• Mario Alvarado

Deficiência e saúde mental, um efeito ignorado da pandemia

A emergência por COVID-19 representou um risco extra para muitas pessoas com deficiência. No entanto, o isolamento, que permite proteger sua saúde física, pode chegar a ter repercussões negativas em sua saúde mental.

SAN JOSÉ, Costa Rica — Mario Alvarado Porras é apaixonado pelas ciências. Matemática, programação, engenharia, informática. Aos 51 anos, assessora empresas como consultor independente na criação de websites inclusivos, uma especialidade que desenvolveu com a pós-graduação. Hoje trabalha em sua casa, em um pequeno escritório no qual três monitores e uma cadeira ergonômica de alto nível o acompanham. Mas até março de 2020, este não era seu espaço de trabalho.

Antes da pandemia, se deslocava todos os dias até a empresa. A rotina incluía dirigir até o escritório, encontrar seus colegas, participar de reuniões e resolver as pendências. Quando o dia acabava, era o momento de voltar para sua casa para descansar. “Sentia-me como se fizesse parte de algo importante”, lembra Mario ao se referir a suas tarefas.

Efeitos silenciosos da pandemia: a saúde mental em pessoas com deficiência

No início de março de 2020, a empresa tomou a decisão de transferi-lo para teletrabalho para não o expor ao risco de contágio de COVID-19. Mario é hipertenso e sofre de paralisia na parte direita do corpo, entre outros problemas que o tornam mais vulnerável frente ao vírus. Como resultado da nova realidade, suas responsabilidades laborais diminuíram e, junto com elas, suas interações diárias com a equipe.

“Às vezes começo lutando comigo mesmo entre querer me levantar ou não –, esse é o dilema. Mas já sei que preciso me levantar”, explica Mario ao se referir ao seu dia a dia atual. E acrescenta: “Escutei uma frase de Darwin que dizia que aqui não sobrevive nem o maior nem quem grita mais, mas o que melhor se adapta. Creio que ainda estou nesse processo de adaptação”. Ele faz parte dos 18% de pessoas maiores de idade que, segundo a Pesquisa Nacional sobre Deficiência 2018, têm alguma deficiência na Costa Rica. De acordo com as Nações Unidas, no âmbito mundial aproximadamente um bilhão de pessoas vive com deficiência, 15% da população. No entanto, não há dados (globais ou nacionais) a respeito do impacto da pandemia nesta população. Nesse sentido, a ONU reiterou a necessidade de dar protagonismo às necessidades das pessoas com deficiência para responder às desigualdades e ameaças geradas neste grupo pela pandemia.

Mario Alvarado
Mario working

No caso de Mario, seus problemas o obrigam a ir periodicamente ao hospital para receber medicamentos ou fazer suas consultas regulares de controle. Mas as visitas aos centros de saúde não são o aspecto mais difícil que ele tem enfrentado no contexto da pandemia. O isolamento ao qual deve se submeter para evitar o contágio tem trazido como consequência dificuldades em sua saúde mental. “Colocaram-me em tratamento psicológico. Depois a situação foi piorando e me transferiram para tratamento psiquiátrico, e comecei a tomar algum tipo de psicotrópico. Isso permite me manter relativamente estável”, diz Mario sobre como enfrentou os primeiros meses da pandemia.

A saúde mental das pessoas com deficiência é um eixo pouco analisado na Costa Rica. Na verdade, a Pesquisa Nacional sobre Deficiência não inclui componentes específicos sobre o tema. A companhia de seu namorado, Gabriel, em alguns dias da semana, e o apoio de Chayo, que faz os trabalhos domésticos e cozinha duas vezes por semana, têm ajudado Mario a enfrentar a solidão. Seus passatempos também passaram a ser pilares centrais para seu bem-estar. Os videogames, a tecnologia e os espaços de relaxamento no terraço têm sido fundamentais para manter o ânimo.

Desde que as medidas de isolamento começaram — relata Mario —, muitas de suas amizades deixaram de procurá-lo, tanto física como virtualmente. “Os colegas, a família, os amigos confundiram o ambiente de quarentena com o tema do esquecimento. O fato de eu estar permanentemente em casa em razão da pandemia não significa que não possamos nos comunicar de alguma maneira, e apoiar-nos de outras formas”, reflete. Mario sabe que a pandemia ainda estará presente por mais alguns meses, mas, como verdadeiro especialista em se reinventar ao longo da vida, dedica seu tempo e seus recursos para continuar se adaptando ao contexto.