Mais mulheres em bicicletas: uma política de transporte urbano a favor da saúde e da igualdade
Mais mulheres em bicicletas: uma política de transporte urbano a favor da saúde e da igualdade
Agosto de 2022
A bicicleta é uma alternativa de locomoção com grandes benefícios para a saúde física e mental. Ademais, ajuda a melhorar os indicadores urbanos e ambientais.
Embora seja um meio de transporte cada vez mais popular em cidades da região, como Bogotá, ainda é mais comum ver homens pedalando que mulheres, devido aos riscos que impedem que mais mulheres optem pela bicicleta como meio de transporte.
De acordo com a Prefeitura de Bogotá, atualmente apenas 24% das viagens que são feitas de bicicleta na cidade são realizadas por mulheres.
Lorena Nieto mora na capital colombiana e seu único meio de transporte é a bicicleta. Ela ainda lembra o dia em que foi vítima de violência nas ruas: "Foi horrível. Fiquei em estado de choque. Não soube o que fazer. Muitas mulheres são violentadas quando andam em bicicleta".
O assédio, o abuso, a falta de segurança nas estradas, a pouca infraestrutura em relação às ciclovias e à iluminação pública, entre outros, são alguns dos desafios que enfrentam diariamente as mulheres que andam em bicicleta que têm consequências para a saúde física e mental delas.
Desde 2017, a iniciativa "Curvas en Bici" se dedica a ajudar as mulheres a superar esses obstáculos. Através de "experiências de bicicleta", ela promove o uso da bicicleta pelas mulheres.
Lorena Nieto
"Nos reunimos em pontos estratégicos e fazemos passeios os domingos na ciclovia de Bogotá ou a nível municipal. Percorremos entre 30 e 50 quilômetros e também fazemos oficinas de mecânica básica", diz Ángela Sánchez, fundadora de "Curvas en Bici".
"Estes encontros criaram uma rede de apoio e cada vez que algo acontece: um roubo, um abuso, algum tipo de violência; o comunicamos entre nós e, enquanto comunidade, nos damos apoio antes de ativar as linhas de emergência", diz Sánchez, de 27 anos. Esta iniciativa conta atualmente com 450 mulheres inscritas de 20 localidades de Bogotá.
As demandas destas e de outras mulheres encontraram uma resposta no trabalho do governo local, que procura implementar uma política pública para a bicicleta com objetivos para 2039.
"Concordamos com as diferentes entidades da Prefeitura, o setor privado e o mundo acadêmico, trabalhar em cinco objetivos concretos: mais segurança no trânsito, mais segurança pessoal, mais e melhores deslocamentos em bicicleta e mais bicicleta para todas e todos. Queremos conseguir que a bicicleta seja um método e um mecanismo para uma sociedade mais inclusiva. Isto, naturalmente, requer uma série de ações e orçamentos destinados a melhorar as condições de nossas mulheres", diz Nicolás Estupiñán, Secretário de Mobilidade de Bogotá.
Um dos objetivos das políticas públicas para bicicleta de Bogotá é alcançar a paridade em termos de viagens em bicicleta com a participação das próprias comunidades e de outras organizações, e passar de 24% para 50% das viagens realizadas por mulheres.
A iniciativa de Bogotá é uma das que se desenvolvem em cinco cidades através do Projeto Global sobre Governança Urbana para a Saúde da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS). Neste projeto, os prefeitos de Bogotá (Colômbia), Cidade do México (México), Khulna (Bangladesh), Douala (Camarões) e Tunísia (Tunísia) se comprometeram a tratar os assentamentos informais, os serviços públicos básicos e a coesão social através da colaboração intersetorial e da governança urbana participativa para a saúde e o bem-estar, promovendo inovações sociais e diálogos a nível local.
A Doutora Ginna Tambini, Representante na Colômbia da OPAS/OMS, assinala que "chegar a acordos que se tornem políticas públicas em favor da saúde, como no caso da contribuição das mulheres para as políticas públicas para a bicicleta de Bogotá, também tornou visível a importância do papel delas, tão determinante não só em suas casas, mas também na comunidade e nas instituições onde elas trabalham".
O objetivo desta nova política pública é promover a equidade e permitir o surgimento de atividades lideradas por mulheres para aumentar o uso que fazem da bicicleta.
Um exemplo dessas iniciativas é o lançamento do serviço de mensageria sobre bicicleta "Queens Messengers", fundado em 2018. Sua criadora, María Fernanda Ramírez, procura dar às mulheres oportunidades de trabalho e fornecer-lhes ferramentas para que saibam o que fazer em situações como de roubo ou outros casos de violências. Hoje, este serviço de mensageria conta com aproximadamente 100 parceiras.
"Claramente através da experiência dessas mulheres em bicicletas, se mostra a importância da participação comunitária e de determinar ações para fazer uma transformação, apesar do momento que estamos vivendo com a pandemia da COVID-19", acrescenta a Doutora Tambini.
O Projeto Global sobre Governança Urbana para a Saúde contribui para os esforços da OPAS/OMS para ampliar a assessoria técnica e política aos Estados membros e aos responsáveis das cidades com o objetivo de fortalecer a saúde urbana, com ênfase na participação social como um elemento essencial para um impacto positivo e duradouro.