30 de maio de 2018 — A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) destacou nesta quarta-feira (30), durante o 13º Congresso Internacional da Rede Unida, em Manaus (AM), que a defesa da universalidade da saúde não pode estar só nas mãos de gestores e profissionais de saúde. “Precisamos levar esse conceito também para outras redes, outros grupos de pessoas”, afirmou Joaquín Molina, representante do organismo internacional no Brasil.
Ter saúde universal significa que todas as pessoas, sobretudo as que estão em situação de vulnerabilidade – não importa onde estejam –, tenham acesso a cuidados de saúde efetivos e de qualidade e sejam protegidas de dificuldades financeiras no momento em que necessitam de assistência.
Abrange toda a gama de serviços de saúde, desde promoção até prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos. Além disso, o alcance da saúde universal envolve ações de diversos setores da sociedade, para enfrentar a pobreza, injustiça social, déficit de educação e habitação insalubre, entre outros fatores que influenciam o estado de saúde das pessoas.
“Quando falamos de saúde universal, mais importante que debater o ponto de chegada é debater também as estratégias para chegar à saúde universal. O Programa Mais Médicos foi uma dessas estratégias, que veio para superar o problema da falta de médicos tanto em números quanto em formação profissional”, afirmou Molina.
Nesse sentido, o coordenador de Sistemas e Serviços de Saúde da Representação da OPAS/OMS no Brasil, Renato Tasca, ressaltou que a iniciativa é uma imensa fonte de experiências exitosas e conhecimentos. “Uma situação crítica no país — a da existência de um importante número de famílias em condições de vulnerabilidade, sem acesso à atenção primária — foi respondida de forma muito positiva pelo Programa Mais Médicos, que, ao ampliar a cobertura de atenção, contribuiu para a redução das desigualdades”.
Na mesma linha, o professor Luiz Augusto Facchini, da Universidade Federal de Pelotas, informou que a cobertura da Estratégia de Saúde da Família teve um pico de expansão com o Programa. “O Mais Médicos foi capaz de ampliar rapidamente a cobertura, além de estabilizar a presença de médicos em um enorme número de equipes de saúde da família”.
Esses resultados são comprovados por uma série de evidências científicas. Uma delas aponta que, em dois anos (janeiro de 2013 – janeiro de 2015), o número de consultas médicas na Estratégia de Saúde da Família aumentou 33% nos municípios que participaram do Mais Médicos. Já naqueles que não estavam no programa, o aumento foi de menos da metade: 15%.
Outro estudo, intitulado “More doctors for deprived populations in Brazil”, mostrou que em mais de mil municípios que aderiram ao Mais Médicos houve aumento na cobertura de atenção básica de 77,9% para 86,3%, entre 2012 e 2015, e uma queda nas internações por condições sensíveis à atenção ambulatorial (que são internações evitáveis), de 44,9% para 41,2% no mesmo período.
Além disso, há pesquisas em andamento para determinar o impacto do Programa em áreas específicas, como a citada em uma apresentação de Julio Schweickardt, coordenador nacional da Rede Unida. “Estamos concluindo, em parceria com a OPAS, um estudo de caso sobre o Mais Médicos em Tabatinga (na fronteira do Brasil com Colômbia e Peru). E uma coisa que ficou muito evidente é que as pessoas trabalham em um lado, moram em outro e praticamente todo mundo tem parente em outro país. E aí o acesso à saúde é feito onde a pessoa acha melhor. Ela paga, por exemplo, para fazer uma cirurgia na Colômbia e faz o pré-natal no Brasil pelo SUS (Sistema Único de Saúde). No Peru, é a mesma coisa. Aí a gente pergunta sobre isso para os profissionais de saúde e eles respondem: `o SUS é universal`. Quer dizer, o direito à saúde é de todos”.