11 de junho de 2019 – Uma em cada cinco pessoas (22%) que vivem em áreas afetadas por conflitos tem depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno bipolar ou esquizofrenia – constata análise de 129 estudos publicada na revista científica The Lancet. Além disso, cerca de 9% dessas populações sofrem com condições de saúde mental moderadas a graves. Os números são substancialmente mais altos do que a estimativa global para essas condições de saúde mental na população em geral, que é de uma em cada 14 pessoas.
A depressão e a ansiedade parecem aumentar com a idade em contextos de conflito e a depressão é mais comum entre mulheres do que homens.
Os achados sugerem que estudos anteriores subestimaram a carga das condições de saúde mental em áreas afetadas por conflitos – com taxas mais altas de condições graves (5% ao mesmo tempo no novo estudo, comparado a 3%-4% em um período de 12 meses, segundo estimativas de 2005) e também de condições leves a moderadas (17% ao mesmo tempo nas novas estimativas, em comparação com 15%-20% em um período de 12 meses em informações anteriores).
Em geral, a prevalência média foi maior para condições de saúde mental leves (13%). Para condições moderadas, a prevalência foi de 4%; e para condições graves, de 5%.
As estimativas revisadas utilizam pesquisas de 129 estudos e dados de 39 países publicados entre 1980 e agosto de 2017, incluindo 45 novos estudos publicados entre 2013 e agosto de 2017. Foram incluídos cenários que vivenciaram conflitos nos últimos 10 anos. Havia dados limitados para transtorno bipolar e esquizofrenia, portanto, as estimativas para essas condições foram baseadas em números globais e não levam em consideração nenhum risco aumentado dessas condições em contextos de conflito. Os casos foram categorizados como leves, moderados ou graves. Desastres naturais e emergências de saúde pública, como o ebola, não foram incluídos.
"Estou confiante de que nosso estudo fornece as estimativas mais precisas disponíveis atualmente sobre a prevalência de condições de saúde mental em áreas de conflito", disse a principal autora do estudo, Fiona Charlson, da Universidade de Queensland, Austrália, e do Institute for Health Metrics and Evaluation, Estados Unidos. “As estimativas de estudos anteriores eram inconsistentes, com algumas taxas inconcebivelmente baixas ou altas. Neste estudo, usamos critérios de inclusão e exclusão mais rigorosos para a pesquisa bibliográfica, estratégias avançadas de busca e métodos estatísticos.”
Estão em curso grandes crises humanitárias induzidas por conflitos em vários países, incluindo Afeganistão, Iraque, Nigéria, Somália, Sudão do Sul, Síria e Iêmen. Em 2016, o número de conflitos armados atingiu a maior alta de todos os tempos, com 53 conflitos em andamento em 37 países e 12% da população mundial vivendo em zona de conflito ativa. Quase 69 milhões de pessoas em todo o mundo foram deslocadas forçadamente pela violência e pelo conflito, o maior número desde a Segunda Guerra Mundial.
“As novas estimativas, juntamente com ferramentas práticas já disponíveis para ajudar as pessoas com condições de saúde mental em emergências, adicionam ainda mais peso ao argumento de investimento imediato e sustentado para que o apoio emocional e psicossocial seja disponibilizado a todas as pessoas que vivem o conflito e suas consequências”, disse o autor do estudo, Mark van Ommeren, do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Ommeren afirmou que, “em situações de conflito e outras emergências humanitárias, a OMS fornece apoio de várias maneiras: em primeiro lugar, auxiliando na coordenação e avaliando as necessidades de saúde mental das populações afetadas; em segundo lugar, determinando o apoio existente disponível no terreno e o que mais for necessário; e, em terceiro lugar, ajudando a fornecer a capacidade de suporte quando isso não for suficiente, seja por meio de treinamento ou por meio de recursos adicionais”. “Apesar de suas trágicas consequências, quando a vontade política existe, as emergências podem ser catalisadoras para a construção de serviços de saúde mental sustentáveis e de qualidade, que continuam a ajudar as pessoas a longo prazo”, acrescentou.
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