28 de janeiro de 2019 – A fila para vacinação na Escola Municipal Itamar Martins Ferreira, em Goiânia, capital do estado de Goiás, estava cheia. Meninas com idade entre nove e 14 anos e meninos entre 11 e 13 anos aguardavam para tomar a segunda dose da vacina contra o papiloma vírus humano (HPV). A primeira dose foi aplicada há seis meses, no mesmo local.
A iniciativa de ir até o público-alvo só é possível devido à parceria entre as Secretarias Municipais de Saúde e Educação, por meio do Programa Saúde na Escola (PSE), criado em 2014. Essa mobilização facilita que crianças e adolescentes sejam imunizados contra esse vírus, responsável por provocar, na idade adulta, câncer de colo do útero em mulheres e outros tipos de câncer.
A vacina contra o HPV é oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2014 para meninas com idade entre nove e 14 anos. Esse tipo específico de câncer ocupa a quarta posição na lista de causas de morte no país. A vacinação contra o HPV é, junto com a triagem, a principal ferramenta para eliminar o câncer de colo do útero. Para garantir a proteção, são necessárias duas doses da vacina, que devem ser aplicadas em um intervalo de seis meses.
Mulheres que vivem com HIV entre nove e 26 anos também recebem a vacina – neste caso específico, em três doses: após a primeira, esse público-alvo deve tomar a segunda dose após dois meses e uma terceira dose seis meses depois.
“Faz dois anos que minha tia morreu por câncer do colo do útero. Depois disso, meus pais me falaram sobre a importância da vacina”, conta Pâmela Pablino, de 13 anos. A partir dessa perda, ela se conscientizou de que é possível prevenir essa doença.
Enquanto as profissionais de saúde aplicavam as vacinas, a enfermeira da Secretaria Municipal de Educação Marislei Brasileiro conversou com adolescentes sobre a vacinação contra o HPV e aproveitou para sanar as dúvidas mais frequentes. Ela explica que, nessa escola pública, duas meninas foram eleitas enfermeiras-mirins. “Elas são responsáveis por conversar com outras crianças e adolescentes sobre o HPV e suas consequências, bem como conscientizá-los sobre a importância da vacinação antes do início da vida sexual”, conta a profissional.
As enfermeiras-mirins são orientadas por meio de material de apoio, elaborado pela Secretaria Municipal de Educação, onde há informações relevantes sobre o tema, entre elas, como ocorre a transmissão do vírus, quais são os sintomas da infeção, quando se apresentam e quais são as formas de buscar tanto a prevenção quanto o tratamento. “O enfermeiro-mirim tem que ser uma pessoa de mente aberta, que converse naturalmente com os colegas sobre HPV e prevenção do câncer”, afirma Marislei.
Uma das enfermeiras-mirins é Juliana Maciel Estôco, de 9 anos. Seus pais, Bernardete Maciel e Deilton dos Santos se mostram orgulhosos com o empenho da filha em transmitir informações que podem promover a saúde dos colegas. “Durante toda a vida, ela teve jeito para cuidar dos demais e tem um senso de responsabilidade natural, além de ser muito amorosa”, disse sua mãe.
Grécia Pessoni, gerente de imunização de Goiânia, afirmou que vacinar crianças e adolescentes contra o HPV ainda é um desafio para a saúde pública. “No início, em 2014, muitos pais demonstraram preconceito, pois associaram a vacinação contra o HPV ao estímulo do início da atividade sexual. Disseram que a vacina poderia causar reações adversas e várias outras notícias falsas.” Ela conta que, mesmo com essas barreiras, continuaram insistindo e incentivando as campanhas nas escolas. A aceitação da vacina pelas crianças e adolescentes foi maior, pois “eles são encorajados pelos colegas”.
Crédito das fotos: Karina Zambrana