Em 15 de abril de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um alerta sobre casos de hepatite aguda grave de causa desconhecida em crianças no Reino Unido. Desde então, mais casos foram notificados.
Conversamos com Leandro Soares Sereno, assessor de prevenção e controle das hepatites virais da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), sobre hepatites e casos agudos graves em crianças notificados em vários países.
1. O que é hepatite aguda?
A hepatite é uma inflamação do fígado. Existem diferentes etiologias – ou seja, causas – que levam a essa inflamação, como uma infecção ou intoxicação por medicamentos ou substâncias. Os agentes infecciosos mais frequentes são os vírus responsáveis pelas hepatites A, B, C, D e E.
Quando a inflamação ocorre de forma rápida e abrupta, falamos de hepatite aguda. Em alguns casos, como na hepatite B, C e D, a infecção pode se tornar crônica.
2. Por que o surto de hepatite em crianças é considerado incomum? É um novo adenovírus?
É um evento de interesse que está sob investigação da OMS. Até agora, os exames laboratoriais descartam casos de hepatite viral conhecida. Em muitos casos, a infecção por adenovírus foi encontrada em crianças e a ligação entre esses dois é investigada como uma das hipóteses sobre as causas subjacentes.
O adenovírus é um vírus comum que pode causar sintomas respiratórios ou vômito e diarreia. Em geral, a infecção tem duração limitada e não evolui para quadros preocupantes, embora casos raros de infecções graves por adenovírus que causaram hepatite tenham sido relatados em pacientes imunocomprometidos ou pessoas submetidas a transplantes. No entanto, essas crianças não se enquadram na descrição, pois antes estavam saudáveis.
3. Quantos países notificaram casos confirmados ou suspeitos de hepatite em crianças não relacionados à infecção pelos vírus da hepatite A, B, C, D ou E?
Não estamos falando de casos confirmados porque atualmente a causa específica é desconhecida e está sob investigação. Os casos relatados se referem a crianças com hepatite aguda grave em que não foram identificadas as hepatites A, B, C, D ou E.
Com essa definição, em 3 de maio de 2022, mais de 200 casos foram reportados em 20 países. A maioria está no Reino Unido, que foi o primeiro país a notificar a ocorrência de casos à OMS.
Nas Américas, foram notificados casos nos Estados Unidos, e os países da Região estão orientados a monitorar a situação. No momento, a OPAS está informando os países sobre critérios e definições para monitoramento.
4. Como a OPAS avalia a situação?
Ainda há poucos dados para definir se há surto ou epidemia na Região das Américas e, por enquanto, o risco global é considerado baixo. E, como também não há certeza sobre a origem, existe a possibilidade de estarmos identificando uma situação que antes passava despercebida porque os casos eram muito poucos.
5. O surto pode estar relacionado à COVID-19 ou às vacinas contra esta doença?
Com base nas informações atuais, a maioria das crianças afetadas não recebeu a vacina contra a COVID-19 e, no momento, a relação de casos com a vacinação está descartada.
Em alguns casos, foi detectada a presença do vírus SARS-CoV-2, mas essa é uma linha de pesquisa além de outras, como a do adenovírus.
6. Quais são os sintomas? Existe tratamento?
A hepatite aguda apresenta diferentes sintomas: gastrointestinais, como diarreia ou vômito, febre e dores musculares, mas o mais característico é a icterícia – uma coloração amarelada da pele e dos olhos.
O tratamento busca aliviar os sintomas, bem como controlar e estabilizar o paciente se o caso for grave. Essas recomendações podem ser ajustadas quando a origem for determinada.
7. O que os pais podem fazer para proteger seus filhos?
O principal é estar atento aos sintomas, como diarreia ou vômito, e principalmente se houver sinais de icterícia, que é a coloração amarelada dos olhos e da pele, deve-se buscar atendimento médico prontamente.
Para prevenção, recomendamos tomar medidas básicas de higiene, como lavar as mãos, cobrir a boca e o nariz ao tossir ou espirrar, o que também serve para evitar a transmissão de adenovírus.
8. Quais medidas a OPAS recomenda às autoridades nacionais de saúde para evitar a propagação da doença?
Neste momento, a recomendação é se manter informado e monitorar a situação. A origem dos casos ainda está em estudo e a OPAS continuará prestando apoio técnico aos países para gerar e disseminar informações durante o curso da investigação.