1 de outubro de 2017 – O ritmo de envelhecimento da população mundial está aumentando drasticamente. Em 2050, espera-se que o número de pessoas com 60 anos ou mais chegue a 2 bilhões, em contraponto com os 900 milhões registrados em 2015. Uma criança nascida no Brasil em 2015, por exemplo, pode aspirar viver 20 anos a mais que uma criança nascida há 50 anos. Atenta a esses números, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil, no marco do Dia Internacional da Pessoa Idosa, chama a atenção para uma questão essencial: o envelhecimento saudável.
Uma vida mais longa traz consigo oportunidades, não só para os idosos e suas famílias, mas também para as sociedades como um todo. Anos de vida adicionais fornecem a possibilidade de buscar novas atividades, tais como educação e uma nova carreira. Os idosos também contribuem de muitas formas para suas famílias e comunidades. No entanto, a extensão dessas oportunidades e dessas contribuições depende muito de um fator: a saúde.
Atualmente, há poucas evidências de que os idosos de hoje estão experimentando sua idade mais avançada melhor que a de seus pais. Embora as taxas de grave incapacidade tenham diminuído nos países de alta renda nos últimos 30 anos, não houve mudança significativa nas taxas de incapacidade leve e moderada durante o mesmo período.
Se as pessoas puderem experimentar esses anos extras de vida gozando de boa saúde e vivendo em um ambiente de apoio, sua capacidade de fazer as coisas que valorizam seria pouco diferente do que a de uma pessoa mais jovem. Se esses anos adicionais são dominados por declínios na capacidade física e mental, as implicações para os idosos e para a sociedade são mais negativas.
Situações de abuso
Um em cada seis idosos sofre alguma forma de abuso, afirmou estudo apoiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado na Lancet Global Health. Esse número é maior do que o estimado anteriormente e a previsão é de que aumente à medida que as populações envelhecerem em todo o mundo.
O estudo descobriu que quase 16% das pessoas com 60 anos ou mais foram submetidas a abusos psicológicos (11,6%), abusos financeiros (6,8%), negligência (4,2%), abusos físicos (2,6%) ou abusos sexuais (0,9%). A pesquisa se baseia nas melhores evidências disponíveis de 52 estudos em 28 países de diferentes regiões, incluindo 12 países de baixa e média renda.
Desafios na resposta ao envelhecimento da população
Diversidade na idade avançada
Não há um “estereótipo” de uma pessoa idosa. Algumas pessoas com 80 anos de idade têm capacidades físicas e mentais semelhantes a muitas com 20. Outras pessoas experimentam declínios significativos nas capacidades físicas e mentais em idades muito mais jovens. Uma resposta abrangente de saúde pública deve abordar essa vasta gama de experiências e necessidades dos idosos.
Desigualdades na saúde
A diversidade observada na idade avançada não é aleatória. Uma grande parte decorre dos ambientes físicos e sociais das pessoas e do impacto desses ambientes em suas oportunidades e comportamentos de saúde. A relação que temos com os nossos ambientes é desviada por características pessoais, como a família em que nascemos, o nosso sexo e a nossa etnia, levando às desigualdades na saúde. Uma proporção significativa da diversidade na idade avançada é devida ao impacto cumulativo dessas desigualdades de saúde ao longo da vida. A política de saúde pública deve ser elaborada para reduzir, em vez de reforçar, essas iniquidades.
Estereótipos ultrapassados e preconceito com idosos
As pessoas mais velhas são frequentemente consideradas frágeis ou dependentes, além de um fardo para a sociedade. A saúde pública e a sociedade como um todo precisam abordar essas e outras questões, que podem levar à discriminação, afetar a forma como as políticas são desenvolvidas e as oportunidades que as pessoas idosas têm de experimentar um envelhecimento saudável.
Um mundo mudando rapidamente
A globalização, os desenvolvimentos tecnológicos (como o domínio dos transportes e das comunicações), a urbanização, a migração e a alteração das normas de gênero estão influenciando direta e indiretamente as vidas dos idosos. Embora o número de gerações sobreviventes em uma família tenha aumentado, hoje é mais provável que essas gerações vivam separadamente. Uma resposta de saúde pública deve fazer um balanço destas tendências atuais e projetadas e enquadrar as políticas de forma adequada.
Estratégia Global
De acordo com uma resolução recente (67/13), a OMS está desenvolvendo uma Estratégia Global e Plano de Ação sobre o Envelhecimento e a Saúde, em consulta com os Estados Membros e outros parceiros. A Estratégia e o Plano de Ação se baseiam nas evidências do relatório mundial sobre envelhecimento e saúde e nas atividades existentes para abordar áreas de ação prioritárias.
- Consulta sobre a “Global strategy and action plan on ageing and health”;
- Compromisso com o envelhecimento saudável, que requer consciência de seu valor e do compromisso e ação sustentados para formular políticas baseadas em evidências, que fortaleçam as habilidades das pessoas idosas;
- Alinhar os sistemas de saúde às necessidades da população idosa. Os sistemas de saúde precisam ser melhor organizados em torno das necessidades e preferências dessa faixa etária, projetados para melhorar a capacidade intrínseca desse grupo e integrados em diferentes configurações e prestadores de cuidados. As ações nessa área estão estreitamente alinhadas com outros trabalhos em toda a Organização para fortalecer os cuidados de saúde universal e os serviços de saúde centrados nas pessoas;
- Desenvolver sistemas de prestação de cuidados de longa duração. São necessários sistemas de cuidados prolongados em todos os países para satisfazer as necessidades das pessoas idosas. Isso requer desenvolvimento, sistemas de governança, infraestrutura e capacidade de mão-de-obra. O trabalho da OMS em cuidados de longa duração (incluindo cuidados paliativos) está em consonância com os esforços para melhorar a saúde universal, tratar as doenças não-transmissíveis e desenvolver serviços de saúde centrados nas pessoas e integrados.
- Criar ambientes “age-friendly” (“amigáveis aos idosos”). Isso exigirá ações para combater o envelhecimento, permitir a autonomia e apoiar o envelhecimento saudável em todas as políticas e em todos os níveis de governo. Essas atividades têm base e complementam o trabalho da OMS durante a última década para desenvolver cidades e comunidades “age-friendly”.
- Melhoria da mensuração, monitoramento e compreensão. Novas métricas e métodos analíticos são necessários para uma ampla gama de questões sobre o envelhecimento. Esse trabalho tem base no extenso esforço da OMS para melhorar as estatísticas e informações sobre saúde, por exemplo, por meio do Estudo sobre o envelhecimento global e saúde dos adultos (SAGE, sigla em inglês).
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