22 de junho de 2022 (OMS) – O desenvolvimento de novos tratamentos antibacterianos é inadequado para lidar com a crescente ameaça de resistência aos antibióticos, de acordo com o relatório anual da Organização Mundial da Saúde (OMS). O relatório de 2021 descreve o pipeline clínico e pré-clínico antibacteriano como estagnado e longe de atender às necessidades globais. Desde 2017, apenas 12 antibióticos foram aprovados, 10 dos quais pertencem às classes existentes com mecanismos estabelecidos de resistência antimicrobiana.
“Há uma grande lacuna na descoberta de tratamentos antibacterianos e, mais ainda, na descoberta de tratamentos inovadores”, afirmou Hanan Balkhy, diretora-geral assistente da OMS sobre resistência antimicrobiana. “Isso representa um sério desafio para superar a crescente pandemia de resistência antimicrobiana e deixa cada um de nós cada vez mais vulnerável a infecções bacterianas, incluindo as infecções mais simples”.
De acordo com as análises anuais da OMS, em 2021 havia apenas 27 novos antibióticos em desenvolvimento clínico contra patógenos prioritários, abaixo dos 31 produtos em 2017. Na fase pré-clínica, antes do início dos ensaios clínicos, o número de produtos permaneceu relativamente constante nos últimos três anos.
O relatório descreve que, dos 77 agentes antibacterianos em desenvolvimento clínico, 45 são pequenas moléculas tradicionais de ação direta e 32 são agentes não tradicionais. Exemplos deste último são anticorpos monoclonais e bacteriófagos, que são vírus que podem destruir bactérias. Como os antibióticos agora têm uma vida útil limitada antes do surgimento da resistência aos medicamentos, as abordagens não tradicionais oferecem novas oportunidades para combater infecções por bactérias resistentes de diferentes ângulos, pois podem ser usadas de forma complementar e sinérgica ou como alternativas às terapias estabelecidas.
As barreiras ao desenvolvimento de novos produtos incluem o longo caminho para aprovação, alto custo e baixas taxas de sucesso. Atualmente, leva aproximadamente 10 a 15 anos para progredir um candidato a antibiótico do estágio pré-clínico para o clínico. Para antibióticos nas classes existentes, em média, apenas um em cada 15 medicamentos em desenvolvimento pré-clínico chegará aos pacientes. Para novas classes de antibióticos, apenas um em cada 30 medicamentos candidatos chegará aos pacientes.
Dos 27 antibióticos no pipeline clínico que tratam de patógenos prioritários, apenas seis atendem a pelo menos um dos critérios de inovação da OMS. A falta de inovação mina rapidamente a eficácia do número limitado de novos antibióticos que chegam ao mercado. Em média, a resistência é relatada à maioria dos novos agentes dois a três anos após a entrada no mercado.
“O tempo está se esgotando para se antecipar à resistência antimicrobiana, o ritmo e o sucesso da inovação estão muito abaixo do que precisamos para garantir os ganhos da medicina moderna contra condições antigas, mas devastadoras, como a sepse neonatal”, ressaltou Haileyesus Getahun, diretor da Coordenação Global de resistência antimicrobiana. Aproximadamente 30% dos recém-nascidos com sepse morrem devido a infecções bacterianas resistentes aos antibióticos de primeira linha.
A pandemia de COVID-19 também prejudicou o progresso, atrasou os ensaios clínicos e desviou a atenção dos investidores já limitados. Grande parte da inovação em antibióticos é impulsionada por pequenas e médias empresas, que estão lutando para encontrar investidores que financiem o desenvolvimento clínico em estágio avançado até a aprovação regulatória. Não é incomum que as empresas suspendam o desenvolvimento de produtos por vários anos, na esperança de garantir o financiamento para continuar o desenvolvimento em um estágio posterior ou que o produto possa ser comprado por outra empresa. Muitos vão à falência.
Portanto, são necessários investimentos urgentes e combinados em pesquisa e desenvolvimento por parte dos governos e do setor privado para acelerar e expandir o número de antibióticos em fase de teste clínicos, especialmente aqueles que podem causar impacto em ambientes de poucos recursos, que são os mais afetados pela resistência antimicrobiana. Os países devem trabalhar juntos para encontrar soluções sustentáveis e incentivos para pesquisa, desenvolvimento, inovação e para criar um ecossistema viável para antibióticos.