Instituto Todos pela Saúde, OPAS/OMS, Ministério da Saúde do Brasil e parceiros promovem oficina sobre vigilância em morcegos como estratégia de detecção de patógenos

mesa de abertura
OPAS/OMS/Karina Zambrana
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Brasília, 11 de fevereiro de 2025 – O Instituto Todos pela Saúde (ITPS) e a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), com apoio do Ministério da Saúde do Brasil e de parceiros, promoveu nos dias 10 e 11 de fevereiro, em Brasília, uma oficina técnica para especialistas de instituições nacionais e internacionais sobre o uso da vigilância em morcegos como estratégia de detecção de patógenos com potencial epidêmico e pandêmico.

O evento contou com a participação de especialistas, parceiros técnicos e profissionais de saúde pública, saúde animal e meio ambiente que desenvolvem atividades de vigilância e pesquisa operacional sobre patógenos zoonóticos emergentes com importância em saúde pública no país. “Estamos gratos pela oportunidade de reunir alguns dos principais cientistas do Brasil na área de Uma Só Saúde, doenças zoonóticas emergentes, ecologia, virologia, vigilância e ciências laboratoriais para discutir a vigilância de doenças zoonóticas com potencial epidêmico e pandêmico, com foco em morcegos. Esperamos que este evento seja uma agenda proveitosa e que informe o Ministério da Saúde e o SUS em suas tomadas de decisão com relação às prioridades de vigilância”, afirmou Alex Rosewell, coordenador de Emergências, Evidência e Inteligência em Saúde do escritório da OPAS/OMS no Brasil. 

A vigilância de patógenos zoonóticos emergentes é um componente essencial para a detecção oportuna de vírus com potencial pandêmico, especialmente em cenários urbanos. Maria Van Kerkhove, diretora do Departamento de Gestão de Ameaças Epidêmicas e Pandêmicas da OMS, ressaltou que morcegos desempenham um papel crucial na dinâmica de transmissão de vários vírus zoonóticos, incluindo os coronavírus. “As lições dos últimos anos, em particular a pandemia de COVID-19, reforçaram mais uma vez a urgência de avançar na abordagem de Uma Só Saúde, unindo saúde humana, animal e ambiental para melhorar a resposta de vigilância de doenças. Estamos reunidos hoje como cientistas, pesquisadores, profissionais de saúde pública e formuladores de políticas porque compartilhamos uma responsabilidade comum, fortalecer a preparação global e regional contra ameaças emergentes de doenças infecciosas”, enfatizou. 

Sylvain Aldighieri, diretor do Departamento de Prevenção, Controle e Eliminação de Doenças Transmissíveis da OPAS

Considerando o contexto do fortalecimento de Uma Só Saúde, é necessário avaliar estratégias complementares de vigilância para ampliar a capacidade de detecção e monitoramento de zoonoses com potencial de causar epidemias e pandemias. “Todas as novas ferramentas, incluindo a metagenômica, nos ajudariam a fazer uma melhor caracterização do ecossistema e a mapear os patógenos que temos nesses ecossistemas, prevendo um potencial transbordamento (spillover)”, disse Sylvain Aldighieri, diretor do Departamento de Prevenção, Controle e Eliminação de Doenças Transmissíveis da OPAS. De acordo com Aldighieri, esse mapeamento também deve ser feito em áreas urbanas, não apenas em ambientes silvestres. “No caso dos morcegos, temos diferentes espécies que poderiam perfeitamente viver em diferentes partes do ecossistema, incluindo nas áreas entre o ecossistema urbano, suburbano e silvestre”. 

Em 2024, a Divisão de Vigilância de Zoonoses (DVZ) de São Paulo, em parceria com a OPAS e outras instituições, utilizou a metagenômica como ferramenta para estudar o viroma de morcegos capturados em ambiente urbano. Esta iniciativa explorou metodologias de sequenciamento de alta eficiência para identificar possíveis vírus com potencial epidêmico ou pandêmico. “Sabemos o quanto é complexo trabalhar com a captura de morcegos tanto na área rural, quanto na área urbana. Temos um grande elemento para trabalhar e temos que buscar formas de nos proteger”, afirmou Fernando Avendanho, assessor técnico do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS). Avendanho ressaltou que a experiência de São Paulo deve servir de exemplo aos participantes do evento. 

“Vimos ali uma proposta com um objetivo claro, explorar o potencial da metagenômica como uma ferramenta para detecção precoce de vírus zoonóticos. Hoje, encerramos um capítulo muito importante dessa iniciativa, que foi realizada em colaboração com a DVZ, OPAS, USP, Fiocruz e diversas outras instituições. E chegamos a um momento estratégico para refletir sobre os achados e discutir caminhos para que esse modelo possa ser fortalecido e expandido. Este evento representa uma oportunidade única para alinharmos conhecimentos técnicos, experiências e desafios operacionais, visando integrar a vigilância genômica aos sistemas de saúde pública de maneira sustentável e eficiente”, defendeu Anderson Brito, coordenador científico no Instituto Todos pela Saúde (ITPS).

Para Marcelo Gomes, coordenador-geral de Vigilância da COVID-19, Influenza e Outros Vírus Respiratórios do Ministério da Saúde do Brasil, é fundamental “ter, dentro do país, cada vez mais iniciativas e colaborações entre os diversos atores necessários nessa agenda, para que tenhamos em nosso território uma vigilância adequada e possamos saber o que está acontecendo em nosso terreno”, enfatizou, pontuando também “a importância de que a rede internacional de vigilância seja resiliente”.

A oficina técnica facilitou a discussão entre profissionais dos setores de saúde humana, animal, ambiental e de pesquisa operacional quanto à viabilidade técnica, operacional e estratégica da vigilância de vírus zoonóticos em morcegos como ferramenta integrada aos sistemas de saúde pública, explorando seu impacto potencial na detecção oportuna de patógenos com potencial pandêmico, suas implicações práticas de implementação e sustentabilidade, além de seus parâmetros de aplicabilidade em cenários reais. 

Participantes da oficina.

“Estamos muito satisfeitos que este evento esteja acontecendo no Brasil, porque, antes de tudo, reconhecemos as grandes capacidades que existem no país, tanto do ponto de vista do setor público quanto da capacidade acadêmica. O Brasil também compartilha uma grande parte da bacia amazônica, que certamente é um lugar, junto com a América do Norte, onde também podemos esperar o surgimento de novos patógenos”, esclareceu Andrea Vicari, chefe da Unidade de Manejo de Ameaças Infecciosas da OPAS. Durante o evento, foram apresentadas experiências exitosas do Ministério da Saúde, do município de São Paulo e da Região Amazônica.

Os insumos técnicos obtidos durante os dois dias de trabalho foram documentados para informar gestores de saúde pública sobre os benefícios e limitações da estratégia, contribuindo para decisões futuras.