28 de julho de 2019 – A Organização Mundial da Saúde (OMS) apresentou neste domingo (28), em Belo Horizonte, um panorama do novo roteiro 2021-2030 de controle, eliminação ou erradicação de 20 doenças tropicais negligenciadas. A palestra foi dada na abertura do MEDTROP-PARASITO 2019, evento que deve reunir 3 mil pessoas até 31 de julho, entre pesquisadores, cientistas, profissionais de saúde e estudantes.
Com o tema “Convergência e inclusão: em busca de soluções sustentáveis para o diagnóstico, tratamento e controle das doenças tropicais”, o MEDTROP-PARASITO 2019, pela primeira vez, terá realização simultânea de três eventos: 55º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical; XXVI Congresso Brasileiro de Parasitologia; e 34ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Doença de Chagas e 22ª Reunião de Pesquisa Aplicada em Leishmanioses, ambos conhecidos por CHAGASLEISH 2019.
Pedro Albajar Viñas, oficial técnico de Doenças Negligenciadas Tropicais da OMS, lembrou aos participantes da cerimônia de abertura que, neste momento, a Organização Mundial da Saúde está recebendo contribuições para o roteiro, que será posteriormente finalizado e submetido à aprovação pelos países.
O objetivo é que o documento reflita os pontos de vista de todas as partes interessadas que contribuem para a luta contra as doenças tropicais negligenciadas. “Todos juntos tentando propor objetivos, metas, indicadores que possam ser monitorados, pensando nos determinantes sociais; pensando não somente em igualdade, mas em equidade; pensando em todas as oportunidades de integração”, afirmou Viñas.
Mais informações sobre o roteiro 2021-2030 de controle, eliminação ou erradicação de 20 doenças tropicais negligenciadas estão disponíveis em inglês neste link: https://www.who.int/neglected_diseases/news/WHO-global-consultations-for-new-Roadmap-on-NTD/en/.
Chagas
Viñas também lembrou a criação neste ano, durante a última Assembleia Mundial da Saúde, do Dia Mundial da Doença de Chagas – que será marcado anualmente em 14 de abril. Foi nessa data, em 1909, que a primeira paciente, uma menina brasileira chamada Berenice Soares de Moura, foi diagnosticada com a doença pelo também brasileiro Carlos Ribeiro Justiniano Chagas.
O Dia Mundial da Doenças de Chagas passará a ser uma oportunidade de chamar mais atenção para essa e outras doenças negligenciadas, bem como dos recursos necessários para controlá-las, eliminá-las ou erradicá-las.
Doenças negligenciadas
As doenças tropicais negligenciadas – um grupo diversificado de doenças transmissíveis que prevalecem em condições tropicais e subtropicais em 149 países – afetam mais de um bilhão de pessoas e custam bilhões de dólares às economias em desenvolvimento todos os anos. As populações que vivem em situação de pobreza, sem saneamento adequado e em contato próximo com vetores infecciosos, animais domésticos e gado são as mais afetadas.
Abaixo, uma breve descrição das doenças tropicais negligenciadas:
-
Dengue: doença viral transmitida por mosquitos que causa doença semelhante à gripe. Ocasionalmente se desenvolve em uma complicação letal, conhecida como dengue grave como as formas hemorrágicas.
-
Raiva: doença viral transmitida aos seres humanos por meio da mordedura de cães infectados. Invariavelmente fatal quando os sintomas se desenvolvem.
-
Tracoma: infecção transmitida por contato direto com os olhos ou secreção nasal. Causa opacidades corneanas irreversíveis e cegueira.
-
Úlcera de Buruli: infecção debilitante que causa destruição grave da pele, dos ossos e dos tecidos moles.
-
Bouba: infecção bacteriana crônica que afeta principalmente pele e osso.
-
Hanseníase: causada pela infecção principalmente da pele, nervos periféricos, mucosa do trato respiratório superior e olhos.
-
Doença de Chagas: infecção transmitida pelo contato com insetos vetores, ingestão de alimentos contaminados, transfusão de sangue infectado, transmissão congênita, transplante de órgãos ou acidentes laboratoriais.
-
Tripanossomíase humana africana (doença do sono): propagada por picadas de moscas tsé-tsé. Quase 100% fatal sem diagnóstico e tratamento imediatos.
-
Leishmaniose: transmitida por meio de picadas de flebotomíneos infectados. Em sua forma mais severa (visceral), ataca os órgãos internos. A forma mais prevalente (cutânea) causa úlceras faciais, cicatrizes desfigurantes e incapacidade.
-
Teníase e neurocisticercose: infecção por tênias adultas em intestinos humanos; a cisticercose ocorre quando os seres humanos ingerem ovos de tênia que se desenvolvem como larvas nos tecidos.
-
Dracunculíase (doença do verme-da-guiné): infecção por nematódeos, transmitida por água potável contaminada com pulgas de água infectadas por parasitas.
-
Equinococose: infecção causada por estágios larvais de tênias, formando cistos patogênicos. Transmitido aos seres humanos por meio da ingestão de ovos colocados em fezes de cães e animais selvagens.
-
Doenças transmitidas por alimentos: infecção adquirida pelo consumo de peixe, vegetais e crustáceos contaminados com larvas parasitas.
-
Filariose linfática: infecção transmitida por mosquitos que causa aumento anormal de membros e genitais de vermes adultos habitando e se reproduzindo no sistema linfático.
-
Micetoma: debilitante e incapacitante infecção bacteriana/fúngica da pele, provavelmente causada pela inoculação de fungos ou bactérias no tecido subcutâneo.
-
Oncocercose (“cegueira dos rios”): doença parasitária dos olhos e da pele, transmitida pela picada de mosquitos pretos infectados. Causa coceira intensa e lesões oculares, levando à deficiência visual e cegueira permanente.
-
Esquistossomose: infecção de larvas de vermes. A transmissão ocorre quando as formas larvais liberadas pelos caramujos de água doce penetram na pele humana durante o contato com água infestada.
-
Helmintíase transmitida pelo solo: grupo de infecções de helmintos intestinais transmitidas por meio de solo contaminado por fezes humanas.