6 de março de 2019 – Metade de todas as mortes entre jovens de 10 e 24 anos nas Américas se deve a homicídios, mortes no trânsito e suicídios, todas elas evitáveis, revela novo relatório lançado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
O documento “The Health of Adolescents and Youth in the Americas: Implementation of the Regional Strategy and Plan of Action on Adolescent and Youth Health 2010-2018” apresenta e analisa os mais recentes dados disponíveis sobre a saúde de jovens que vivem em 48 países e territórios das Américas. Inclui informações sobre causas de morte, doenças com as quais sofrem, saúde sexual e reprodutiva, uso de substâncias, nutrição e níveis de atividade física.
“Embora tenham sido feitos progressos em toda a região para garantir um maior acesso aos cuidados de saúde, muitas das intervenções para evitar que os jovens morram precocemente estão fora do setor de saúde”, disse Carissa F. Etienne, diretora da OPAS. "Precisamos aumentar os esforços em todos os setores para garantir que os jovens não apenas sobrevivam, mas prosperem", acrescentou.
Cerca de 237 milhões de jovens com idade entre 10 e 24 anos vivem nas Américas, representando um quarto da população total da região. Apesar de representar uma enorme prioridade demográfica, no entanto, as taxas de mortalidade juvenil diminuíram ligeiramente entre 2000 e 2015.
O relatório destaca seis recomendações para melhorar a saúde dos jovens nas Américas: assegurar que os programas de saúde para adolescentes e jovens sejam bem financiados e envolvam outros setores além da saúde; promover sistemas de saúde que respondam às necessidades dos jovens; usar abordagens baseadas em evidências que visam grupos vulneráveis; implementar programas de monitoramento e avaliação para que melhorias contínuas sejam feitas; treinar quem trabalha com jovens; e capacitar e engajar os jovens como agentes de mudança em suas comunidades e países.
Principais causas de morte e doença
As três principais causas de morte entre os jovens nas Américas são evitáveis. Os homicídios são os “principais assassinos”, sendo responsáveis por 24% de toda a mortalidade, seguidos pelas mortes no trânsito (20%) e pelo suicídio (7%).
O relatório revela que um número significativo de jovens na região continua sofrendo com problemas de saúde, sendo os indígenas, população negra, comunidade LGBTI e jovens migrantes os mais afetados. “Os países devem agir para que todos os jovens, incluindo os mais vulneráveis, tenham acesso aos serviços de saúde dos quais precisam, sem deixar ninguém para trás”, afirmou Sonja Caffe, assessora regional de saúde do adolescente na OPAS. “Uma juventude saudável garantirá adultos mais saudáveis no futuro”, acrescentou.
Taxa de mortalidade maior para homens
Oitenta por cento das 230 mil mortes anuais de jovens nas Américas ocorrem entre homens, incluindo nove em cada dez mortes por homicídio; quatro em cada cinco mortes no trânsito; e três em cada quatro mortes por suicídio.
As taxas de homicídio entre jovens de 10 a 24 anos variaram de 3 por cada 100 mil em Honduras a 121,3 por cada 100 mil nas Bahamas em 2013 e 2014. Para as mulheres, as taxas variaram de 0,2 por cada 100 mil em Honduras a 21,1 em São Vicente e Granadinas.
"É importante que os países reconheçam que taxas de mortalidade mais altas entre homens jovens se devem, em parte, à pressão que enfrentam para aderir às normas de gênero que podem contribuir para comportamentos prejudiciais, como agressão e assunção de riscos", alegou Caffe. "É por isso que é tão importante que o setor de saúde trabalhe com famílias, escolas e comunidades, a fim de lidar com as normas sociais que afetam sua saúde física e mental."
As taxas de suicídio também continuam aumentando em toda a região. Enquanto mais mulheres jovens tentam suicídio, mais homens jovens morrem por essa causa. As taxas de suicídio entre mulheres de 10 a 24 anos variaram de 0,7 por cada 100 mil em Porto Rico a 19,4 por cada 100 mil na Guiana Francesa em 2013 e 2014. Para os homens, as taxas variam de 1,6 por cada 100 mil em Honduras a 51,6 por cada 100 mil na Guiana Francesa.
Segunda maior taxa de gravidez na adolescência do mundo
A América Latina e o Caribe têm a segunda maior taxa de gravidez entre adolescentes no mundo, estimada em 66,5 nascimentos por cada 1.000 meninas entre 15 e 19 anos para o período de 2010-2015, em comparação com uma média mundial de 46 nascimentos por cada 1.000 meninas.
Embora o número total de crianças por mulher adulta tenha diminuído na América Latina e no Caribe nos últimos 30 anos, as taxas de gravidez na adolescência praticamente não decresceram. A América Latina e o Caribe também compõem a única região que experimenta uma tendência crescente de gravidez na adolescência entre meninas com menos de 15 anos. Alguns países, no entanto, estão começando a ver um declínio mais rápido nas taxas de gravidez de adolescentes.
A mortalidade materna foi a quarta principal causa de morte entre mulheres de 10 a 24 anos nas Américas durante 2010-2014, devido a complicações na gravidez e no parto em adolescentes.
Em números
- Mais de 45 mil jovens entre 15 e 24 anos morrem por homicídio a cada ano nas Américas. Embora existam variações de um país para outro, 60%-70% delas envolvem armas de fogo.
- Cerca de 30 mil jovens entre 15 e 24 anos morrem a cada ano em decorrência de acidentes de trânsito na região. Novos condutores adolescentes são até 10 vezes mais propensos a sofrerem acidentes do que adultos.
- Cerca de 12 mil jovens entre 15 e 24 anos morrem por suicídio todos os anos no continente americano.
- As adolescentes com educação primária ou menos têm até quatro vezes mais probabilidades de iniciar a maternidade do que meninas com ensino médio ou superior.
- A porcentagem de usuários de tabaco entre adolescentes de 13 a 17 anos nas Américas varia de 1,9% no Canadá a 28,7% na Jamaica.
- Em 21 países que possuem dados, entre 10% e 20% dos estudantes indicaram que às vezes acabam passando fome por não ter comida suficiente em casa.
- A taxa de alfabetização de jovens entre 15 e 24 anos nas Américas é superior a 98%. No entanto, jovens matriculadas e matriculados no ensino médio variam entre 60% e 80% e, em alguns países, abaixo de 50%.