5 de setembro de 2018 – Mais de um quarto (1,4 bilhão) da população adulta mundial não praticou atividade física suficiente em 2016. Isso coloca essas pessoas em maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e alguns tipos de câncer, de acordo com a primeira pesquisa feita para estimar as tendências globais de atividade física ao longo do tempo. O estudo foi realizado por pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS) e publicado no The Lancet Global Health.
Juntas, essas estimativas demonstram que houve pouco progresso na melhoria dos níveis de atividade física entre 2001 e 2016. Os dados revelarem que, se as tendências atuais continuarem, a meta global de 10% de redução da inatividade física não será atingida até 2025.
"Ao contrário de outros grandes riscos para a saúde global, os níveis de inatividade física não estão caindo e mais de um quarto de todos os adultos não estão atingindo os níveis recomendados de atividade física", adverte a principal autora do estudo, Regina Guthold, da OMS, Suíça.
Em 2016, cerca de uma em cada três mulheres (32%) e um em cada quatro homens (23%) em todo o mundo não estavam atingindo os níveis recomendados de atividade física para se manterem saudáveis – ao menos 150 minutos com intensidade moderada ou 75 minutos com intensidade vigorosa por semana.
O novo estudo se baseia em níveis de atividade autorreferidos – incluindo atividade no trabalho e em casa, para transporte e durante momentos de lazer – entre adultos com 18 anos ou mais, a partir de 358 questionários populacionais feitos em 168 países, somando 1,9 milhão de participantes.
Entre as principais conclusões do estudo, estão:
- Em 2016, os níveis de inatividade física entre adultos variaram amplamente entre os grupos de renda – 16% em países de baixa renda, em comparação com 37% em países de alta renda.
- Em 55 (33%) dos 168 países, mais de um terço da população não praticava atividade física suficiente.
- Em quatro países, mais da metade dos adultos eram insuficientemente ativos – Kuwait (67%), Samoa Americana (53%), Arábia Saudita (53%) e Iraque (52%).
- Os países com os níveis mais baixos de atividade física em 2016 foram Uganda e Moçambique (6% cada).
- As mulheres são menos ativas que os homens em todas as regiões do mundo. Em 2016, houve uma diferença nos níveis de inatividade física entre mulheres e homens de 10 pontos percentuais ou mais no Sul da Ásia (43% contra 24%), Ásia Central, Oriente Médio e norte da África (40% contra 26%) e em países ocidentais de alta renda (42% contra 31%).
- Entre as regiões mundiais, muitos países registraram, individualmente, grandes diferenças na inatividade física entre mulheres e homens. Entre os exemplos estão Bangladesh (40% contra 16%), Eritreia (31% contra 14%), Índia (44% contra 25%), Iraque (65% contra 40%), Filipinas (49% contra 30%), África do Sul ( 47% contra 29%), Turquia (39% contra 22%), Estados Unidos (48% contra 32%) e Reino Unido (40% contra 32%).
"Abordar estas desigualdades nos níveis de atividade física entre homens e mulheres será fundamental para alcançar as metas globais e exigirá intervenções para promover e melhorar o acesso das mulheres a oportunidades seguras, acessíveis e culturalmente aceitáveis", disse a co-autora do estudo, Fiona Bull, da OMS, em Genebra. De 2001 a 2016, mudanças substanciais nos níveis insuficientes de atividade física foram registradas em várias regiões.
Entre as principais descobertas, estão:
- As regiões com maior aumento da inatividade física ao longo do tempo foram as de alta renda em países ocidentais (de 31% em 2001 para 37% em 2016) e América Latina e Caribe (33% a 39%). Entre os países dessas regiões que impulsionam essa tendência estão Alemanha, Nova Zelândia, Estados Unidos, Argentina e Brasil.
- A região com a maior diminuição da inatividade física foi o leste e sudeste da Ásia (de 26% em 2001 para 17% em 2016), número em grande parte influenciado pela absorção de atividades na China, o país mais populoso da região.
- Houve um aumento de 5% na prevalência de inatividade física em países de alta renda – de 32% em 2001 para 37% em 2016. Em comparação, houve um aumento médio de apenas 0,2% entre os países de baixa renda (16,0% para 16,2%).
Nos países mais ricos, a transição para ocupações mais sedentárias, recreação e transporte motorizado poderia explicar os níveis mais altos de inatividade física, enquanto nos países de renda mais baixa, mais atividade é empreendida no trabalho e no transporte, de acordo com os autores. Embora os declínios na atividade física ocupacional e doméstica sejam inevitáveis à medida que os países prosperam e o uso da tecnologia aumenta, os governos devem fornecer e manter uma infraestrutura que promova o aumento da caminhada e do ciclismo para transporte, esportes e recreação.
“Regiões com níveis crescentes de inatividade física são uma grande preocupação para a saúde pública e para a prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)”, diz Guthold.
“Embora uma recente pesquisa de políticas sobre DCNT tenha mostrado que quase três quartos dos países relatam ter uma política ou plano de ação para combater a inatividade física, poucas foram implementadas para ter impacto nacional. Os países precisarão melhorar a implementação de políticas para aumentar as oportunidades para a prática de atividade física e incentivar mais pessoas a serem fisicamente ativas. Os governos reconheceram a necessidade de ação, endossando o plano de ação mundial sobre atividade física e saúde para 2018 a 2030 (2018-2030)”, afirma Bull.
O plano de ação, More active people for a healthier world, foi lançado em junho de 2018 e recomenda um conjunto de 20 políticas que, combinadas, visam criar sociedades mais ativas, melhorando os espaços e locais para atividades físicas e aumentando programas e oportunidades para pessoas de todas as idades e habilidades para fazer mais caminhadas, ciclismo, esporte, recreação ativa, dança e diversão. O plano é um roteiro para as intervenções necessárias em todos os países, com o objetivo de reduzir a inatividade física entre adultos e adolescentes.
A divulgação do estudo antecede a Terceira Reunião de Alto Nível da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre DCNT e seus fatores de risco (incluindo inatividade física), que acontecerá em 27 de setembro deste ano, em Nova York.
Melody Ding, da Universidade de Sydney, na Austrália, discute as importantes implicações políticas do estudo e diz que “a diferença de gênero na atividade física, particularmente na Ásia Central, Oriente Médio, Norte da África e Sul da Ásia revela uma questão de equidade em saúde, onde as mulheres enfrentam mais barreiras ambientais, sociais e culturais para participar da atividade física, particularmente em seu tempo de lazer (...). Embora os países de alta renda tenham maior prevalência de inatividade física, é importante notar que países de baixa e média renda ainda suportam a maior parte do ônus global da inatividade física. Além disso, o desenvolvimento econômico e a urbanização levam a estilos de vida e transições epidemiológicas caracterizadas pelo aumento da prevalência de inatividade física e subsequentes sobrecargas de doenças crônicas, como observado na China e no Brasil. Embora as reduções na atividade física ocupacional e doméstica sejam inevitáveis, é essencial incentivar a atividade física no transporte e no lazer dentro das economias emergentes, melhorando a infraestrutura pública e ativa de transporte, promovendo normas sociais para a atividade física por meio de esportes de massa e participação escolar, bem como a implementação de programas sustentáveis em escala que possam gerar co-benefícios econômicos, ambientais e sociais, ao mesmo tempo em que promovem atividade física.”
Ação global
Esses dados mostram a necessidade de que todos os países aumentem a prioridade dada às ações nacionais e subnacionais para fornecer ambientes que estimulem a atividade física e aumentar as oportunidades para pessoas de todas as idades e habilidades de serem ativas todos os dias.
O novo plano de ação mundial sobre atividade física e saúde (2018 a 2030) estabelece a meta de reduzir a inatividade física em 10% até 2025 e 15% até 2030.
A inatividade física regular aumenta o risco de problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, vários tipos de câncer e diabetes, quedas e doenças mentais.