10 de Agosto de 2017 — Todos os anos, estima-se que 2.100 crianças na América Latina e no Caribe nascem com HIV ou o contraem de suas mães; 22.400 estão infectadas com sífilis; cerca de 9.000 nascem com doença de Chagas; e 6.000 contraem o vírus da hepatite B. Se não forem detectadas e tratadas a tempo, essas infecções podem causar abortos espontâneos, malformações congênitas, problemas neurológicos e cardíacos, cirrose, câncer de fígado e, em alguns casos, até a morte.
Para acabar com a transmissão de mãe para filho dessas quatro doenças até 2020, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) lançou o Marco para a Eliminação da Transmissão Materno-Infantil do HIV, Sífilis, Hepatite e doença de Chagas (EMTCT-PLUS) – acesse em inglês ou em espanhol. Trata-se de um roteiro com estratégias e intervenções que visam as mulheres antes e durante a gravidez, bem como novas mães e seus bebês.
"O novo quadro é uma oportunidade para integrar e redobrar esforços para diagnosticar e tratar mulheres grávidas durante exames pré-natais e prevenir abortos espontâneos, malformações fetais e óbitos por sífilis, além de evitar que crianças sejam infectadas com doenças com graves consequências para a saúde a longo prazo, como HIV, hepatite B ou doença de Chagas", disse Suzanne Serruya, diretora do Centro Latino-Americano de Perinatologia (CLAP) da OPAS.
Desde 2010, os países da América Latina e do Caribe têm trabalhado para eliminar a transmissão de mãe para filho do HIV e da sífilis como problemas de saúde pública por meio da Estratégia para a Eliminação da Transmissão Materno-Infantil (ETMI) do HIV e da Sífilis Congênita, coordenada pela OPAS. Desde então, os países conseguiram reduzir em 55% as novas infecções em crianças, de 4.700 a 2.100 entre 2010 e 2015. Durante esse período de cinco anos, evitou-se que quase 28.000 crianças se infectassem com o HIV.
Com base no sucesso dessa iniciativa, a OPAS criou o Marco EMTCT-PLUS, que incorpora uma plataforma já consolidada para acabar com a transmissão de mãe para filho da doença de Chagas e da hepatite B.
Prevenindo a transmissão
Para reduzir ao máximo possível a transmissão materno-infantil dessas quatro doenças, a iniciativa da OPAS propõe a triagem universal de todas as mulheres grávidas, uma política que todos os países da região e do mundo adotaram para o diagnóstico de HIV e sífilis, embora ainda não para doença de Chagas e hepatite B.
A partir de 2016, os 51 países e territórios das Américas incluíram a hepatite B em seus calendários oficiais de vacinação, com uma dose da vacina administrada aos 2, 4 e 6 meses de idade. Além disso, 21 países (cujas populações representam 90% da coorte de nascidos vivos da região) incluíram uma dose da vacina contra a hepatite B para recém-nascidos. Estima-se que a cobertura regional de vacinação para a série de três doses alcança 89% e a cobertura da dose para recém-nascidos é de 75%. O sucesso dos programas de vacinação nas Américas sugere que a eliminação da transmissão perinatal e infantil da hepatite B é viável. No entanto, o acesso deve ser expandido para garantir que a vacina atinja pelo menos 95% das crianças, começando com uma dose para recém-nascidos ainda nas primeiras 24 horas de vida.
Até o momento, a luta contra a doença de Chagas se concentrou no controle vetorial, limpeza ambiental e no controle de sangue para transfusões. No entanto, o próximo passo para eliminá-la como um problema de saúde pública é se concentrar na prevenção da transmissão de mãe para filho, que atualmente representa cerca de um terço das novas infecções. Estima-se que 1,12 milhão de mulheres em idade reprodutiva na região estão infectadas com T. cruzi, o parasita que causa a doença. O Marco EMTCT-PLUS exige que todas as mulheres grávidas sejam examinadas e que os bebês daquelas que são positivas sejam testados e tratados, bem como as mães após o parto.
"Queremos que a próxima geração seja livre não apenas do HIV e da sífilis, mas também da doença de Chagas e da hepatite B", disse Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e Análise de Saúde da OPAS. "Temos ferramentas econômicas para evitar que crianças sejam infectadas por suas mães, mas precisamos dessas medidas para alcançar todos os que precisam delas".