18 de outubro de 2017 – As Américas apresentam os maiores níveis de sobrepeso e obesidade do mundo e os níveis mais baixos de atividade física. Esses fatores aumentam o risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), principais causas de morte na região.
Para reverter essa tendência e salvar vidas, é necessário que todos os setores do governo, como agricultura, comércio e desenvolvimento urbano, promovam políticas públicas coerentes que facilitem ambientes para que a opção saudável seja a mais fácil de se tomar.
Assim afirmou a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa F. Etienne, durante a abertura da Conferência Mundial da OMS sobre Doenças Não Transmissíveis, realizada em Montevidéu, Uruguai, até 20 de outubro.
Promover a coerência normativa – em todos os setores, todos os níveis e com a participação de todos os atores – pode gerar benefícios para a saúde mais facilmente do que intervir apenas na política de saúde. "Muitos dos fatores que conduzem a essas doenças (crônicas não transmissíveis) estão fora do sistema de saúde e as soluções só podem ser encontradas em colaborações multissetoriais e enfoques baseados na inclusão da saúde em todas as políticas de governo”, afirmou Etienne.
Nas Américas, as doenças crônicas não transmissíveis, principalmente as cardiovasculares e respiratórias crônicas, câncer e diabetes representam cerca de 80% de todas as mortes, das quais 35% ocorrem prematuramente entre pessoas de 30 a 70 anos de idade. Devido à magnitude do problema, países de todo o mundo se comprometeram a reduzir a mortalidade prematura em um terço até 2030. Para isso, são necessárias mais ações para enfrentar essas doenças e seus principais fatores de risco: consumo de tabaco, dieta insalubre, inatividade física e uso abusivo de álcool.
Entre as soluções para reduzir a carga das doenças crônicas não transmissíveis estão a proibição de propaganda e o aumento de impostos para reduzir a exposição ao tabaco e às dietas pouco saudáveis, além de facilitar o acesso aos serviços essenciais de saúde para todas as pessoas, com o intuito de protegê-las dessas enfermidades.
A diretora da OPAS destacou o progresso da região no estabelecimento de políticas para controlar os fatores de risco das DCNT, como a implementação da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da OMS. Também parabenizou o Uruguai e o presidente Tabaré Vásquez por enfrentar a indústria do tabaco, estabelecendo o direito soberano dos países de legislar para proteger a saúde de seus cidadãos. "Isso não só estabelece um forte precedente para o tabaco, mas também ajudará com outros produtos prejudiciais à saúde", disse Etienne.
Etienne, que também é diretora regional da OMS para as Américas, ressaltou a necessidade de garantir prevenção e cuidado para pessoas em risco ou que vivem com uma dessas doenças crônicas. Ela argumentou que fornecer acesso universal e cobertura de saúde com qualidade, sem gerar dificuldades financeiras e com foco nas necessidades da população mais vulnerável, "pode ter um tremendo impacto nas doenças crônicas não transmissíveis e salvar vidas".
Os ministros da Saúde das Américas aprovaram uma resolução em 2016, na OPAS, para garantir que a saúde seja universal na região e vários países já avançaram nessa direção. O Chile expandiu o acesso ao diagnóstico e ao tratamento do câncer e o México, a Jamaica e o Brasil garantiram a igualdade de acesso ao diagnóstico e ao tratamento de doenças crônicas não transmissíveis importantes. Essas medidas ilustram a possibilidade real de integrar os serviços de DCNT à atenção primária de saúde, garantindo referência para diagnóstico e tratamento, e que o custo associado aos cuidados não seja um impedimento para o acesso, alegou a diretora.
Um dos maiores desafios para muitos governos continua sendo o alto custo do tratamento de uma pessoa que vive com uma doença crônica não transmissível, em grande parte devido aos medicamentos. A diretora da OPAS considerou que são necessários mecanismos para garantir o acesso a medicamentos acessíveis e de qualidade, como o Fundo Estratégico da OPAS, que realiza compras conjuntas de medicamentos essenciais a um custo menor em nome dos países da região.
"Se queremos enfrentar com sucesso as DCNT, devemos olhar para além do setor da saúde e ter um enfoque de todo o governo e toda a sociedade", finalizou Etienne.