Níveis mundiais de imunização estagnaram em 2023, deixando muitas crianças desprotegidas

Criança recebe vacina contra a pólio

Dados recentes revelam que quase 3 em cada 4 bebês vivem em países onde a baixa cobertura vacinal está causando surtos de sarampo

15 de julho de 2024 | Genebra/Nova York - A cobertura mundial de imunização infantil estagnou em 2023, deixando 2,7 milhões de crianças sem vacinação ou com vacinação insuficiente em comparação com os níveis pré-pandêmicos em 2019, de acordo com dados publicados hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo UNICEF.

As estimativas mais recentes da OMS e do UNICEF sobre a cobertura nacional de imunização - que fornecem o maior e mais abrangente conjunto de dados do mundo sobre tendências de imunização para vacinas contra 14 doenças - ressaltam a necessidade de esforços contínuos de recuperação e fortalecimento do sistema.

"As últimas tendências demonstram que muitas crianças em muitos países não estão sendo vacinadas", disse a diretora Executiva do UNICEF, Catherine Russell. "Fechar as lacunas de imunização requer um esforço global, com governos, parceiros e líderes locais investindo em atenção primária de saúde e trabalhadores comunitários para garantir que todas as crianças sejam vacinadas e que os cuidados de saúde em geral sejam fortalecidos."

De acordo com o levantamento, o número de crianças que receberam três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP) em 2023 - um marcador importante para a cobertura mundial de imunização - ficou em 84% (108 milhões). No entanto, o número de crianças que não receberam uma única dose da vacina aumentou de 13,9 milhões em 2022 para 14,5 milhões em 2023.

Mais da metade das crianças não vacinadas vive em 31 países com ambientes frágeis, afetados por conflitos e situações de vulnerabilidade. Esses contextos deixam as crianças mais suscetíveis a doenças evitáveis devido a interrupções e falta de acesso à segurança, nutrição e serviços de saúde.

Além disso, 6,5 milhões de crianças não completaram a terceira dose da vacina DTP, que é necessária para obter proteção contra a doença nos bebês e na primeira infância.

Essas tendências, que mostram que a cobertura mundial de imunização permaneceu praticamente inalterada desde 2022 e ainda não retornou aos níveis de 2019, refletem os desafios contínuos referentes a interrupções nos serviços de saúde, desafios logísticos, hesitação vacinal e desigualdades no acesso aos serviços.

A baixa cobertura vacinal está causando surtos de sarampo

Os dados mostram ainda que as taxas de vacinação contra o sarampo estagnaram, deixando quase 35 milhões de crianças sem proteção ou com proteção apenas parcial.

Em 2023, apenas 83% das crianças no mundo receberam sua primeira dose da vacina contra o sarampo por meio de serviços de saúde de rotina, o número de crianças que receberam a segunda dose aumentou modestamente em relação ao ano anterior, chegando a 74% das crianças. Esses números estão aquém da cobertura de 95% necessária para prevenir surtos, evitar doenças e mortes desnecessárias e atingir as metas de eliminação do sarampo.

Nos últimos cinco anos, surtos de sarampo atingiram 103 países - onde vivem cerca de três quartos dos bebês do mundo. A baixa cobertura vacinal (80% ou menos) foi um fator importante. Em contrapartida, 91 países com forte cobertura vacinal contra o sarampo não notificaram surtos.

"Os surtos de sarampo expõem as lacunas na imunização e atingem primeiro os mais vulneráveis", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. "Esse é um problema solucionável. A vacina contra o sarampo é barata e pode ser administrada mesmo nos lugares mais difíceis. A OMS está empenhada em trabalhar com todos os nossos parceiros para ajudar os países a fechar essas lacunas e proteger as crianças em maior risco o mais rápido possível".

Progresso na cobertura de vacinação nas Américas

O relatório mostra que, em 2023, a região das Américas continuou os esforços para interromper o declínio contínuo da cobertura de vacinação, que começou em 2010 e foi exacerbado pela pandemia da COVID-19.

Jarbas Barbosa, diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que funciona também como escritório regional da OMS para as Américas, reconheceu o progresso da região: "A região das Américas mostra resultados positivos, sem dúvida devido aos esforços dos profissionais de saúde nos países, aos investimentos feitos, ao compromisso político e à população responsável que reconhece a importância da vacinação".

O diretor da OPAS destacou que as Américas são a única região da OMS a exceder os níveis de vacinação pré-pandemia de 2019, "indicando uma aceleração considerável na recuperação". Mas ele alertou que alguns países ainda estão atrasados. Esforços contínuos são necessários para "mais uma vez alcançar a cobertura de vacinação que historicamente nos colocou no topo do ranking mundial".

Nas Américas, em comparação com 2022, a cobertura da primeira dose de vacinas contendo DTP aumentou de 90% para 91% em 2023, enquanto a cobertura da terceira dose aumentou de 83% para 86%. Embora encorajadores, esses resultados ainda deixam 1 em cada 10 crianças menores de 1 ano nas Américas sem proteção. A primeira dose da vacina contra sarampo alcançou uma taxa de cobertura de 85%, em comparação com 83% em 2022, e o risco de surtos de doenças evitáveis por vacinação em muitas comunidades continua alto.

"A OPAS continua comprometida com o fortalecimento dos Programas Nacionais de Imunização", disse Jarbas Barbosa, lembrando aos Estados Membros que o investimento em imunização salva vidas e é um ganho para toda a sociedade, "com economia nos custos de saúde, melhoria da produtividade, educação, turismo e outros indicadores de desenvolvimento".

Cobertura mundial da vacina contra o HPV entre meninas aumentou substancialmente

Os dados também destacam, de forma positiva, que proporção de meninas e adolescentes no mundo que receberam pelo menos uma dose da vacina contra o papilomavírus humano (HPV), que oferece proteção contra o câncer do colo do útero, aumentou de 20% em 2022 para 27% em 2023. Isso foi impulsionado principalmente pela forte adesão de países apoiados pela Gavi, como Bangladesh, Indonésia e Nigéria. O uso do esquema de dose única da vacina contra o HPV também ajudou a aumentar a cobertura vacinal.

"A vacina contra o HPV é uma das vacinas de maior impacto no portfólio da Gavi, e é incrivelmente animador o fato de que agora ela está alcançando mais meninas do que nunca", disse Sania Nishtar, CEO da Gavi, a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização. "Com as vacinas agora disponíveis para mais de 50% das meninas elegíveis nos países africanos, temos muito trabalho a ser feito, mas hoje podemos ver que é um caminho muito claro para a eliminação dessa terrível doença". 

No entanto, a cobertura da vacina contra o HPV ainda está bem abaixo da meta de 90% para eliminar o câncer do colo do útero como um problema de saúde pública, atingindo apenas 56% das meninas adolescentes em países de alta renda e 23% em países de baixa e média renda.

Uma pesquisa recente com mais de 400 mil usuários da plataforma digital do UNICEF para jovens, o U-Report, revelou que mais de 75% não sabem ou não têm certeza do que é o HPV, ressaltando a necessidade de melhor acesso à vacina e conscientização do público. Quando informados sobre o vírus, sua ligação com os cânceres e a existência de uma vacina, 52% dos entrevistados indicaram que desejam receber a vacina contra o HPV, mas são impedidos por restrições financeiras (41%) e falta de disponibilidade (34%).

É necessária uma ação local robusta para que as vacinas cheguem a todos, em todos os lugares

Embora tenha sido registrado um progresso modesto em algumas regiões, incluindo a região africana e os países de baixa renda, as estimativas mais recentes destacam a necessidade de acelerar os esforços para atingir as metas da Agenda de Imunização 2030 (IA2030), que prevê uma cobertura de 90% e a redução do número de crianças com "doses zero" no mundo para menos de 6,5 milhões até 2030.

O Conselho de Parcerias da IA2030 pede um maior investimento em inovação e colaboração contínua. O conselho também recomenda que os parceiros intensifiquem seu apoio à liderança dos países para melhorar a imunização de rotina como parte de seus programas integrados de atenção primária de saúde, apoiados por um sólido apoio político, liderança comunitária e financiamento sustentável.  

Links

Acesse o conjunto de dados da OMS (em inglês): 

Quadro de dados mundial
Perfis de países
Recursos adicionais

Acesse o conjunto de dados do UNICEF (em inglês):

Página geral
Conjunto de dados completos
Visualização de dados
Visualização de dados regionais
Perfis de países 


Notas para os editores

Sobre os dados

Com base em dados notificados pelos países, as estimativas da OMS e do UNICEF sobre a cobertura nacional de imunização (WUENIC) fornecem o maior e mais abrangente conjunto de dados do mundo sobre tendências de imunização para vacinas contra 14 doenças administradas por meio de sistemas regulares de saúde - normalmente em clínicas, centros comunitários, serviços de extensão ou visitas de profissionais de saúde. Para 2023, foram fornecidos dados de 185 países.

Sobre a Agenda de Imunização 2030 (IA2030)

A IA2030 é uma estratégia global endossada pela Assembleia Mundial da Saúde com o objetivo de garantir que todos, em todos os lugares e em todas as idades, se beneficiem das vacinas para melhorar a saúde e o bem-estar até 2030. Ela se concentra em aumentar a cobertura vacinal, a equidade, a sustentabilidade e a preparação para pandemias, ao mesmo tempo em que promove a imunização ao longo da vida e integra a imunização a outros serviços de saúde.