21 de setembro de 2020 – Desde junho deste ano, um grupo de especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) tem viajado por todo o Brasil para trocar experiências sobre o enfrentamento da COVID-19. O grupo de profissionais tem levado experiências pessoais de onde atuam e aprendido com os locais visitados. A missão inclui conhecer o funcionamento de unidades de saúde, como hospitais, Unidades Básicas de Saúde (UBS) e serviços laboratoriais com o objetivo de entender o trabalho implementado nos estados e municípios.
Até esta segunda-feira (21/9), quatro estados já haviam recebido a comitiva de especialistas da OPAS, composta por profissionais de diferentes estados e instituições das áreas de vigilância em saúde, assistência, laboratório e comunicação de risco. São eles: Minas Gerais, Maranhão, Paraná e Amazonas. A missão continua até o final do ano de 2020, sendo o estado do Pará o próximo local a ser visitado.
A coordenadora de Vigilância, Preparação e Resposta a Emergências e Desastres da OPAS e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, Maria Almiron, lidera a missão. Ela destaca o trabalho dos profissionais envolvidos e o aprendizado conquistado até o momento. “Estamos aprendendo muito com os estados e municípios visitados, que têm conseguido enfrentar a pandemia da COVID-19 mesmo diante dos desafios da realidade dos países das Américas. Sem dúvidas esse intercâmbio de experiências ajudará nas tomadas de decisões dos gestores e melhoria da rede de saúde” comentou Maria Almiron.
Entre os especialistas que compõem a comitiva estão profissionais com grande expertise na área de emergências em saúde pública que atuam em diferentes instituições do Brasil. É o caso da médica infectologista e coordenadora da UTI de Doenças Infecciosas do Hospital das Clínicas de São Paulo, Ho Yeh Li.
“A pandemia iniciou de forma desigual em diversas regiões do mundo. O mesmo se aplica ao Brasil, que tem dimensões territoriais continentais e características populacionais totalmente distintas. Desta forma, o comportamento da epidemiologia foi diferente. Neste momento, algumas áreas estão em declínio dos casos e outras ainda em crescimento. Por isso, a troca de experiências entre diferentes municípios e estados traz oportunidades de melhoria evitando que todos comecem do zero”, afirmou Ho Yeh Li.
O pesquisador titular e diretor da Fiocruz São Paulo, Rodrigo Stabeli, citou a pandemia da COVID-19 como a maior crise da humanidade moderna e, por isso, o seu combate deve passar necessariamente pela troca de experiências. “Tenho aprendido muito com a relação estabelecida em cada estado percorrido. Entender o contraste das necessidades de saúde dos rincões brasileiros, sejam eles no Norte, Nordeste ou até mesmo Sudeste é trabalhar em um futuro centrado nas necessidades de cuidado da população, fortalecendo cada vez mais a saúde pública. E, diante da maior crise da humanidade, a escuta e troca de experiência é absolutamente necessária para que possamos construir coletivamente a saúde do “novo normal” com segurança e, sobretudo, com mãos unidas e comprometidas com o outro”, pontuou Stabeli.
Já o pesquisador da Fiocruz no Rio de Janeiro, André Machado de Siqueira, destacou as diversidades de estratégias e soluções criadas no âmbito da saúde pública nos mais diversos contextos. “Isso ilustra a capacidade e força do SUS na resposta à emergências e crises que atingem a população brasileira. Temos a oportunidade de interagir com profissionais e usuários da linha de frente dos Estados e municípios e saímos todos engrandecidos do processo que deve reverter-se em aprimoramento das estratégias. O processo como um todo tem o potencial de fortalecer o SUS não só no enfrentamento da pandemia da COVID-19, mas também no melhor preparo para lidar com outras emergências em saúde pública e melhorar a assistência à saúde da população”, argumentou.
Na área de Vigilância em Saúde, o pesquisador da Fiocruz, Júlio Croda, falou sobre as inovações que vêm sendo realizadas em cada região. “A troca de experiência como consultor na equipe da OPAS é fundamental para consolidar inovações na área de vigilância em saúde com o olhar diferenciado regional. A incorporação de soluções adaptadas às realidades locais pode mudar o curso da doença e evitar milhares de mortes”, disse.
O médico infectologista, Dario Brock Ramalho, que é subsecretário de Vigilância em Saúde de Minas Gerais, disse que a missão é uma oportunidade de reinventar-se. “A oportunidade de troca de experiências se faz sobremaneira valiosa durante esses períodos de resposta às crises porque precisamos nos reinventar. E como estamos muitas vezes imersos naquela realidade e sobrecarregados, apenas através destas trocas e da oportunidade de observar outras realidades e soluções, podemos amadurecer as decisões importantes que o gestor deve tomar”, informou.
Estrutura laboratorial
Entre os eixos analisados durante as visitas aos estados e municípios está a estrutura laboratorial do país para enfrentamento da pandemia. As recomendações da OPAS para os países das Américas é expandir sua capacidade laboratorial e usar tudo o que está disponível em nível nacional; priorizar pacientes sintomáticos, rastrear contatos e acompanhar aqueles que podem estar infectados; e garantir o acesso de todos a testes, para que o acesso a eles seja gratuito para os pacientes.
Essas recomendações têm sido reforçadas com os estados e municípios, já que a testagem da população proporciona uma visão mais clara sobre onde o vírus está circulando e quantas pessoas foram infectadas para guiar as ações de saúde pública. Onde há necessidade de aprimoramento da testagem, a OPAS tem orientado e ofertado ajuda para criação de planos de rastreamento de contato, por exemplo.
No primeiro semestre deste ano, o Ministério da Saúde do Brasil adquiriu, via Fundo Estratégico da OPAS, 10 milhões de testes RT-PCR, que detectam se a pessoa está infectada com o coronavírus causador da COVID-19. A aquisição desses materiais é feita com recursos do governo brasileiro via Fundo Estratégico da OPAS, um mecanismo de compras internacional criado em 2000 para auxiliar os países e territórios das Américas a terem acesso a insumos de alta qualidade para a saúde.
Comunicação de risco
Por fim, outro tema analisado nas missões é a comunicação de risco. Nas missões já feitas, foram identificadas importantes estratégias de manejo da desinformação e mecanismos para informar a população com frequência – por meio de uso de redes sociais, coletivas de imprensa regulares, carros de som, entre outros –, além de pontos a serem fortalecidos em relação à forma de divulgação.
A adoção de estratégias de comunicação de risco e engajamento comunitário ajudam a prevenir infodemias (uma quantidade excessiva de informação sobre um problema, que dificulta a identificação de uma solução), bem como a criar confiança nas ações de enfrentamento à COVID-19 e a aumentar a probabilidade de que as orientações de saúde sejam seguidas. Esse trabalho também minimiza rumores e mal-entendidos, evitando que minem as respostas e levem a uma maior disseminação da doença.