Seis países e territórios do Caribe eliminam transmissão de HIV e sífilis de mãe para filho

HIV-Sifilis

"A eliminação é resultado de nosso forte compromisso político com a saúde pública e de tornar a saúde das mães, crianças e famílias uma prioridade regional", disse Timothy Harris, primeiro-ministro de São Cristóvão e Neves. Ao longo dos últimos seis anos, o Caribe conseguiu reduzir em mais da metade as novas infecções por HIV entre crianças. "Essa é uma realização surpreendente, considerando as altas taxas de HIV no passado, e pretendemos aprimorar ainda mais essa história de sucesso no futuro".  

Carissa F. Etienne, diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e diretora regional da OMS para as Américas, afirmou que “esta eliminação é uma conquista notável que coloca a região na vanguarda do esforço global para garantir que nenhuma criança nasça com HIV ou sífilis congênita". “Com compromisso político, sistemas de saúde mais fortes e prevenção, diagnóstico e tratamento oportunos, podemos conseguir grandes mudanças", acrescentou.  

"O UNAIDS felicita os seis países e territórios por essa importante conquista", declarou Michel Sidibé, diretor executivo do organismo internacional. "Todos os países devem seguir esse exemplo e garantir que todas as crianças iniciem suas vidas sem HIV."  

Em 2015, Cuba, outra ilha do Caribe, tornou-se o primeiro país do mundo a receber a validação da OMS por ter eliminado a transmissão do HIV e da sífilis de mãe para filho. Posteriormente, Tailândia e Bielorrússia também foram validadas por terem conseguido uma dupla eliminação. A Armênia também recebeu a validação por eliminar a transmissão materno-infantil do HIV e a República da Moldávia foi validada pela eliminação da sífilis congênita.  

Desde o lançamento da Iniciativa Regional de Eliminação da Transmissão Vertical do HIV e da Sífilis Congênita na América Latina e no Caribe (2010) – coordenada pela OPAS e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), com o apoio de outros parceiros regionais –, o número de novas infecções por HIV foi reduzido no Caribe em 52% entre as crianças, de 1,8 mil em 2010 para menos de mil em 2016. Os casos relatados de sífilis congênita, entretanto, permanecem abaixo do objetivo de se registrar não mais que 50 casos por cada 100 mil nascidos vivos. Desde 2010, os registros não diminuíram e é provável que exista uma subnotificação de casos.  

"A eliminação da transmissão do HIV e da sífilis de mãe para filho não é apenas um sonho, mas um objetivo alcançável", alegou Maria Cristina Perceval, diretora regional do UNICEF para a América Latina e o Caribe. "Hoje podemos dizer que estamos mais perto de garantir uma geração sem AIDS".  

No Caribe, a partir de 2016, 74% das mulheres grávidas que vivem com HIV (64% a mais do que em 2010) tiveram acesso à terapia antirretroviral para proteger sua saúde e reduzir significativamente a possibilidade de transmitir o vírus aos seus filhos durante a gravidez, parto ou amamentação. O aumento do acesso ao tratamento contribuiu para uma redução de 52% na taxa de transmissão do HIV de mãe para filho entre 2010 e 2016, que agora é de 9%, ainda maior do que a meta de 2%.  

Outras mudanças no setor de saúde que contribuíram para esse progresso são a participação intensiva dos setores de saúde pública e privada, liderada pelos Ministérios da Saúde, na implementação de serviços integrados de saúde materna e infantil, com ênfase na cobertura universal e na qualidade dos cuidados pré-natais. Além disso: testes expandidos para garantir a detecção precoce e o tratamento imediato para o HIV e a sífilis, redes laboratoriais de qualidade garantida, de acordo com as normas internacionais, e a implementação de medidas essenciais para garantir os direitos humanos das mulheres que vivem com o HIV.  

A eliminação da transmissão do HIV e da sífilis de mãe para filho é um marco importante para acabar com a AIDS e as infecções sexualmente transmissíveis como ameaças à saúde pública até 2030 – compromissos aprovados pela Assembleia Geral das Nações Unidas e pela Assembleia Mundial da Saúde.  

"A validação para a eliminação da transmissão do HIV e da sífilis de mãe para filho envia uma forte mensagem de que o Caribe está fazendo incursões notáveis para alcançar o objetivo de uma geração sem AIDS e a realização se alinha diretamente com nossa visão e nossos objetivos”, disse Dereck Springer, diretor da Pan Caribbean Partnership against HIV and AIDS. "A propagação da doença de mães para filhos está sendo interrompida, mas o status de eliminação deve ser mantido e outros países caribenhos devem fortalecer seus serviços com o objetivo de receber a validação da OMS", adicionou.  

Outros Estados Membros da OPAS no Caribe estão participando do processo formal de validação e espera-se que mais deles sejam reconhecidos por suas realizações em 2018.   Prevenção do HIV em destaque   Nesta semana, a OPAS e o UNAIDS lançaram seu primeiro relatório conjunto sobre a prevenção do HIV nas Américas, intitulado HIV Prevention in the Spotlight - An Analysis from the Perspective of the Health Sector in Latin America and the Caribbean. O relatório mostra que o número de novas infecções por HIV entre adultos permaneceu estável na América Latina e no Caribe entre 2010 e 2016 – cerca de 120 mil novas infecções anualmente.

O relatório insta os países a intensificarem a implementação de um conjunto abrangente de intervenções para prevenir novas infecções por HIV entre as populações-chave, de modo a acabar com a epidemia de AIDS como ameaça para a saúde pública em 2030.  

Entre as recomendações específicas do relatório, está o acesso ampliado ao autoteste e ao diagnóstico de outras infecções sexualmente transmissíveis, a provisão de profilaxia pré e pós-exposição, conforme recomendado pela OMS, o tratamento para todas as pessoas que vivem com HIV e a eliminação do preconceito.  

HIV e sifílis no Caribe em 2016  

  • 64% [51% – 74%] das pessoas que vivem com HIV sabem de seu status sorológico.
  • 81% [64% – >85%] das pessoas diagnosticadas com HIV estão em terapia antirretroviral.
  • 67% [53% – 77%] das pessoas em terapia antirretroviral tem uma carga viral suprimida.
  • <1.000 [<1.000 – 1.000] novas infecções por HIV em crianças até 14 anos em 2016, 52% menos do que em 2010.
  • 97% das mulheres realizaram ao menos um exame pré-natal e 94% dos partos ocorreram em hospitais em 2016.
  • 78% das mulheres grávidas foram testadas para HIV em 2016, 35% a mais do que em 2010.
  • 74% [65% - 84%] das mulheres grávidas que vivem com HIV estão em terapia antirretroviral, um aumento de 64% desde 2010.
  • Taxa de 9% de transmissão do HIV de mãe para filho, 52% menor do que em 2010.96% de cobertura de testes de sífilis entre mulheres grávidas que tiveram pelo menos uma visita pré-natal, número estável desde 2010.
  • 80% das gestantes diagnosticadas com sífilis receberam tratamento adequado, estável desde 2010.Um caso de sífilis congênita a cada 10.000 nascidos vivos em 2016 de acordo com dados de 21 países, estáveis desde 2010.   

Processo de validação da OMS  

O processo de validação começa com o pedido de um país à OPAS para a validação da eliminação da transmissão do HIV e da sífilis de mãe para filho. Em seguida, um comitê de validação regional independente é formado para levar adiante o processo, usando os padrões de validação globais recomendados pela OMS.  

No caso dos países e territórios do Caribe citados acima, os membros do comitê regional foram especialistas de 10 países das Américas, que analisaram os relatórios de cada país e fizeram avaliações virtuais e locais em quatro áreas principais: programas e serviços de saúde, sistemas de informação e dados, qualidade laboratorial e direitos humanos, igualdade de gênero e participação da comunidade.  

Por recomendação do comitê regional, o comitê de validação global realizou uma segunda revisão e recomendou ao diretor-geral da OMS a validação de Anguilla, Antígua e Barbuda, Bermudas, Ilhas Cayman, Montserrat e São Cristóvão e Neves em relação à eliminação da transmissão do HIV e da sífilis de mãe para filho como ameaça à saúde pública.   

Nota aos editores   

Os indicadores exigidos pela OPAS/OMS para validação nas Américas incluem:

Indicadores de impacto - devem ser alcançados por pelo menos dois anos consecutivos   

  • 30 casos ou menos de novas infecções por HIV perinatais por cada 100.000 nascidos vivos;
  • 50 casos ou menos de sífilis congênita por 100.000 nascidos vivos; e
  • 2% ou abaixo da taxa de transmissão materno-infantil do HIV.    

Indicadores de processo - devem ser alcançados por pelo menos dois anos consecutivos:  

  • 95% ou mais de todas as mulheres grávidas devem ter pelo menos uma visita de cuidados pré-natais;
  • 95% ou mais de mulheres gravidas que vivem com HIV testadas para o vírus;
  • 95% ou mais de mulheres grávidas atendidas em pré-natal testadas para a sífilis;
  • 95% ou mais de gestantes diagnosticadas com HIV ou sífilis em tratamento adequado.  

O termo validação é usado para atestar que um país conseguiu com sucesso os indicadores (metas regionais e globais estabelecidas para validação) para eliminar a transmissão do HIV e da sífilis de mãe para filho em um momento específico, além de demonstrar um sistema de saúde forte o suficiente para manter esses ganhos.