Imunização ao longo do curso de vida
O mundo está passando por um momento de profundas mudanças demográficas. Hoje, o número de pessoas com mais de 65 anos é maior do que o de crianças com menos de 5 anos. No entanto, a qualidade de vida não está acompanhando essas mudanças.
À medida que envelhecemos, nosso sistema imunológico fica mais debilitado (imunossenescência) e deixa o organismo exposto a doenças para as quais já tinha adquirido imunidade. Além disso, as doenças crônicas agravam os desfechos de saúde quando associadas a infecções em idades mais avançadas.
A abordagem de curso de vida é uma estrutura que ajuda as autoridades de saúde pública a melhorar a saúde ao longo da vida e a identificar momentos importantes nos quais intervenções de saúde podem maximizar os benefícios para o bem-estar dos indivíduos e das comunidades.
A abordagem de curso de vida para a imunização afirma que as pessoas devem receber todas as doses de vacina recomendadas durante o curso de vida para obter o máximo de benefícios em termos da prevenção de doenças imunopreveníveis em diferentes idades, entre gerações e em suas comunidades.
Exemplo:
O tétano é uma doença infecciosa aguda causada pelos esporos da bactéria Clostridium tetani. As pessoas que se recuperam do tétano não adquirem imunidade natural e podem ser reinfectadas. Portanto, todas as pessoas devem ser vacinadas periodicamente para que a proteção seja mantida. A OMS recomenda que uma pessoa receba seis doses de vacinas que contenham toxoide tetânico. A série primária deve ser iniciada às 6 semanas de idade, com intervalo de 4 semanas entre as doses. As três doses de reforço devem ser administradas entre os 12 e 23 meses, entre os 4 e 7 anos e entre os 9 e 15 anos. Como a longevidade continua aumentando, os países podem cogitar a adição de novas doses de reforço ao calendário nacional de imunização para proteger as pessoas idosas.
Os princípios da abordagem de curso de vida podem ser aplicados aos programas nacionais de imunização para subsidiar o desenvolvimento de plataformas de vacinação para:
- Administrem doses de vacina no momento em que o organismo está mais suscetível a uma doença específica ou quando são mais custo-efetivas para prevenir doenças em idades mais avançadas.
- Minimizem os efeitos da imunossenescência por meio da eliminação das lacunas de imunidade mais urgentes para cada faixa etária.
- Melhorem as trajetórias de saúde por meio da integração dos serviços de vacinação com outras práticas de saúde adequadas à idade.
- Abordem iniquidades em saúde e ajudem a alcanças melhores desfechos de saúde com menos recursos.
Mensagens principais
A saúde é um componente do desenvolvimento humano e um recurso fundamental desse desenvolvimento. Os indivíduos e as populações são afetados por interações contínuas entre si e as exposições e experiências de seu ambiente, tanto ao longo do tempo como entre gerações. Nunca é tarde demais para desenvolver a saúde.
A abordagem de curso de vida ajuda as autoridades de saúde pública a identificar momentos importantes e atividades intersetoriais cujas intervenções de saúde podem ser modificadas a fim de obter o máximo de benefícios para o bem-estar dos indivíduos.
Ao desenvolver serviços de vacinação que considerem as trajetórias de vida, podemos nos concentrar em fechar as lacunas de imunidade para minimizar o impacto das doenças, aumentar a capacidade do organismo de se manter saudável em todas as fases da vida e reduzir as taxas de mortalidade por todas as causas na população.
Abordar iniquidades em saúde entre indivíduos e dentro das comunidades ajuda a alcançar melhores desfechos de saúde com menos recursos ao longo de várias gerações.
A abordagem de curso de vida na imunização
Recursos
Revisão do conhecimento existente
Muitos dos princípios da abordagem de curso de vida já estão incorporados aos programas nacionais de imunização da Região das Américas. Vamos revisar alguns exemplos de vacinas específicas que trazem vantagens claras para indivíduos, famílias e comunidades.
Considerações da abordagem de curso de vida | Exemplos de proteção contra doenças imunopreveníveis |
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A série primária de uma vacina deve ser administrada em períodos sensíveis/críticos, enquanto a pessoa apresenta uma lacuna de imunidade específica contra aquela doença. | A vacina bacilo Calmette-Guérin (BCG) é administrada nas primeiras 24 horas de vida para proteger os recém-nascidos contra a tuberculose enquanto as funções dos neutrófilos (isto é, uma das primeiras células do sistema imunológico a responder) se desenvolvem plenamente. |
Na abordagem de curso de vida, as trajetórias podem refletir um declínio ou uma melhora no estado de saúde. Elas são influenciadas por elementos (por exemplo, trabalho, escola, vida reprodutiva, migração) e fatores (sociais, culturais, econômicos, políticos, etc.) interdependentes. | Quando administrada antes da exposição ao papilomavírus humano (HPV) — ou seja, antes da relação sexual — a vacina pode prevenir a infecção e minimizar a probabilidade de desenvolvimento de lesões pré-cancerosas e cancerosas na vida adulta. |
Considerações da abordagem de curso de vida | Exemplos de proteção contra doenças imunopreveníveis |
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A imunização materna e a saúde do bebê devem ser vistas como um continuum, na qual uma intervenção tem um impacto positivo sobre o bem-estar de duas pessoas e cria capacidade intergeracional para sustentar a imunidade. | A administração da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (Tdap) durante a gravidez foi altamente efetiva na prevenção da morbidade por coqueluche (69% a 91%), internações (91% a 94%) e morte (95%) entre bebês. |
O estado de saúde de uma pessoa é influenciado pelas gerações que a precedem (por exemplo, pais, famílias, comunidades). Devido à transferência intergeracional de características, os mesmos fatores podem afetar seus descendentes. Portanto, as intervenções em saúde precisam considerar os vínculos genéticos, os papéis sociais e as redes como fatores que influenciam a saúde. | O leite humano contém anticorpos maternos que podem ser compartilhados com o bebê e fortalecer a imunidade passiva da criança. O aleitamento materno está associado a melhores resultados de saúde na primeira infância e na vida adulta. |
Considerações da abordagem de curso de vida | Exemplos de proteção contra doenças imunopreveníveis |
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Priorizar a vacinação de indivíduos de alto risco que apresentam fatores de risco cumulativos é uma abordagem custo-efetiva porque a) reduz a morbimortalidade nesses subgrupos; b) reduz a carga total de doenças na sociedade; e c) reduz os custos gerais de saúde com o tratamento de casos de doenças graves e suas sequelas. | Vacinação contra a COVID-19 durante a pandemia e no período pós-pandemia, em que são priorizados grupos prioritários de alto risco. |
A agência humana é afetada por determinantes sociais (isto é, as condições em que as pessoas nascem, crescem, trabalham, vivem e envelhecem). A perspectiva de curso de vida busca entender como as trajetórias de saúde são moldadas pela interação entre a agência individual (ou seja, pensamentos e ações individuais) e os determinantes sociais. | A hesitação vacinal ameaça reverter o progresso obtido no combate às doenças imunopreveníveis. Os motivos pelos quais as pessoas optam por não se vacinar são complexos e incluem comodismo, inconveniência e falta de confiança na segurança e efetividade das vacinas. |
Além disso, as vacinas já incluídas no calendário nacional de imunização podem contribuir para a redução de condições crônicas ou incapacitantes de saúde ao prevenirem as sequelas mais comuns das doenças imunopreveníveis.
Consideração sobre o que o Programa Ampliado de Imunização nacional precisa para intensificar a abordagem de curso de vida
Propomos que qualquer reformulação do programa de imunização de acordo com os princípios da abordagem de curso de vida se concentre em seis elementos do sistema nacional de saúde.
Defesa de direitos: Promover a ampliação dos serviços de vacinação de modo a oferecer doses de vacina a todas as pessoas elegíveis de acordo com sua idade e nível de risco.
Financiamento: Assegurar recursos financeiros adequados e constantes para contratar recursos humanos e materiais adicionais. Esses recursos devem ser vistos como um investimento de longo prazo, dado o benefício econômico e social das imunizações.
Serviços centrados na totalidade da pessoa: Criar sinergias entre os serviços de vacinação para todas as faixas etárias e outros serviços de saúde essenciais que sejam centrados na totalidade da pessoa, adequados à idade e concebidos de acordo com as necessidades e demandas dos usuários.
Recursos humanos: Comunicar o impacto positivo dos programas ampliados de imunização às autoridades de saúde pública, gestores de saúde, prestadores de serviços de saúde e vacinadores por meio de treinamentos e visitas de supervisão de apoio. Qualquer contato com o sistema de saúde deve se tornar uma oportunidade para oferecer as doses que faltam.
Sistemas de informação: Documentar os benefícios dos programas ampliados de imunização para avaliar o impacto das vacinas nos desfechos de saúde da população em geral, nos serviços de saúde e nas prioridades de saúde pública.
Equidade: Estabelecer estratégias direcionadas para alcançar populações vulneráveis. As operações de extensão e os diálogos culturais são atividades bem documentadas que ajudam a reduzir as desigualdades nas taxas de cobertura de vacinação ao longo do curso de vida.
Links relacionados
Documentos de referência
OMS | Agenda de Imunização 2030 (IA2030) (estratégia global, em inglês)
OMS | IA2030 – Life-course & Integration (documento de prioridade estratégica, em inglês)
OPAS | Plano de ação CIM (em desenvolvimento)
OPAS | Construindo a Saúde no Curso de Vida: conceitos, implicações e aplicação em saúde pública (orientações técnicas)
OPAS | Building Better Immunity: A Life Course Approach to Healthy Longevity (webinar)
OPAS | Lograr una mejor inmunidad: el enfoque de curso de vida para una longevidad saludable (orientações técnicas, em inglês)
Viewpoint (em processo de revisão)
OMS | Reducing Missed Opportunities for Vaccination (MOV) (orientações técnicas, em inglês)
OMS | Working together: na integration resource guide for planning and strengthening immunization services throughout the life course (orientações técnicas, em inglês)
OMS | Global consultation on implementing vaccination checks at school (orientações técnicas, em inglês)
OPAS | Cómo vacunar a los trabajadores sanitarios contra la gripe estacional (orientações técnicas, em inglês)
OPAS | Ninguém fica para trás: orientação para o planejamento e a implementação da vacinação de recuperação (orientações técnicas)
OMS | Orientaciones para la microplanificación operativa de la vacunación contra la COVID-19 (orientações técnicas, em inglês)
OPS | Guía de implementación para la vacunación de los trabajadores de la salud (orientações técnicas, em espanhol)
OMS | Vaccinating older adults against COVID-19 (orientações técnicas, em inglês)
OMS | Motores comportamentais e sociais da vacinação: ferramentas e orientações práticas para se atingir uma elevada taxa de aceitação das vacinas (orientações técnicas)
OPAS | Maternal and Neonatal Immunization Field Guide for Latin America and the Caribbean (orientações técnicas, em inglês)
OMS | WHO recommendations for routine immunization – summary tables (orientações técnicas, em inglês)
OMS EURO | The life-course approach: from theory to practice: case stories from two small countries in Europe (orientações técnicas, em inglês)
International Federation on Ageing (IFA) | Vaccines4Life, Changing the Conversation on Adult Influenza Vaccination (declaração de consenso, em inglês)
International Federation on Ageing (IFA) | Messages Matter: A Spotlight on Influenza Vaccination Campaigns (documento técnico, em inglês)
International Federation on Ageing (IFA) | The Immunisation for All Ages Manifesto (documento, em inglês)
International Federation on Ageing (IFA) | Improving Adult Vaccination Policy in Long Term Care Settings (relatório técnico, em inglês)
International Federation on Ageing (IFA) | Evidence to Action: A review of the National Immunization Technical Advisory Groups (NITAGs) (relatório técnico, em inglês)
OMS | Improving the health and wellbeing of children and adolescents: guidance on scheduled child and adolescent well-care visits (orientações técnicas, em inglês)