14 de abril de 2020 – A comunidade global celebra nesta terça-feira (14) o primeiro Dia Mundial da Doença de Chagas. A data visibiliza uma das doenças tropicais mais negligenciadas, priorizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pois continua a afetar milhões de pessoas em todo o mundo. A doença de Chagas foi descoberta há mais de um século, mas permaneceu amplamente ignorada.
"A doença de Chagas tem sido associada há muito tempo a populações rurais e vulneráveis e é caracterizada pela pobreza e exclusão", afirmou Mwelecele Ntuli Malecela, diretor do Departamento de Controle de Doenças Tropicais Negligenciadas da OMS. "É hora de acabar com essa negligência e o estigma social associado à infecção, que se apresenta como uma grande barreira para a triagem, diagnóstico, tratamento e controle eficazes".
As consequências sociais do estigma associado à doença de Chagas levam à rejeição social. As pessoas que sofrem da doença podem enfrentar restrições ao trabalho, porque muitas vezes estão associadas a problemas de saúde e possíveis dificuldades na execução do trabalho, e até a morte súbita, criando um medo de perdas financeiras por parte dos empregadores. É por esses e outros motivos que as pessoas relutam em procurar ajuda médica – levando a manifestações clínicas mais graves e complicações finais e uma maior disseminação da doença.
Na América Latina, a doença de Chagas tem sido transmitida principalmente aos seres humanos pelo contato com as fezes ou a urina de espécies específicas de insetos triatomíneos infectados com o parasita Trypansosoma cruzi.
Esses insetos geralmente vivem em fendas nas paredes ou no telhado de casas em áreas rurais. Normalmente, se escondem durante o dia e são ativos à noite, quando se alimentam de sangue humano, picando uma área exposta da pele, como o rosto. Logo após se alimentar com sangue, o inseto defeca ou urina próximo à picada. Os parasitas entram no corpo quando a pessoa reage instintivamente à picada, pois as fezes ou a urina contaminam o local da picada ou qualquer outra rachadura na pele, nos olhos e na boca. A transmissão também pode ocorrer pela contaminação de alimentos durante sua preparação, armazenamento e consumo, frequentemente causando surtos de transmissão oral com maiores taxas de morbimortalidade.
Urbanização e expansão
No entanto, com a rápida urbanização e movimentação de populações entre a América Latina e outros países fora da região, a doença se espalhou para áreas urbanas e para outros países e continentes, incluindo a Europa e alguns países da África, Mediterrâneo Oriental e Pacífico Ocidental.
"Nesses países, a doença de Chagas não é transmitida por insetos triatomíneos, como ocorre na América Latina, mas por outras formas não vetoriais", disse Pedro Albajar Viñas, diretor médico do Departamento de Controle de Doenças Tropicais Negligenciadas da OMS. "Isso inclui sangue ou produtos sanguíneos para transfusão, de mãe para filho, transplante de órgãos e até acidentes de laboratório".
Em reconhecimento a esse crescente problema de saúde pública e à necessidade de conscientizar sobre formas de aumentar a detecção e impedir sua disseminação, a Assembleia Mundial da Saúde de 2019, órgão decisório da OMS, concordou em designar 14 de abril como Dia Mundial da Doença de Chagas.
A doença recebeu o nome de Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, médico e pesquisador brasileiro que a descobriu em 1909.
Melhorar conscientização e promover comportamentos de busca à saúde
A doença é pouco compreendida pelos profissionais de saúde em áreas não endêmicas, com muitos que a consideram uma doença tropical restrita a alguns territórios da América Latina. Da mesma forma, pacientes infectados com T.cruzi em áreas não endêmicas podem não estar cientes de sua condição, o que pode levar a uma transmissão adicional por vias não vetoriais.
"Treinar o pessoal de saúde para facilitar o diagnóstico, usando todas as oportunidades possíveis de integração sistemática com outras doenças tropicais negligenciadas e outras doenças crônicas transmissíveis e não transmissíveis, juntamente com a prestação de cuidados médicos adequados, pode ajudar muito a mitigar a transmissão e melhorar o prognóstico", ressaltou Albajar Viñas. "A falta de conscientização e conhecimento sobre a doença, junto a crenças desatualizadas e incorretas, são obstáculos claros à promoção do comportamento de busca de saúde".
Neste ano, a comunidade global tem a oportunidade de entender e tornar mais visíveis as dimensões de saúde, psicossociais e econômicas dessa doença há muito esquecida e ignorada.