Falta de água aumenta o risco de infecção por COVID-19 para profissionais de saúde e pacientes
Genebra/Nova York, 14 de dezembro de 2020 - Cerca de 1,8 bilhão de pessoas correm maior risco de contrair COVID-19 e outras doenças porque usam ou trabalham em estabelecimentos de saúde sem serviços básicos de água, alertam a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
“Trabalhar em um centro de saúde sem água, saneamento e higiene é o mesmo que enviar enfermeiras e médicos para trabalharem sem equipamento de proteção individual”, disse o Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “O abastecimento de água, saneamento e higiene nos estabelecimentos de saúde são fundamentais para interromper a COVID-19. Mas ainda há grandes lacunas a superar, especialmente nos países menos desenvolvidos”.
A publicação Global progress report on WASH in health care facilities: fundamentals first surge no momento em que a COVID-19 expõe vulnerabilidades importantes nos sistemas de saúde, incluindo prevenção e controle de infecções inadequados.
Água, saneamento e higiene são vitais para a segurança dos trabalhadores de saúde e pacientes, mas a prestação desses serviços não é priorizada em todo o mundo, um em cada quatro estabelecimentos de saúde não tem serviços de água; um em cada três não tem acesso à higienização das mãos onde o atendimento é prestado, um em cada 10 não tem serviços de saneamento básico* e um em cada três não faz a separação dos resíduos com segurança.
“Enviar profissionais de saúde e pessoas que precisam de tratamento para estabelecimentos sem água potável, banheiros seguros ou mesmo sabonetes coloca suas vidas em risco”, disse a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore. “Isso certamente era verdade antes da pandemia de COVID-19, mas este ano tornou essas disparidades impossíveis de se ignorar. À medida que imaginamos e moldamos um mundo pós-COVID-19, certificar-se de que estamos enviando crianças e mães para locais de cuidados equipados com água, saneamento e serviços de higiene adequados não é apenas algo que podemos e devemos fazer. É uma necessidade absoluta”.
A situação é a pior de todas nos 47 países menos desenvolvidos (LDCs, sigla em inglês) do mundo: um em cada dois estabelecimentos de saúde não tem água potável básica, um em cada quatro estabelecimentos de saúde não tem instalações de higiene das mãos nos pontos de atendimento; e três em cada cinco carecem de serviços de saneamento básico.
Mas isso pode ser consertado. As estimativas preliminares do relatório indicam que custaria cerca de US$ 1 per capita para permitir que todos os 47 países menos desenvolvidos estabeleçam serviços básicos de água nas unidades de saúde. Em média, são necessários US$ 0,20 per capita a cada ano para operar e manter os serviços.
De acordo com o relatório, os investimentos adicionais e imediatos em higiene têm grandes retornos: melhorar a higiene nas unidades de saúde é a “melhor compra” (tradução livre do termo “best buy”) para combater a resistência antimicrobiana. Reduz os custos dos cuidados de saúde porque reduz as infecções associadas, cujo tratamento é caro. Isso economiza tempo, pois os profissionais de saúde não precisam procurar água para higienizar as mãos. Uma melhor higiene também aumenta a utilização de serviços. Isso tudo resulta em um retorno de US$ 1,5 para cada dólar investido.
Esses serviços são especialmente críticos para as populações vulneráveis, incluindo mães grávidas, recém-nascidos e crianças. Melhorar os serviços de higiene nas unidades de saúde é particularmente importante no momento do parto, quando muitas mães e recém-nascidos sofrem e morrem por doenças evitáveis como a sepse. Melhores serviços de higiene poderiam salvar a vida de um milhão de mulheres grávidas e recém-nascidos e reduzir os natimortos.
O relatório fornece quatro recomendações principais:
- Implementar roteiros nacionais custeados com financiamento apropriado;
- Monitorar e revisar regularmente o progresso na melhoria dos serviços, práticas e ambiente propício de higiene e limpeza;
- Desenvolver capacidades da força de trabalho de saúde para sustentar os serviços de higiene e limpeza e promover e praticar boa higiene;
- Integrar a higiene no planejamento, orçamento e programação regular do setor de saúde, incluindo esforços de resposta e recuperação da COVID-19 para fornecer serviços de qualidade.
Os parceiros em WASH (água, saneamento e higiene) e os parceiros no âmbito da saúde mostraram o seu apoio para cumprir as metas de higiene globais e nacionais nas unidades de saúde. Até 2020, mais de 130 parceiros comprometeram recursos, dos quais 34 assumiram compromissos financeiros dedicados, totalizando US$ 125 milhões.
No entanto, a implementação da Resolução da Assembleia Mundial da Saúde de 2019 sobre higiene nas unidades de saúde é desigual. Dos quase 50 países para os quais a OMS e o UNICEF possuem dados, 86% atualizaram os padrões e 70% realizaram avaliações iniciais que mostram que essas áreas geralmente estão no caminho certo. No entanto, apenas um terço dos países custearam um modelo de higiene nacional em unidades de saúde e apenas 10% incluíram indicadores de higiene no monitoramento de sistemas nacionais de saúde.
Torna-se necessário um financiamento mundial que sirva de estímulo, assim como apoio técnico e recursos nacionais são necessários para manter os profissionais de saúde e pacientes seguros e protegidos. Agora é a oportunidade para aproveitar os esforços e compromissos existentes e integrar a política de higiene nas unidades de saúde em todos os planos nacionais contra a COVID-19, distribuição de vacinas e pacotes de recuperação econômica.
“Para milhões de profissionais de saúde em todo o mundo, água é como um EPI”, disse Jennifer Sara, diretora de Água do Grupo Banco Mundial. “É essencial que o financiamento continue fluindo para levar os serviços de água e saneamento para aqueles que lutam contra a crise de COVID-19 na linha de frente. O financiamento em higiene nas unidades de saúde está entre os investimentos mais econômicos que os governos podem fazer”.
Dados publicados pela OMS em outubro indicam que as infecções por COVID-19 entre profissionais de saúde são muito maiores do que na população em geral: os profissionais de saúde representam menos de 3% da população, mas respondem por 14% dos casos globais de COVID-19 notificados à OMS. É imperativo garantir que os profissionais de saúde tenham as necessidades básicas de higiene para manter seguros a si próprios, seus pacientes, suas famílias e crianças.
"Milhões de pessoas não têm outra opção a não ser buscar atendimento em 50% das unidades de saúde nos países em desenvolvimento que não têm água potável nas instalações. Isso não pode continuar. Todos os dias, tanto a vida dos profissionais de saúde, quanto dos pacientes estão sendo colocadas em risco", disse Tim Wainwright, executivo-chefe da instituição de caridade internacional WaterAid. "Sem os profissionais de saúde da linha de frente sendo capazes de lavar as mãos; fornecer água limpa a seus pacientes; ou ter um lugar decente para ir ao banheiro, um hospital não é um hospital - é um terreno fértil para doenças”.
Nota aos Editores
Os dados do relatório deste ano incluem estatísticas de 165 países, a partir de pesquisas que representam 760 mil unidades de saúde. Em comparação com o relatório de referência do ano passado, as estimativas estavam disponíveis para 125 países com dados de pesquisas representando 560 mil unidades de saúde. Os dados sobre o progresso dos países na implementação da Resolução da Assembleia Mundial da Saúde representam 47 países. É a primeira vez que esses dados são compilados e analisados.
Os serviços de WASH são medidas tomadas para garantir a gestão higiênica dos excrementos em todas as etapas da cadeia de saneamento: captação, contenção, esvaziamento, transporte, tratamento e disposição segura.