Um grande triunfo no combate à leishmaniose foi alcançado em 2023 com a implementação de terapias locais para tratar a leishmaniose cutânea não complicada em áreas rurais ou remotas, onde vivem as populações mais afetadas. Desde 2022, a OPAS atualiza as diretrizes para o tratamento da leishmaniose, que incluem terapia local para tratar casos de leishmaniose cutânea não complicada com aplicação intralesional do medicamento antimoniato de meglumina e uso de termoterapia.
"O tratamento localizado com termoterapia ou terapia intralesional demonstrou ser eficaz, seguro e menos dispendioso e doloroso para os pacientes." Vários países estão atualizando seus protocolos para incluir esses tratamentos como uma opção terapêutica.
Desde então, com o apoio da USAID, OMS e DNDi, a OPAS providenciou apoio à sete países da Região com equipamentos de termoterapia e forneceu treinamento a mais de 296 profissionais de saúde sobre seu uso. Esses equipamentos também estão acessíveis para aquisição pelos países da região por meio dos Fundos Rotatórios Regionais da OPAS.
Em 2013, foi lançado o Sistema Regional de Informação sobre Leishmaniose, conhecido como SisLeish. Pela primeira vez nas Américas, foi criado um sistema para buscar e consolidar dados homogêneos, comparáveis e de qualidade sobre a leishmaniose e fornecer a todos os profissionais e gestores de saúde as informações e análises epidemiológicas necessárias para conhecer a situação nas Américas, compartilhar informações e realizar atividades conjuntas de controle entre os países.
O SisLeish permite a análise individual e comparativa da leishmaniose em diferentes níveis geográficos e o monitoramento periódico dos casos. A partir desses estudos foi possível propor uma metodologia e gerar uma estratificação ajustada das áreas de risco. Atualmente, um total de 17 países, com exceção da Guiana Francesa, que se reporta diretamente à França, aderiram ao sistema e, assim, facilitaram a abordagem, análise e disseminação da leishmaniose no país e na região.
Para a leishmaniose cutânea, mucosa e mucocutânea, destaca-se a experiência do México. Entre 2009 e 2012, o estado de Oaxaca relatou um aumento de 26 vezes no número de novos casos de leishmaniose. Para enfrentar essa situação, o México orquestrou uma campanha de mobilização social sobre a importância do diagnóstico precoce e do tratamento de novos casos; capacitar o pessoal médico das unidades de saúde e aumentar o conhecimento da população sobre a doença e seu estigma social. A intervenção chegou à comunidade de Matías Romero, o município mais afetado do estado, na forma de uma “Jornada intensiva de leishmaniose”, no qual as autoridades de educação e saúde e a mídia disseminaram mensagens sobre a leishmaniose para a população em geral.
Como resultado da campanha, de 27 a 31 de maio de 2013, cerca de 100 casos prováveis de leishmaniose foram consultados em centros de atenção primária; foram obtidas 60 amostras de sangue e tecido e treinados 160 profissionais de saúde. Entre os pacientes, 30 casos de leishmaniose cutânea foram confirmados e tratados. "Algumas lesões de leishmaniose cutânea e mucosa se espalham para o nariz ou boca, a cartilagem se desintegra até que uma cavidade é formada. Essas pessoas sofrem muito com a desfiguração e o estigma que isso gera, e é por isso que cobrem o rosto com lenços. Com o diagnóstico e o tratamento precoces, isso não precisa acontecer", explicou Ana Nilce Elkhoury, Assessora Regional de Leishmanioses da OPAS/OMS.
A Colômbia é outro exemplo da luta contra a leishmaniose visceral dentro e ao redor das cidades, um fenômeno cada vez mais comum, devido à adaptação de insetos a esse ambiente e à grande presença de cães infectados dentro e ao redor das casas.
Em maio de 2012, foram detectados sete casos de leishmaniose visceral no município de Neiva, localizado no departamento de Huíla, que tinha a particularidade de albergar cerca de 25.000 cães de rua. Após a detecção do surto, as autoridades nacionais, com o apoio da OPAS/OMS, lideraram a investigação e foco, a delimitação da área de risco e a determinação de quais ações implementar. Os resultados da pesquisa confirmaram que as pessoas infectadas estavam com a doença há uma média de 17 meses, o que pode ser fatal se não for tratado a tempo; seus sintomas eram febre, aumento do fígado e baço, prostração e diarreia. Cem por cento dos pacientes foram hospitalizados e tratados corretamente. Apesar das complicações e fortes efeitos colaterais do tratamento, os pacientes evoluíram favoravelmente, foram medicamente supervisionados e se curaram nos meses seguintes.
Observou-se que nesse surto, 72% dos casos corresponderam a mulheres que viviam em casas com condições precárias, como superlotação, falta de serviços de água e descarte de lixo. Para ajudar a resolver esses problemas, armadilhas foram colocadas para capturar o vetor. Na mesma área, foram coletadas mais de 1.000 amostras de sangue canino, das quais 4% foram positivas para leishmaniose visceral. Essas estratégias foram complementadas por tarefas de controle de vetores com o uso de inseticidas, poda de arbustos, remoção de matéria orgânica e atividades de educação comunitária sobre a doença e como preveni-la.
Graças à implementação deste pacote integral de medidas e à participação ativa da população de Neiva, o surto foi controlado e nenhum novo caso foi observado no ano seguinte.