OPAS/OMS destaca no Rio de Janeiro que enfrentar estigma é fundamental para deter transmissão da hanseníase

lepra

3 de março de 2019 – A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) afirmou nesta terça-feira (12), dno município do Rio de Janeiro, que o estigma associado à hanseníase tem dificultado os esforços para interromper a transmissão dessa doença. A declaração foi dada por Isabelle Roger, assessora regional em Doenças Negligenciadas da OPAS/OMS, durante a abertura do I Encontro Latino-americano e Caribenho de Entidades de Pessoas atingidas pela Hanseníase.

O evento reúne, até o dia 14, membros de diversas instituições nacionais e internacionais, além da sociedade civil organizada, de países da América Latina – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, México, Paraguai e Peru – além de integrantes de instituições dos Estados Unidos, Alemanha e Japão, que participam como observadores. O encontro é promovido pelo Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), do Brasil, e a Federação de Entidades de Pessoas afetadas pela Hanseníase (Felehansen), da Colômbia, com o apoio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Brasil, e da Fundação Nippon, do Japão.

“Enfrentar as barreiras sociais para reduzir a transmissão e acabar com o estigma e a discriminação contra as pessoas afetadas pela hanseníase é responsabilidade de todos. Acredito que este Encontro histórico – que é o primeiro a reunir associações, grupos e líderes de pessoas afetadas pela hanseníase de várias partes das Américas – será uma importante contribuição para alcançarmos esse objetivo”, afirmou Isabelle Roger.

Atualmente, mais de 200 mil novos casos de hanseníase são detectados no mundo a cada ano, dos quais 80% ocorrem em três países – Brasil, Índia e Indonésia. A doença foi eliminada como problema de saúde pública em 23 países das Américas (ou seja, há menos de um caso de hanseníase por cada 10 mil habitantes registrados para tratamento no país).

Em 2017, 29.101 novos casos de hanseníase foram registrados no continente, mais de 93% deles no Brasil. Por isso, a OPAS/OMS tem se empenhado para, junto com os diversos parceiros, apoiar ações voltadas para livrar os países dessa doença.

O trabalho é feito com base na Estratégia Global para Hanseníase, que descreve três pilares gerais para garantir um mundo sem a doença, com zero transmissão, zero incapacidade e zero estigma. Esses pontos se concentram em fortalecer a apropriação, coordenação e parcerias dos governos; em deter a hanseníase e suas complicações; e em acabar com a discriminação e promover a inclusão.

Essa Estratégia também exige uma série de medidas para combater a discriminação vivida pelas pessoas afetadas pela hanseníase, entre elas: assegurar que as pessoas com a doença, assim como suas comunidades, sejam empoderadas a participar ativamente dos serviços de atenção; que aqueles que possuem a doença tenham melhor acesso aos serviços de apoio social e financeiro; que seja promovida a reabilitação baseada na comunidade para pessoas com incapacidades relacionadas à hanseníase; e que leis discriminatórias sejam abolidas e políticas implementadas para facilitar a inclusão de pessoas afetadas.

A hanseníase é uma condição crônica e transmissível causada pela bactéria Mycobacterium leprae, que se multiplica lentamente, levando a sintomas que podem demorar até 20 anos para aparecer. Ela afeta principalmente os nervos periféricos e está associada a lesões cutâneas características. Sem tratamento, pode causar danos aos nervos, demonstrados por fraqueza nas mãos e pés e pela presença de deformidade visível. Embora a doença seja completamente curável com uma terapia múltipla de medicamentos (MDT), que é gratuita, a demora em iniciar o tratamento pode levar à incapacidade permanente.

Também participam do evento o Mandato das Nações Unidas (ONU) para a Eliminação da Discriminação contra as Pessoas Atingidas pela Hanseníase e seus Familiares (relatora especial Alice Cruz), o Ministério da Saúde do Brasil, a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e movimentos sociais de dez países.