Os fatores determinantes do comportamento humano são complexos e específicos ao contexto. Muitas evidências demostraram que simplesmente dizer às pessoas o que devem ou não fazer geralmente não é suficiente para fazer com que elas mudem seu modo de agir: mesmo quando as pessoas recebem informações sobre fazer algo para melhorar a saúde e por que isso é importância, muitas não o fazem. Isso acontece sobretudo no caso da vacinação, em que muitos fatores complexos podem influenciar as decisões de cada indivíduo de se vacinar ou não, inclusive a percepção de que a vacinação é mais arriscada do que uma infecção por uma doença imunoprevenível.
Por esse motivo, a OPAS/OMS recomenda que os países coletem dados para entender as causas da baixa adesão vacinal e usem esses dados para criar e implementar estratégias baseadas em evidências. Além disso, o uso de indicadores padrão para realizar atividades de monitoramento e avaliação permitirá determinar o impacto das intervenções e ajustá-las conforme necessário, bem como acompanhar as tendências ao longo do tempo.
A coleta de dados sobre os fatores comportamentais e sociais relacionados à imunização pode ajudar a explicar por que existem lacunas na adesão. A coleta desses dados pode ajudar os programas de imunização a:
identificar e abordar as influências sobre o comportamento;
direcionar e avaliar estratégias em contextos específicos;
examinar e entender as tendências ao longo do tempo; e
planejar melhor para as necessidades futuras.
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A publicação da OMS Motores comportamentais e sociais da vacinação: ferramentas e orientações práticas contém instruções passo a passo e ferramentas para coletar dados comportamentais e sociais, além de outras informações úteis para programas de imunização ou organizações que trabalham para melhorar a adesão à vacinação.
Definições:
Crenças e experiências específicas relacionadas à vacinação que os programas podem modificar para aumentar a adesão vacinal.
A proporção de uma população que recebeu uma determinada dose de uma vacina em determinado período.
Crença de que as vacinas são efetivas, seguras e fazem parte de um sistema de saúde confiável. Uma baixa confiança nas vacinas não é o mesmo que hesitação vacinal, mas pode contribuir para ela.
Estado motivacional de conflito ou oposição à vacinação; inclui intenções e disposição.
Ações de indivíduos e comunidades para buscar, apoiar e/ou defender as vacinas e os serviços de imunização.
Planejamento e implementação das várias intervenções necessárias para alcançar um alto nível de confiança e adesão vacinal.
O espectro da demanda por vacinas e da hesitação vacinal é amplo e vai desde a aceitação total até a rejeição de todas as vacinas. Há também uma diferença significativa entre a recusa vacinal — quando a pessoa rejeita totalmente a vacinação — e a hesitação vacinal — quando a pessoa questiona ou tem dúvidas sobre a imunização. A posição dos indivíduos neste espectro depende de muitos fatores complexos, como a vacina em questão, o tempo e a população-alvo da vacina.
É improvável que indivíduos com um posicionamento extremo contra a vacinação sejam convencidos a se vacinar, mesmo quando são apresentadas evidências científicas de que as vacinas são seguras e efetivas. Os esforços devem se concentrar em aumentar a confiança na vacina e a disposição de se vacinar entre os indivíduos hesitantes.
Os fatores comportamentais e sociais (FCS) da vacinação são definidos como crenças e experiências relacionadas à vacinação potencialmente modificáveis de forma a ampliar a adesão às vacinas. Os fatores comportamentais e sociais da vacinação podem ser agrupados em quatro dimensões:
- Pensamentos e sentimentos: respostas cognitivas e emocionais a doenças imunopreveníveis e vacinas.
- Processos sociais: experiências sociais relacionadas a vacinas, inclusive normas sociais sobre vacinação e recebimento de recomendações de vacinação. As normas sociais podem estimular ou inibir a vacinação.
- Motivação: prontidão para se vacinar, incluindo intenções, disposição e hesitação relacionadas à vacinação, mas não motivos para a vacinação
- Questões práticas: experiências que as pessoas têm quanto tentam tomar vacinas, inclusive barreiras de acesso.
Siga estas etapas resumidas no documento Motores comportamentais e sociais da vacinação: ferramentas e orientações práticas para usar as ferramentas de FCS a fim de avaliar e abordar fatores comportamentais e sociais relacionados à adesão vacinal:
Depois de coletar e analisar os dados de FCS, é possível identificar as dimensões em que há problemas relacionados à adesão. A tabela a seguir, adaptada da Seção 5.2 do documento Motores comportamentais e sociais da vacinação: ferramentas e orientações práticas, mostra intervenções promissoras para abordar problemas em cada dimensão.
O uso de dados sobre fatores comportamentais e sociais pode complementar outras fontes de dados do programa de imunização. Por exemplo:
- Dados de cobertura: Usados para encontrar subgrupos populacionais nos quais os dados de FCS possam oferecer informações sobre o motivo pelo qual esses subgrupos têm baixa adesão. Dados qualitativos podem ser especialmente úteis em comunidades nunca vacinadas (“zero dose”).
- Dados de vigilância: Usados para entender a prevalência, a incidência e as mudanças nas doenças imunopreveníveis ao longo do tempo. Uma determinada população com alta carga de doença por ser uma prioridade para a coleta de dados de FCS.
- Dados censitários: Usados para analisar a relação entre a adesão e as características sociodemográficas.
- Dados de escuta social: Usados para analisar como conversas sobre a vacinação em vários meios de comunicação, inclusive com a divulgação de informações falsas, podem afetar a adesão.
Para saber mais sobre os FCS, leia as Perguntas Frequentes.
Perguntas frequentes sobre ciências comportamentais e vacinação
Muitos fatores influenciam o fato de um indivíduo ser ou não vacinado. Esses fatores são conhecidos como fatores comportamentais e sociais da vacinação e podem ser agrupados em quatro dimensões, cada qual com um construto correspondente:
- pensamentos e sentimentos sobre vacinas;
- processos sociais que estimulam ou inibem a vacinação;
- motivação (ou hesitação) para buscar a vacinação;
- questões práticas relacionadas à busca e obtenção da vacinação.
A Organização Pan-Americana da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) adotam a estrutura de fatores comportamentais e sociais (FCS) da adesão às vacinas para ilustrar essas quatro dimensões e seus construtos, que podem ser mensurados para entender os motivos por trás de um baixo índice de vacinação:
Mais informações sobre a estrutura de FCS estão disponíveis em Motores comportamentais e sociais da vacinação: Ferramentas e orientações práticas para se atingir uma alta taxa de aceitação das vacinas e no documento de posição da OMS sobre esse tópico, Compreensão dos fatores comportamentais e sociais associados à adesão às vacinas: Documento de posição da OMS – Maio de 2022.
A confiança nas vacinas, ou a crença de que as vacinas são efetivas, seguras e fazem parte de um sistema de saúde confiável, faz parte da dimensão “Pensamentos e Sentimentos”. Uma baixa confiança nas vacinas não é o mesmo que hesitação vacinal, mas pode contribuir para esse fenômeno.
A hesitação vacinal, ou o sentimento de conflito ou oposição à vacinação, faz parte da dimensão “Motivação”. Essa dimensão inclui a intenção e a disposição dos indivíduos de se vacinar.
A fim de enfrentar a falta de confiança na vacinação e a hesitação vacinal, é importante primeiro entender as várias causas desses problemas, coletando dados por meio de inquéritos ou entrevistas em profundidade. Esses dados, por sua vez, podem orientar a seleção de intervenções correspondentes e, posteriormente, apoiar atividades relacionadas de monitoramento e avaliação.
Embora seja importante aumentar a confiança e a motivação para a vacinação, também é fundamental observar que a melhoria de outros fatores que estimulam a adesão vacinal também é essencial. Exemplos incluem tornar os serviços de vacinação mais acessíveis e econômicos e melhorar a qualidade e a experiência de uso dos serviços de vacinação.
Para ampliar a adesão às vacinas, é preciso saber por que as pessoas não estão se vacinando. Não se pode presumir que a baixa adesão se deve à falta de confiança nas vacinas ou hesitação vacinal. Os programas de imunização devem coletar dados sobre as quatro dimensões de FCS. Isso permite obter uma visão mais completa dos pensamentos e sentimentos das pessoas, sua motivação e os processos sociais e questões práticas que estimulam ou agem como barreiras para a vacinação e, em seguida, desenvolver estratégias baseadas em evidências que aumentem a adesão. Dessa forma, os programas poderão criar, direcionar e avaliar intervenções para obter maior impacto com mais eficiência e para examinar e compreender tendências ao longo do tempo.
Os dados sobre fatores comportamentais e sociais podem ter duas formas principais: dados obtidos por meio de inquéritos (quantitativos) e de entrevistas em profundidade (qualitativos). As ferramentas mais adequadas para capturar os dados necessários dependerão dos objetivos e dos recursos disponíveis.
A publicação conjunta da OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância Motores comportamentais e sociais da vacinação: ferramentas e orientações práticas para se atingir uma elevada taxa de aceitação das vacinas fornece ferramentas testadas em campo no mundo todo e validadas para entender os fatores associados à imunização de rotina e à vacinação contra a COVID-19. Essas ferramentas podem ser adaptadas para atender a necessidades específicas, mas um conjunto básico de indicadores prioritários de FCS (correspondente a cinco perguntas) deve sempre ser incluído sem alterações. As perguntas do inquérito também podem ser integradas a outras atividades de coleta de dados.
A análise dos dados de cobertura de vacinação, dados de vigilância, dados censitários e dados de outras partes do sistema de saúde e/ou escuta social em várias plataformas (redes sociais, linhas diretas, conversas com a comunidade, perguntas dos meios de comunicação, feedback dos profissionais de saúde, etc.) pode sugerir a necessidade de coletar dados de FCS para determinar quais fatores têm influência sobre os comportamentos de uma determinada população em relação à vacinação.
Estudos demonstraram que se limitar a dizer às pessoas (por meio de intervenções de comunicação e educativas) que elas devem se vacinar, e como e onde devem fazê-lo, pode aumentar seu conhecimento e sua confiança na vacinação, mas não será suficiente para mudar seu comportamento. Isso ocorre porque o comportamento humano é complexo, e a decisão das pessoas de se vacinarem ou não é influenciada por muitos fatores. Para desenvolver estratégias baseadas em evidências que aumentem a adesão vacinal, os profissionais de saúde pública precisam levar em consideração os pensamentos e sentimentos das pessoas, sua motivação e os processos sociais e questões práticas que incentivam ou desestimulam a vacinação.
É preciso formar um grupo de trabalho que inclua profissionais do programa de imunização, especialistas em pesquisa e outros parceiros. O envolvimento das partes interessadas também é fundamental; deve-se garantir o envolvimento de representantes da comunidade onde a pesquisa e as intervenções serão realizadas. Se for preciso traduzir os instrumentos de inquérito ou roteiros de entrevista, é preferível utilizar um tradutor profissional, e é fundamental testar a tradução localmente com um falante nativo do idioma.
É importante envolver o grupo de trabalho e os principais representantes da comunidade desde o início do processo de planejamento, bem como nos principais marcos durante a coleta e análise dos dados e a revisão dos achados. Essas partes interessadas também terão um papel importante na decisão de quais intervenções podem ser mais efetivas para abordar os fatores determinantes ou barreiras identificados e como as intervenções podem ser adaptadas especificamente para a população ou comunidade de interesse.
Os dados devem ser compartilhados com pessoas, organizações e grupos interessados (como grupos técnicos assessores nacionais sobre imunização [NITAGs] e grupos comunitários); a forma de apresentação dos dados deve fazer sentido para eles. Esses indivíduos ou organizações também podem desempenhar um papel importante como defensores ou promotores das vacinas, e poderiam contribuir para impulsionar o sucesso e a sustentabilidade das intervenções. Deve-se explicar como a pesquisa foi conduzida e descrever os principais achados.
Os dados devem ser usados para ajudar a determinar os tipos de intervenção que devem ser implementados para aumentar a adesão às vacinas – mais detalhes são apresentados abaixo. Além disso, os dados podem ser usados para avaliar intervenções atuais e fazer as alterações necessárias para melhorar os resultados. Os dados também podem ser usados para determinar tendências; na próxima vez em que os dados forem coletados com as mesmas ferramentas, será possível fazer comparações entre os dados para entender melhor o que mudou e o que continuou igual.
Depois de coletar e analisar os dados sobre os fatores comportamentais e sociais, será possível identificar quais intervenções podem atender às necessidades específicas nas diferentes dimensões da estrutura de FCS descritas acima. Algumas intervenções promissoras para cada dimensão estão exemplificadas na página 31 do documento Motores comportamentais e sociais da vacinação: ferramentas e orientações práticas para se atingir uma elevada taxa de aceitação das vacinas.
Exemplos incluem campanhas comunitárias para educar a população sobre a vacinação (dimensão “Pensamentos e Sentimentos”), uso de defensores e promotores das vacinas (dimensão “Processos Sociais”) e envio de lembretes sobre a próxima dose de vacina (dimensão “Questões Práticas”).
Todos os países devem incorporar as cinco perguntas prioritárias de FCS da ferramenta de inquérito aos processos de coleta de dados de rotina de modo a permitir o acompanhamento regular das medidas mais informativas, que estão altamente relacionadas à adesão vacinal. Países com baixa cobertura geral de vacinação infantil ou vacinação contra a COVID-19 devem aplicar o inquérito completo de FCS em nível nacional a cada 2 ou 3 anos, ou anualmente, se houver um evento que cause uma queda abrupta de confiança nas vacinas. Países com iniquidades na adesão às vacinas devem realizar o inquérito completo de FCS e os roteiros de entrevista em profundidade em contextos subnacionais priorizados pelo menos a cada 2 ou 3 anos.
Levar em consideração as lacunas de cobertura em contextos específicos e a necessidade de monitoramento para melhorar as intervenções pode ajudar a determinar a frequência das entrevistas em profundidade.
Os dados de FCS fornecerão informações valiosas para monitorar e avaliar intervenções com vistas a aumentar a adesão às vacinas e permitirão determinar como, onde e para quem as intervenções estão funcionando. Isso pode ser combinado à análise de dados de vigilância de doenças imunopreveníveis, dados de cobertura de vacinação e dados programáticos para traçar um panorama mais amplo.
Uma estrutura de monitoramento e avaliação pode ser usada para identificar indicadores, intervenções correspondentes, insumos, atividades e produtos e resultados pretendidos. Dados podem ser coletados para estabelecer uma linha de base antes de iniciar as intervenções. As avaliações podem ser usadas para abordar limitações do programa e eliminar lacunas.
Mais informações sobre os indicadores estão disponíveis na Seção 5.4 de Motores comportamentais e sociais da vacinação: ferramentas e orientações práticas para se atingir uma elevada taxa de aceitação das vacinas. Mais informações sobre a complementação dos dados de FCS com outras fontes de dados estão disponíveis na Seção 5.5 do mesmo documento.
Os profissionais de saúde são as fontes mais confiáveis de informações sobre imunização: a recomendação de um profissional de saúde pode ser um estímulo importante para que uma pessoa se vacine. No entanto, a comunicação interpessoal é uma habilidade na qual muitos profissionais de saúde não são capacitados, o que significa que eles são incapazes de se comunicarem de forma efetiva com indivíduos hesitantes. Além disso, os profissionais de saúde costumam estar muito sobrecarregados e podem não ter tempo para responder às dúvidas e preocupações dos indivíduos hesitantes de forma satisfatória.
É preciso ter em mente que os profissionais de saúde também são seres humanos e, portanto, podem ter diferentes graus de confiança nas vacinas e de hesitação vacinal. Para o sucesso dos programas de imunização, é fundamental contar com profissionais de saúde que apoiem e recomendem a vacinação com veemência. Se os dados indicarem uma baixa confiança nas vacinas e/ou hesitação vacinal entre os profissionais de saúde, deve-se considerar a possibilidade de priorizar intervenções para abordar essa questão (obs.: existem ferramentas de FCS específicas para a coleta de dados sobre profissionais de saúde, e é apropriado utilizar a mesma abordagem e o mesmo processo nas intervenções para profissionais de saúde que para o público em geral).
Para obter mais informações, consulte Conversations to Build Trust in Vaccination: a Training Module for Health Workers, e os capítulos 3 a 9 de Como se comunicar sobre a segurança das vacinas: Diretrizes para orientar os trabalhadores da saúde quanto à comunicação com pais, mães, cuidadores e pacientes.
É fundamental interagir com as comunidades ao coletar dados comportamentais e criar e executar intervenções para ampliar a adesão às vacinas. Representantes da comunidade devem estar envolvidos na validação das ferramentas de coleta de dados e das traduções. Suas percepções também podem ajudar a entender suas necessidades e perspectivas em relação à vacinação. Os membros da comunidade também devem participar do aprimoramento da qualidade dos serviços de vacinação e do desenvolvimento de sistemas, políticas e outras estratégias programáticas. Tudo isso também ajudará a assegurar que as intervenções tenham relevância e adequação cultural.
A publicação da OMS Desenho centrado nas pessoas para adaptação dos programas de vacinação pode ajudar a entender melhor as necessidades e perspectivas da comunidade.
O trabalho de comunicação de risco e envolvimento da comunidade (RCCE, na sigla em inglês) tem muitas semelhanças com o trabalho realizado no âmbito da estrutura de FCS. Ambos valorizam a colaboração e a escuta das comunidades — seja para delineamento e implementação da intervenção ou para monitoramento e avaliação — e contam com a contribuição e os pontos de vista da comunidade para alcançar resultados. Ambos têm como objetivo mudar o comportamento dos indivíduos para promover melhores desfechos de saúde. O sucesso de ambos depende da confiança de seu público-alvo. De fato, a aplicação dos princípios de RCCE — isto é, por meio de comunicação acessível, aplicável, confiável, pertinente, oportuna e compreensível para a população — pode ajudar a melhorar as intervenções de FCS.
Ao mesmo tempo, a RCCE geralmente envolve apenas dois tipos principais de intervenções. Para alcançar uma alta adesão, é necessário dispor de um leque muito mais amplo de intervenções, incluindo intervenções que abordem questões práticas e relacionadas ao acesso, intervenções pautadas pelo comportamento e outros tipos de intervenções estruturais e de políticas. A estrutura e as ferramentas de FCS permitem coletar e usar dados de forma estruturada e sistemática para ajudar a identificar intervenções sob medida apropriadas que correspondam a diferentes tipos de fatores determinantes ou barreiras.
Essa estrutura oferece uma maneira sistemática e uniforme de conceituar, mensurar e modificar fatores e comportamentos para aumentar a adesão às vacinas.
As ferramentas de coleta de dados de FCS — sobretudo os roteiros de entrevista, que permitem fazer perguntas mais aprofundadas — podem ajudar a registrar os pensamentos e sentimentos das pessoas sobre as vacinas e a vacinação, independentemente de serem ou não verdade. Elas podem ser usadas juntamente com outras plataformas e abordagens de escuta social para entender quais informações estão circulando em determinados grupos populacionais e adotar as medidas cabíveis.
Para entender e abordar adequadamente as causas da baixa adesão, também é imprescindível realizar uma análise integrada com dados de FCS e outras formas de dados do programa (por exemplo, dados de cobertura e vigilância), escuta digital ou social, feedback da comunidade, ou ainda outras fontes locais. É por meio da análise combinada dessas várias fontes de dados que percepções mais aprofundadas podem ser geradas.
As percepções de risco relacionadas a vacinas e doenças imunopreveníveis se enquadram na dimensão “Pensamentos e Sentimentos” da estrutura de FCS. Se os dados indicarem que a população tem pouca confiança na segurança e efetividade das vacinas e/ou que o risco percebido das doenças imunopreveníveis é baixo, podem-se empregar intervenções que ataquem essa questão, como campanhas para informar ou educar e intervenções baseadas em diálogo envolvendo profissionais locais de saúde de confiança ou representantes da comunidade. Algumas intervenções promissoras na dimensão “Pensamento e Sentimento” estão descritas na página 31 do documento Motores comportamentais e sociais da vacinação: ferramentas e orientações práticas para se atingir uma elevada taxa de aceitação das vacinas.
Nem sempre é necessário ou produtivo responder às alegações dos ativistas contra a vacinação (os antivacinas). Antes de responder, avalie a situação: Quem são? O que estão dizendo? Para quem?
É preferível dar uma resposta indireta para evitar chamar inadvertidamente mais atenção para a questão e provocar mais debates. Em vez disso, geralmente é mais efetivo ampliar o alcance de mensagens corretas de fontes confiáveis sobre a segurança e a efetividade das vacinas e, fazendo isso, corrigir qualquer informação falsa. Deve-se trabalhar com líderes comunitários e outros parceiros que tenham a confiança do público para reforçar as mensagens.
De qualquer forma, o público-alvo da mensagem deve ser a população em geral, e não os ativistas contra a vacinação. O maior objetivo é que a população em geral fique mais resistente a histórias e afirmações contrárias à vacinação.
É improvável que indivíduos com um posicionamento extremo contra a vacinação sejam persuadidos a mudar de ideia, mesmo quando recebem evidências científicas de que as vacinas são seguras e efetivas. Em vez disso, os esforços devem se concentrar em aumentar a confiança nas vacinas e a disposição para se vacinar entre os indivíduos que têm baixa confiança na vacinação e/ou têm um pouco de hesitação em relação às vacinas. Dirimir suas preocupações de maneira empática e esclarecer suas dúvidas podem ajudar a aumentar sua confiança nas vacinas e motivá-los a buscar a vacinação.
Também é importante lembrar que a hesitação vacinal é específica ao contexto e pode depender da vacina em questão, bem como da pessoa a ser vacinada.