Washington D.C., 4 de maio de 2023 (OPAS) - Com o número de casos de chikungunya na região das Américas ultrapassando 210 mil nos primeiros meses de 2023, especialistas revisaram, em um webinar nesta semana, métodos para controlar o vetor da doença, fatores que facilitam sua disseminação e suporte aos países para lidar com um número crescente de casos.
A chikungunya é uma doença transmitida pela picada de mosquitos Aedes fêmeas infectados pelo vírus da chikungunya. O sintoma mais comum é aparição abrupta de febre, frequentemente acompanhada de dores nas articulações que geralmente duram duas semanas.
Embora a mortalidade da doença seja baixa, alguns pacientes experimentam dores debilitantes que podem durar até 6 meses, afetando a capacidade da pessoa de mover-se, trabalhar e cuidar de si mesma ou de outros. O nome "chikungunya" vem do idioma Makonde, da África, e significa "curvado de dor".
A doença foi identificada em quase 115 países, com surtos sazonais ou esporádicos até agora. Em 2023, no entanto, a circulação aumentada de chikungunya foi detectada em cinco países das Américas, superando os números para o mesmo período em anos anteriores.
Situação nas Américas
A chikungunya foi detectada pela primeira vez nas Américas em 2013 na ilha de São Martinho e, um ano depois, havia se espalhado para a maioria dos países da região. Mais de um milhão de casos foram detectados no primeiro ano após sua introdução no continente.
Nos primeiros quatro meses de 2023, foi detectada uma maior circulação de chikungunya na região, com mais de 214 mil casos relatados.
"O que vemos este ano são mudanças na magnitude e no momento. A epidemia está muito mais precoce e com mais casos do que nos últimos anos", disse Thais dos Santos, consultora de Vigilância e Controle de Doenças Arbovirais da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante o webinar: Chikungunya - Experiências da resposta atual ao surto nas Américas.
O país mais afetado é o Paraguai, que "registrou sua pior epidemia na história com 138.730 casos", acrescentou Thais dos Santos.
Argentina e Uruguai também relataram transmissão local pela primeira vez em 2023 e a Bolívia relatou altos níveis de transmissão de chikungunya (1.150 casos) e dengue (116.224 casos) - outra doença transmitida pelo mesmo mosquito.
Urbanização não planejada e mudanças climáticas impulsionam a transmissão
As mudanças climáticas são um dos fatores que contribuem para a disseminação da chikungunya. As temperaturas excepcionalmente altas, a previsão ou o aumento das chuvas e a constante umidade fizeram com que o mosquito Aedes estivesse presente em zonas onde antes não conseguiria sobreviver.
"Os longos períodos de calor no sul das Américas permitiram que o mosquito se desenvolvesse bem em lugares onde antes não se desenvolvia", acrescentou Thais dos Santos.
A urbanização crescente e não planejada também pode estar impulsionando a disseminação, já que o Aedes prefere ambientes urbanos quentes e procura locais de retenção de água dentro de casa – como recipientes de plantas ou vasos – para se reproduzir.
As restrições de movimento durante a pandemia da COVID-19 também podem ter tido um impacto nos métodos de controle de vetores, limitando atividades como visitas de controle de casa para remover locais de reprodução, juntamente com a resistência aos inseticidas.
Resposta da OPAS
Em janeiro, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) alertou sobre o aumento dos casos de chikungunya, afetando especialmente o Paraguai e, em 13 de fevereiro, publicou um alerta pedindo aos países da região que fortalecessem as medidas de diagnóstico e manejo da doença.
A Organização realizou sete missões técnicas ao Paraguai e à Bolívia desde o início do surto para fornecer apoio em gestão clínica, vigilância, laboratório e no controle integrado de vetores.
"Treinamos milhares de médicos, preenchendo uma lacuna importante no controle da doença", disse Thais dos Santos. A organização também providenciou rapidamente para que especialistas de países com mais experiência com o vírus, como o Brasil, ajudassem outros com menos ou nenhuma experiência em áreas como sequenciamento ou gerenciamento de casos pediátricos.
Também implementou estratégias inovadoras de vigilância colaborativa entre os países, usando espaços virtuais compartilhados para apoiar análise e visualização automatizadas de dados de casos e está trabalhando em uma ferramenta de gerenciamento integrado de vetores para ajudar os países a mapear áreas de risco para a circulação do vetor e para informar intervenções rápidas.