Mais da metade das pessoas com epilepsia na América Latina e no Caribe não recebem tratamento

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24 de janeiro de 2018 – A epilepsia é um dos transtornos neurológicos mais comuns no mundo, afetando aproximadamente 50 milhões de pessoas – 5 milhões delas na região das Américas. No entanto, estima-se que a lacuna de tratamento na América Latina e no Caribe seja superior a 50%, o que significa que mais da metade das pessoas com essa doença não recebem atenção em serviços de saúde.

A fim de ajudar os países a elaborarem programas para detectar casos e aumentar o acesso ao tratamento adequado para esse transtorno, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) recentemente lançou a publicação “The Management of Epilepsy in the Public Health Sector 2018” (disponível em inglês e espanhol). Atualmente, dois em cada três países não possuem um programa ou plano para atender pessoas com essa doença.

The Management of Epilepsy in the Public Health Sector, 2018

“As pessoas que têm epilepsia e não recebem tratamento sofrem com episódios recorrentes. Isso pode afetar seus estudos, trabalho e qualidade de vida, além de afetar suas famílias”, disse Claudina Cayetano, assessora regional da OPAS para saúde mental. "Com um diagnóstico oportuno, tratamento adequado, dieta saudável e controle do estresse, até 70% dos acometidos pela doença podem reduzir as crises e levar uma vida plena e ativa”, acrescentou.

Nos últimos anos, os países fortaleceram a atenção às doenças crônicas não transmissíveis, entre elas, a epilepsia. Mesmo assim, o atendimento de pessoas com essa condição ainda está longe de ser satisfatório. Isso se deve, entre outros fatores, a um déficit de profissionais médicos capacitados; à indisponibilidade de medicamentos, particularmente no nível da atenção primária de saúde (APS); e à falta de informação e educação sobre a epilepsia, tanto para as pessoas com esse transtorno e suas famílias, quanto para a comunidade como um todo.

Melhorar o acesso a medicamentos

Quatro medicamentos antiepilépticos são essenciais para o tratamento da doença. A maioria dos países da América Latina e do Caribe possui esses medicamentos, mas apenas em serviços especializados. Isso significa que o acesso a essas drogas é limitado ou inexistente nos serviços de atenção primária de saúde.

A publicação explica que o fornecimento de medicamentos antiepilépticos básicos nos cuidados primários é uma forma crucial, eficaz e de baixo custo de abordar a questão, especialmente porque, na maioria dos casos, os episódios podem ser controlados por meio do tratamento com apenas um dos fármacos básicos (monoterapia).

A OPAS conta com o Fundo Estratégico, mecanismo de cooperação com os países para promover o acesso a medicamentos de qualidade e suprimentos essenciais de saúde pública a preços acessíveis. Os Estados Membros podem utilizá-lo para adquirir medicamentos antiepilépticos a preços melhores, um fator que aumenta sua disponibilidade e reduz as lacunas no acesso ao tratamento.

Fortalecimento da atenção primária para detectar e tratar casos

A OPAS, que também é o escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, considera a doença um problema de saúde pública prioritário e apoia melhorias na resposta do setor da saúde, particularmente quanto à identificação, manejo e monitoramento da epilepsia na atenção primária de saúde.

A OMS recomenda a integração do manejo da epilepsia na atenção primária à saúde, considerando que diagnóstico da doença é essencialmente clínico e pode ser realizado por médicos não especialistas treinados na identificação e manejo de casos não complexos, que respondem pela maioria.

O guia também oferece recomendações para a implementação de estratégias de prevenção da epilepsia, como a promoção da gravidez e do nascimento sem riscos, a prevenção dos traumatismos cranioencefálicos e acidentes vasculares cerebrais, bem como o aumento da sensibilização e do público.

O trabalho dos países da região para combater esta doença ganhou força em 2011, quando o Conselho Diretivo da OPAS adotou uma estratégia para melhorar a resposta do setor da saúde. Em 2015, a Assembleia Mundial da Saúde também reconheceu a carga da epilepsia e a necessidade de os países tomarem medidas coordenadas para lidar com suas consequências.

A nova publicação, que se soma a esses esforços, foi submetida à consulta de um grupo de profissionais da Liga Internacional Contra a Epilepsia (ILAE) e do Bureau Internacional para a Epilepsia (IBE), assim como de especialistas da Liga Chilena contra a Epilepsia e da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional Autônoma de Honduras, ambas centros colaboradores da OPAS/OMS.

Sobre a doença

A epilepsia é uma doença neurológica crônica que afeta pessoas de todas as idades ao redor do mundo. É caracterizada por crises recorrentes, que podem durar entre poucos segundos e alguns minutos. Suas causas são múltiplas. Em alguns casos, há um viés genético, mas outras causas incluem danos cerebrais causados por lesões pré-natais ou perinatais; anomalias congênitas ou malformações cerebrais; traumatismos cranioencefálicos; acidentes cerebrovasculares; infecções como meningite, encefalite e neurocisticercose; e tumores cerebrais. Em cerca de metade de todos os casos de epilepsia, a causa não pode ser determinada.

Epilepsia em números

  • 50 milhões de pessoas no mundo têm epilepsia; 5 milhões delas vivem na região das Américas.
  • A epilepsia é responsável por 0,5% da carga global de doenças. 80% dessa carga corresponde aos países em desenvolvimento.
  • Dois milhões de novos casos ocorrem todos os anos no mundo.
  • O número de novos casos nos países em desenvolvimento é o dobro do registrado nos países desenvolvidos.
  • As taxas de mortalidade entre pessoas com epilepsia são mais altas do que as da população geral.
  • A taxa de mortalidade por epilepsia na América Latina e no Caribe é de 1,04 por 100.000 habitantes, superior a 0,50 por 100.000 habitantes nos Estados Unidos e no Canadá.
  • 70% das pessoas afetadas podem ser tratadas com medicamentos básicos. Apenas 10% dos casos requer uma abordagem especializada com dieta ou cirurgia.
  • Cerca de 20% dos casos complexos não respondem ao tratamento.
  • Estima-se que, se a cobertura do tratamento com medicamentos antiepilépticos for estendida para 50% dos casos, a atual carga global da doença seria reduzida entre 13% e 40%.
  • Dois terços dos países da América Latina e do Caribe não possuem um programa para o atendimento integral de pessoas com epilepsia.
  • 80% dos países da região não possuem legislação apropriada sobre a doença.

Crédito da foto: SewCream/Shutterstock.com

Link to full report The Management of Epilepsy in the Public Health Sector 2018