11 de setembro de 2018 – O Brasil acaba de iniciar um inquérito para validação da eliminação do tracoma como problema de saúde pública no país. O trabalho está sendo feito conforme a metodologia de mapeamento recomendada pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) e a iniciativa Tropical Data.
O inquérito de abrangência nacional, que teve início na semana passada no estado de Pernambuco, está sendo realizado em áreas endêmicas (risco epidemiológico) e áreas onde falta saneamento básico (risco social). No Brasil, o projeto é conduzido pelo Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que enviam profissionais especializados às casas das pessoas para fazer exames em crianças e adultos, além de avaliar as condições de acesso à água e esgoto.
Até o momento, sete países – Camboja, Gana, Laos, México, Marrocos, Nepal e Omã – foram validados pela OMS como tendo eliminado o tracoma como um problema de saúde pública.
A eliminação total dessa enfermidade depende de uma série de fatores que vão além do setor saúde. Por isso, o primeiro passo é eliminá-lo como um problema de saúde pública. Para alcançar esse resultado, é necessário: comprovar a prevalência de tracoma inflamatório (ativo) em menos de 5% das crianças de 1 a 9 anos e a da triquíase tracomatosa (uma complicação em que ocorre a distorção na posição dos cílios, tocando o globo ocular, o que pode reduzir a visão ou até mesmo causar cegueira) em menos de 0,2% da população maior de 15 anos.
“Todos os países das Américas estão desenvolvendo atividades de vigilância ou em fase de implementação dos inquéritos. O esforço que o Brasil está fazendo agora é importante para coletar as evidências necessárias para solicitar no futuro a validação oficial da eliminação do tracoma como problema de saúde pública”, explica Martha Saboyá, assessora regional da OPAS/OMS para doenças negligenciadas.
Áreas endêmicas
Em 2017, 165 milhões de pessoas viviam em áreas endêmicas (onde a transmissão ocorre de forma contínua e constante) de tracoma. Essa enfermidade é um problema de saúde pública em muitas das áreas mais pobres e rurais de 41 países da África, América Central e do Sul, Ásia, Austrália e Oriente Médio. É responsável pela cegueira ou deficiência visual de cerca de 1,9 milhão de pessoas.
Nas Américas, a doença afeta populações pobres do Brasil, da Colômbia, da Guatemala e do Peru. Estima-se que, nessa região, quase cinco milhões de pessoas vivam em áreas onde o tracoma é endêmico.
Cegueira irreversível
O tracoma é uma doença ocular causada por uma infecção pela bactéria Chlamydia trachomatis. A cegueira causada pelo tracoma é irreversível.
A infecção se espalha por meio do contato direto de pessoa para pessoa ou com roupas e peças de cama e banho contaminadas (toalhas, lenços, fronhas etc.). Outra forma de transmissão, menos comum nas Américas, é por moscas que estiveram em contato com secreções dos olhos ou do nariz de uma pessoa infectada.
Quando há episódios repetidos de infecção ao longo de muitos anos, os cílios podem ficar em posição defeituosa, tocando o globo ocular, o que provoca dor e desconforto, assim como danos permanentes à córnea.
Estratégia
A Assembleia Mundial da Saúde adotou em 1998 a resolução WHA51.11, visando a eliminação global do tracoma como um problema de saúde pública. A estratégia de eliminação (denominada SAFE, por sua sigla em inglês) se baseia na correção cirúrgica para casos avançados da doença; antibióticos para eliminar a infecção por C. trachomatis; higiene facial; e melhorias ambientais para reduzir a transmissão.
Em 2017, mais de 230 mil pessoas no mundo receberam tratamento cirúrgico para o tracoma avançado e 83,5 milhões de pessoas foram tratadas com antibióticos.