29 de julho de 2019 – A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) apresentou a situação da difteria na Região das Américas nesta segunda-feira (29), em Belo Horizonte, durante o MEDTROP-PARASITO 2019. Esse evento de medicina tropical reunirá, até 31 de julho, pesquisadores, cientistas, profissionais de saúde e estudantes.
Atualmente, dois países se encontram em surto da doença na Região. O Haiti, que, do início do surto, em 2014, até junho deste ano, notificou 852 casos prováveis, 276 confirmados e 108 mortes. E a Venezuela, que desde o começo do surto, em 2016, registrou até junho deste ano 2.897 casos suspeitos, dos quais 1.721 foram confirmados, e 286 resultaram em óbitos.
Lely Guzman, especialista em Imunização da OPAS, ressaltou que a difteria é uma doença considerada controlada nas Américas. “Mas esse ´controlado´ é entre aspas, porque a situação de Haiti e Venezuela acende um alerta para a Região e, mais especificamente, os países que fazem fronteira com eles: Colômbia, Brasil e República Dominicana. Isso porque populações não vacinadas estão vulneráveis a surtos de difteria”.
Para proteger as populações, a OPAS considera ser importante que três doses da vacina contra a doença sejam dadas já ao longo do primeiro ano de vida. Posteriormente, durante a infância e/ou adolescência, devem ser aplicadas outras três doses de reforço – de preferência com um espaço de quatro anos entre elas. Esse esquema vacinal protegerá a pessoa até pelo menos os 39 anos de idade (possivelmente mais).
No caso de indivíduos que estão há mais de cinco anos sem serem vacinados contra difteria e que viajarão para zonas onde há surtos em andamento, a OPAS recomenda administrar uma dose extra de reforço – ou seja, mesmo que já tenham tomado todas as seis. Para profissionais de saúde, é recomendada uma dose extra após cinco anos da última vacinação mesmo que não visitem áreas de risco.
Pessoas de qualquer idade que não estiverem vacinadas ou estejam com a vacinação incompleta devem receber as doses necessárias para completar o esquema. A imunização é fundamental para prevenir surtos e a gestão clínica adequada reduz as chances de complicações e morte.
Lições aprendidas
A especialista em imunização da OPAS destacou ainda, no MEDTROP-PARASITO 2019, uma série de lições aprendidas dos surtos de difteria no Haiti e na Venezuela, que são:
1. O acúmulo de pessoas suscetíveis (não vacinadas) favorece a ocorrência de surtos
2. É preciso manter os profissionais de saúde atualizadas para detectar e manejar casos rapidamente
3. É fundamental a correta caracterização e avaliação de risco do surto para a definição do público-alvo das ações de controle, como: i) manipuladores de alimentos (especialmente produtos lácteos, devido à relação com C. ulcerans); ii) trabalhadores da saúde; iii) crianças menores de 5 anos não vacinadas; iv) escolares; v) militares; e vi) pessoas privadas de liberdade.
4. Manter estoque de insumos e medicamentos para enfrentar um potencial surto
5. Ter um manejo adequado de casos para evitar mortes e diminuir a letalidade
6. Elaborar e seguir um plano de biossegurança, para prevenir e controlar infecções, evitando a disseminação no ambiente hospitalar
7. Aplicar corretamente a definição de casos para vigilância e monitoramento da epidemia
8. Ter formulários simplificados e um sistema de informação para coleta de dados e análises
9. Fazer a imunização imediata contra difteria em situações de surto, com implementação de estratégias seletivas para identificação de contatos ou vacinação em massa
10. Contar com a participação da comunidade e líderes sociais
11. Realizar micro planejamento a nível municipal (unidade de saúde) para interrupção rápida do surto
12. Priorizar populações com baixas coberturas de vacinação
13. Manejar de modo oportuno e adequado o soro antidiftérico