como quintais produtivos, produção de fitoterápicos e economia solidária.

  • Centro de Estudos Ironides Rodrigues (CEABIR)
    Niterói, estado do Rio de Janeiro

O projeto “Comunicação comunitária para uma plataforma de direitos à vida digna em territórios populares” se dedica à formação criativa para a geração de processos e produtos de comunicação que fortaleçam a mobilização e o engajamento comunitário, em sua diversidade cultural, nas demandas sociopolíticas por direitos, para a efetivação de uma agenda de acesso à cidadania plena. O projeto se dirige a mulheres negras, cis e transexuais, jovens e adultas, residentes em favelas de Niterói e atuantes em coletivos de direitos e terreiros de umbanda e candomblé.

  • Associação Nacional de Preservação do Patrimônio Bantu (ACBANTU)
    Salvador, estado da Bahia

O projeto existe desde 2020 e, com a seleção na chamada pública, implementou a terceira fase que tem o objetivo de fortalecer as práticas comunicacionais, como forma de resistência aos conflitos, às ameaças à vida, à negação de direitos e à intolerância, a partir das narrativas dos povos e comunidades tradicionais participantes. A proposta envolve formação em comunicação comunitária e produção de conteúdo em saúde na perspectiva dos saberes e fazeres tradicionais.

  • Associação Cultural Nação de Oxalá / Grupo De Leão
    Recife, estado de Pernambuco

O Grupo De Leão se juntou à Associação Cultural Nação de Oxalá para desenvolver o projeto “Rádio Comunitária do Coque: caminhos para a saúde”. Os responsáveis pela proposta têm buscado engajar a comunidade. A partir da chamada pública, organizaram a equipe e montaram a infraestrutura da Rádio, com construção do estúdio e compra de equipamentos.  Na programação da Rádio, os temas de saúde são abordados a partir de uma contextualização social e histórica, com dados, entrevistas com especialistas, enquetes e diálogo com a comunidade.

  • Ação de Mulheres pela Equidade (AME)
    Brasília, Distrito Federal

Com o projeto “Comunicação Positiva: reduzindo o impacto das fake news nas políticas públicas de saúde”, a organização busca formar multiplicadores em comunicação para promoção da saúde, a partir de metodologias ativas de aprendizagem e estratégias de educação popular em saúde. Foi efetivada também parceria com a Universidade de Brasília (UnB), com a qual a AME elaborou o curso “Comunicação Positiva: saúde em pauta”. Ao final, os jovens deverão criar e executar uma atividade em seus territórios, com foco no aumento das coberturas vacinais, colocando em prática os aprendizados da formação.

  • Cooperativa de Trabalho em Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão (EITA) / Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
    Iporã, estado do Paraná

O projeto “O negócio tóxico do agro” consiste em uma estratégia de divulgação dos resultados da pesquisa “Agrotóxicos e violações de direitos humanos no Brasil: denúncias, fiscalização e acesso à justiça”, em que foram estudados 30 casos emblemáticos de violações de direitos em comunidades expostas aos agrotóxicos. A pesquisa traz recomendações sobre como denunciar as intoxicações e contaminações. Para fazer chegar essa informação ao máximo de territórios do campo, floresta e águas, têm sido produzidos podcasts sistematizando pontos estratégicos da pesquisa, sobretudo para populações camponesas, ribeirinhas, indígenas e quilombolas.

  • Associação Experimental de Mídia Comunitária Bem TV
    Niterói, estado do Rio de Janeiro

O projeto “Jovens comunicadores: comunicação popular em favelas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro” busca reforçar as iniciativas do coletivo Bem TV, em especial no que se refere à formação de jovens das comunidades, com idades entre 16 e 29 anos, em temas de saúde, prevenção da COVID-19, direitos humanos, proteção social, enfrentamento das fake news, comunicação e tecnologias da informação. A organização está em processo formativo de 115 jovens, que já participaram de debates sobre assistência social e democracia, encontros sobre saúde e cultura, entre outras atividades.

  • Movimento de Defesa dos Direitos dos Moradores de Favelas de Santo André (MDDF)
    Santo André, estado de São Paulo

Postagens nas mídias sociais, boletins virtuais e lives das comunidades estão entre as ações desenvolvidas no âmbito do projeto “Comitê Popular de Saúde: informação é o melhor remédio”. A vacinação está entre os principais assuntos abordados nos materiais. Outros temas são: prevenção de doenças como COVID-19, sarampo, poliomielite, tuberculose e hepatite. As atividades realizadas são divulgadas em listas de transmissão do WhatsApp e o coletivo busca incentivar a interação com o público. Para aumentar esse intercâmbio, além das ações virtuais, foram planejadas estratégias presenciais – como fixação de cartazes e faixas, distribuição de folders e uso de carro de som.

  • Instituto Cultural Filhos de Aruanda
    Rio Grande, Rio Grande do Sul

O projeto “Caravana e podcast saúde e cultura” consiste na realização de seis programas, três intervenções culturais e três oficinas. Com participação de representantes da Secretaria Municipal de Saúde, do Conselho Municipal de Saúde e da comunidade, os episódios do podcast – divulgados nas mídias sociais – abordam temas como saúde mental, saúde da população negra, vacinas, informações falsas e desinformação, plantas medicinas e o SUS. As intervenções culturais e as oficinas ocorrem em locais de maior vulnerabilidade social do município, com distribuição de material gráfico sobre a importância das vacinas e a higienização correta das mãos. As oficinas, com a temática cozinha fácil e barata, têm como objetivo promover a segurança alimentar.

  • Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge
    Alto Paraíso de Goiás, estado de Goiás

O projeto “Nas Ondas do Rádio: saúde pública ao alcance de todos” tem duas frentes principais de atuação: produção e difusão de conteúdo de comunicação em saúde pela Rádio Comunitária São Jorge, localizada na Chapada dos Veadeiros; e formação em rádio comunitária para adolescentes da localidade. Também estão em produção materiais sobre direitos reprodutivos, saúde comunitária, comunicação comunitária, importância da vacinação, COVID-19, bem-estar e farmácia do cerrado. A essas ações soma-se uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde em que são veiculadas notícias e campanhas sobre saúde mental, Programa Saúde da Família, planejamento familiar, doenças crônicas e infecciosas, entre outras temáticas de interesse local.

  • Coletivo de Comunicação Popular Tapajós de Fato (TdF)
    Santarém, estado do Pará

O projeto “Comunicação Popular e Saúde: desconstruindo mitos nos territórios do Tapajós e Baixo Amazonas” tem a proposta de tornar acessíveis para as populações tradicionais da Amazônia informações qualificadas sobre a importância da vacinação e do Sistema Único de Saúde (SUS). Para tanto, o coletivo está produzindo diversos conteúdos, com foco na realidade e no cotidiano dos territórios da região. Entre eles, está uma série especial no podcast Tapajós de Fato, com temas como: fake news sobre vacinas; como a desinformação contribui para a falta de procura pelas vacinas; a importância da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para dar credibilidade às vacinas; como é ser profissional da saúde na Amazônia, as dificuldades de acesso para a população do interior e os esforços para levar as vacinais aos lugares mais distantes; como as vacinas evitam pandemias; e como a vacinação eliminou doenças no Brasil.