19 de janeiro de 2018 – A apresentadora e chef de cozinha Bela Gil destacou nesta sexta-feira (19), em evento no escritório da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil, a necessidade de democratização dos alimentos saudáveis e a importância da rotulagem frontal de alimentos no país, entre outros temas também defendidos pelo organismo internacional.
Segundo Bela Gil, para ser nutritiva, a alimentação precisa ser diversificada. Ela pontuou que a modernização da agricultura acabou tornando monótona a mesa dos brasileiros. “O Brasil inteiro come basicamente a mesma coisa. O café da manhã de grande parte das pessoas, por exemplo, é composto por pão com manteiga ou margarina. Isso é uma pena, considerando que temos culturas regionais maravilhosas”, disse.
A chef de cozinha revelou também que existem, em todo o mundo, aproximadamente 75 mil espécies de plantas comestíveis. No entanto, as pessoas consomem, em média, apenas cinco mil delas. “Somente 150 espécies representam a maioria dos ingredientes que usamos. Comemos todos os dias o mesmo arroz, feijão, couve, espinafre, alface. Isso precisa mudar.” Bela afirmou que a transformação dessa realidade só será possível quando a alimentação saudável for, de fato, acessível a todas as pessoas.
Os alimentos ultraprocessados e industrializados costumam ser mais acessíveis e práticos. Entretanto, o preço a ser pago por escolhas alimentares pouco saudáveis e nutritivas pode ser alto no futuro. “Temos que educar nossos filhos e mostrar para eles que é bom cozinhar. Vejo jovens saindo de casa sem saber ao menos fritar um ovo. Serão adultos que ficarão à mercê da indústria alimentícia. Quando criamos pessoas que sabem cozinhar pelo menos o básico, criamos pessoas independentes de uma indústria que, em geral, não pensa em nosso bem-estar”, reforçou.
Além da nutrição
Para a chef de cozinha, comer não tem a ver apenas com nutrição. “É um ato político. No entanto, isso acontece quando as pessoas têm a oportunidade de escolher o que vão comer e, muitas vezes, existem pessoas que nem têm o que comer. Por isso, trabalho pela democratização da alimentação saudável e acho muito importante levarmos essa oportunidade para todas as pessoas. Trabalhando em conjunto, pensando em mudanças nas políticas públicas, conseguiremos fazer com que a alimentação saudável chegue a todos”, destacou.
Rotulagem de alimentos
Bela Gil declarou seu apoio à implementação do modelo de rotulagem frontal de alimentos para o Brasil proposto pela OPAS/OMS e outras entidades, com base no padrão utilizado no Chile. “Se uma pessoa consumir um refrigerante, vai ver que ele tem um alto teor de açúcar. A batata frita, um alto teor de gordura e sódio. São pequenos avisos que podem fazer toda a diferença, pois mudam a reação do consumidor em relação ao produto. A transparência é muito importante.”
A OPAS acredita que o Brasil se beneficiará da adoção desse novo modelo de rotulagem de alimentos, que permitirá ao consumidor fazer escolhas mais saudáveis. O tema está sendo analisado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com a participação de diversas instituições.
A Organização defende que os rótulos de alimentos processados e ultraprocessados informem de maneira direta e rápida ao consumidor se há excesso de sódio, açúcar, gordura total, gordura trans, gordura saturada e/ou adoçantes. Para isso, a parte frontal da embalagem deve trazer um selo em formato de octógono, com fundo preto e letras brancas, que informe sobre o alto teor desses nutrientes críticos.
De acordo com Alice Medeiros, consultora em nutrição da OPAS/OMS Brasil, é necessário que os rótulos de alimentos processados e ultraprocessados informem de maneira direta e rápida ao consumidor se há excesso de sódio, açúcar, gordura total, gordura trans, gordura saturada e/ou adoçantes. “O modelo de advertência frontal permite que o consumidor tome uma decisão critica sobre os alimentos industrializados. Essas informações são fundamentais para que a população brasileira possa fazer escolhas conscientes sobre aquilo que está comendo.”
Esse modelo, que já se mostrou eficaz no Chile e cuja implantação está sendo estudada pelo Uruguai, foi escolhido após diversos estudos científicos e de opinião evidenciarem que a advertência frontal é a que mais ajuda a população a identificar produtos com excesso de nutrientes críticos.