PROJETO ECHO ELA: QUINTA SESSÃO - 25 DE SETEMBRO DE 2020

A reunião mensal do Projeto ECHO Latino América ELA: Teleconferências mensais sobre programas de prevenção de câncer cérvicouterino aconteceu sexta-feira 25 de setembro de 2020, sobre o tema das estratégias para alcançar as metas de vacinação contra o HPV da OMS.

Durante a reunião, as colaboradoras do Projeto ECHO ELA: Silvana Luciani, Organização Pan Americana de Saúde (OPAS), Melissa Lopez Varon, Centro de Câncer MD Anderson da Universidade de Texas e Sandra Lorena San Miguel, Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos (NCI), e os membros da Faculdade, os Drs. Silvina Arrossi (Argentina), Maria Tereza da Costa (OPS/WDC/Brasil), Mauricio Maza (El Salvador), Jane Montealegre (BCM) e Mila Salcedo (MDACC/Brasil) deram as boas-vindas a 91 participantes, incluindo o responsáveis pelos programas nacionais de câncer cérvicouterino e de imunizações dos Ministérios de Saúde da América Latina; representantes de ONGs e de associações profissionais trabalhando no tema; Pontos Focais da OPAS de cada país, representantes da OPAS de Washington, D.C., o Centro de Câncer MD Anderson da Universidade de Texas, o Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos e colaboradores relacionados ao tema.

 

Resumo da reunião anterior, de 28 de agosto de 2020: Dra. Maria Tereza da Costa (OPAS/WDC)

Dra. Maria Tereza da Costa (OPAS/WDC)

A Dra. da Costa apresentou o resumo da reunião anterior, incluindo sua própria conferência sobre o tema didático, ‘ESAVI e a vacina contra o HPV’’. A Dra. da Costa apresentou os dados sobre a segurança da vacina contra o HPV e os eventos supostamente atribuídos à vacinação contra o HPV, reafirmou a segurança da vacina segundo todas as evidências científicas, mencionou os mitos mais comuns e ressaltou a importância de uma resposta rápida para prevenir uma crise devido a que esta poderia levar a uma rejeição da vacina por parte da população resultando num impacto negativo nas coberturas. A Dra. Ana Goretti Kalume Maranhão do Brasil apresentou o caso ilustrando o tema sobre os ‘Eventos Adversos Supostamente Atribuídos à Vacina contra o HPV: Surto no Estado do Acre, Brasil.’ Os eventos eram sobre adolescentes que apresentaram crises convulsivas e mobilizaram a saúde pública e a população com repercussão nacional. O Ministério da Saúde do Brasil fez um convênio com o Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo para avaliar doze adolescentes com quadro de convulsões. O Dr. Renato Marquetti, Médico Psiquiatra da Universidade de São Paulo, explicou que todos os casos aconteceram na capital do Acre e que os adolescentes pertencem a famílias com vulnerabilidades sociais, de classe social baixa. A maioria dos adolescentes sofreram carências na infância e pertencem a famílias disfuncionais, com desemprego de parte dos pais e a situação financeira dependente das finanças maternas. As crianças estiveram internadas por duas semanas, foram monitoradas por meio de vídeo encefalograma contínuo, 10 deles apresentaram crises não epilépticas psicogênicas e dois casos apresentaram epilepsia generalizada (em dois irmãos com essa condição genética). Depois de fazer um sem número de avaliações, foram descartadas todas as outras complicações clínicas possíveis. A conclusão do estudo é que não existe associação biológica com a vacina contra o HPV. A Dra. Goretti mencionou que a avaliação minuciosa foi necessária para esclarecer a situação clínica dos adolescentes, dar-lhes o tratamento necessário e reverter a situação de desconfiança da vacina, não só no Acre, mas também em outros estados no Brasil. Esperamos que esta experiencia sirva como lição aprendida para outros países. Este trabalho foi publicado na revista científica ‘Vaccine’.

Visite o sitio web para encontrar informação adicional: https://mediaplayer.mdanderson.org/video-full/95ABA76A-4B10-4164-A01A-C2289368ECFD

Tema Didático

Foto y presentación del Dr Paul Bloem

 

Foi apresentado o tema didático, ‘Coberturas Vacinais e Estratégias de Vacinação Contra o HPV para Alcançar a Meta de 2030' pelo expositor Paul Bloem, OMS.

O Dr. Mauricio Maza, Diretor Executivo, Basic Health International, El Salvador apresentou o caso ‘Lições Aprendidas de Prevenção de Câncer Cérvicouterino durante a Pandemia’. Cabe lembrar aos participantes que o Projeto ECHO® se baseia no intercâmbio multilateral de conhecimentos utilizando casos no epicentro da discussão.

Portada de la presentación de la quinta sesión

 

Dra. Ana Goretti – Parabéns a Paul por sua conferência, sobretudo por compartilhar os slides da campanha do Instituto de Câncer do Brasil. As taxas de cobertura de vacinação continuam decrescendo devido ao fechamento das escolas e a pandemia e esta situação é muito preocupante para nós. Em outubro vamos começar uma campanha publicitária de saúde pública sobre a vacinação das crianças e adolescentes até os 15 anos. A campanha é dirigida não só aos pais, mas também aos médicos pois eles têm um papel muito importante para vacinar aos adolescentes. Temos a esperança de que esta campanha possa melhorar a cobertura de vacinação.

 

Paul Bloem – Obrigado pelo comentário, é importante considerar uma campanha de multivacinação. Também é importante aumentar a idade para ter acesso à vacina, normalmente no Brasil é até os 14 anos, mas perdeu-se um ano devido à pandemia, se poderia aumentar a idade para os 15 anos.

 

Dr. Aulo Ortigoza Gonzalez - Nós pertencemos à Secretaria de Saúde de um estado de 5 milhões de habitantes e estamos projetando um plano piloto para apresentar à Divisão Nacional de Oncologia da Venezuela. A Venezuela não começou nenhum programa, ainda que a vacina tenha sido introduzida na forma privada sem estar seguros sobre seu seguimento. Selecionamos dois municípios, um numa área industrial perto da cidade de Maracaibo, aonde temos aproximadamente 23,000 crianças entre as idades de 10 e 14 anos, e outro município fronteiriço de indígenas, aonde temos 13,000 crianças adolescentes e sentimos um grande apoio por parte da comunidade indígena que tem confiança em nós. Se você fosse começar um programa desde zero, começaria um programa piloto na área indígena ou na área industrial?

 

Paul Bloem – Poderia responder de duas maneiras, uma é o que aconteceu nos países GAVI. Os países fizeram um experimento em um ou dois distritos e a introdução em nível nacional demorou e perdemos tempo. Existem muitos desafios quando só se introduz a vacinação em uma escala de pequeno nível e sempre existem vozes que dizem que estamos ‘experimentando’ em uma zona e quando se utiliza uma zona isolada até parece que se está experimentando ‘às escondidas’. De certa maneira é mais fácil introduzir a vacinação em nível nacional. Também podemos pensar que muitos países começaram em escala pequena e logo passaram a escalas maiores e bem sucedidas. Se temos que escolher entre duas zonas, temos notado que a zona mais difícil, a que se encontra mais distante, sofre muito porque quando surgem problemas é difícil chegar nesta zona. Se alguém quer demonstrar a factibilidade é melhor escolher uma zona próxima, se alguém pensa em equidade é importante considerar uma zona distante ou indígena a qual tem menos acesso aos testes de triagem. Se as condições são difíceis, é mais fácil ir a una zona onde existe maior acesso para que os resultados tenham sucesso.

 

Dra. Maribel Almonte – tenho duas perguntas, uma sobre a dose da vacina. Sabemos que existem vários trabalhos que estão tratando de avaliar a possibilidade de aplicar uma só dose esperando que a proteção seja a mesma. Se isto for possível, se for confirmado que se necessita uma só dose, já foi estimado o impacto global que teria só uma dose tanto na América latina como em nível mundial? A segunda pergunta se relaciona à pandemia, sabemos que todos os serviços de saúde foram afetados pela pandemia, pensando na inovação que se deve considerar em um ou dois anos, quando tenhamos uma vacina contra a COVID-19, poderíamos aproveitar que vamos vacinar contra a COVID-19 para também vacinar contra o HPV? Ou seja, poderíamos fazer um programa integrado para administrar ambas as vacinas?

 

Paul Bloem – Para a estratégia de eliminação foi realizado um estudo global em termos de impacto, assumindo 90% de cobertura com una proteção completa. Se acontecer concluir ser uma dose suficiente para uma proteção completa, não mudaria la curva e o impacto seria o mesmo, mas 1) se conseguiria com a metade dos recursos (uma só dose) e se conseguiria com a primeira dose, o que vai mudar a curva da cobertura global já que em muitos países a cobertura da primeira dose é muito melhor que a segunda dose. Teria um impacto epidemiológico. Em relação a tua segunda pergunta, temos que integrar os esforços com a nova vacina de COVID-19 porque os recursos vão ser menores. A nova vacina poderia ter seus próprios desafios e se não está bem aceitada ainda, como afetaria outras vacinas? O mais importante é que muitos países não vão ter muitos recursos e vamos ter que continuar otimizando os recursos.

 

Dra. Lina Trujillo - Parabéns ao Paul por sua excelente conferência. Na Colômbia ainda não temos uma cobertura tão alta (90%) de vacinação contra o HPV, logo te enviarei os dados mais atuais do Ministério da Saúde. Desde a OMS, planejam alguma estratégia para integrar o 90-70-90 ou continuaremos atuando como grupos a parte, o de vacinação, o grupo de testagem e os grupos de tratamento?

 

Paul Bloem - Obrigado por proporcionar estes dados. Na OMS/UNICEF fazemos nossas próprias estimativas baseados com certeza nos dados fornecidos pelo país (a OPAS usando o JRF). Nós podemos ter diferentes maneiras de calcular a cobertura, mas continuamos calibrando os dados e as estimativas com os países. Quanto à integração, é um desafio e o mais importante é que todo mundo tem que considerar que os três eixos são importantes. É primordial fazer a integração entre os três, se os programas contra o câncer que anteriormente promoviam e proporcionavam a triagem e o tratamento, agora estão também fazendo prevenção com a vacinação. Não quer dizer que necessariamente vamos juntar a vacinação com a triagem em nível dos serviços, mas sim temos que coordenar os serviços/eixos e integrar a comunicação.

 

Dr. Renato Kfouri – Gostaria de saber um pouco mais sobre a integração com outros programas de saúde para os adolescentes, como os programas de educação para prevenir a gravidez juvenil e o uso de drogas.

 

Paul Bloem – Existem muitas oportunidades perdidas em muitos países e temos muito trabalho por fazer para conseguir combinar programaticamente a vacinação contra o HPV com outras intervenções. Fizemos uma análise de oportunidades identificando 8 ou 9 intervenções fáceis para fazê-las conjuntamente, tal como como desparasitação, informação sobre a sexualidade etc. Entretanto, integrar estas intervenções na prática tem sido muito difícil. Temos visto muito pouco disso. Em muitos países faltam programas de saúde escolar para introduzir a vacina e reforçar a relação com os adolescentes para poder abordar outros temas. Fica esse trabalho por fazer e que temos que propor de novo.

 

Dra. Lúcia Helena de Oliveira – Parabéns ao Paul por apoiar nossa Região. Acrescentando um comentário sobre a integração entre as vacinas, como no Brasil e no Panamá já estão planejando como recuperar essas doses perdidas. Na Região temos uma diminuição de 15-17 % nas coberturas e a diminuição da cobertura da vacina contra o HPV é provavelmente ainda maior. O tema de combinar as vacunas de COVID-19 com a vacina contra o HPV seria um pouco complicado porque quando as vacunas de COVID-19 chegarem, os abastecimentos não serão suficientes. Além disso, os adolescentes não serão priorizados para a vacina de COVID-19.

Silvana Luciani – Desde o início da série de ECHO ELA, estamos propondo que os países formem um grupo multidisciplinar - com especialistas dos três eixos – e representantes do setor do governo e da sociedade civil para construir um plano compreensivo e trabalhar de forma integral, portanto, a integração que Paul apresentou pode se expressar por meio de um comitê multidisciplinar e um plano nacional para a eliminação do câncer cérvicouterino de forma integral.

 

Dra. Dalys Pinto: Panamá também tem uma campanha de vacinação programada com HPV e Tdap no próximo mês de outubro.

 

Dr. Itamar Bento: É possível estimar quando teremos a resposta sobre a vacuna com uma só dose?

 

Paul Bloem: Existem uma série de valiosos trabalhos (tanto RCTs como ecológicos) que estão sendo realizados no mundo inteiro inclusive em Guanacaste, Costa RICA (ESCUDO, CVT). Todos aportam evidências para diferentes aspectos e vão produzir seus dados intermediários e finais entre 2021 e 2025. Claramente a situação da COVID-19 poderia afetar estas datas. O ano de 2022 é provavelmente a primeira “janela (de tempo)” para uma análise dos dados disponíveis e uma eventual mudança de política - dependendo da força da evidência.

 

Dr. Itamar Bento Pinto: Seria possível ter uma versão deste vídeo da OPAS com áudio em português?

https://basichealth.org/CervicalCancer/Videos

Espanhol: 

https://www.youtube.com/watch?v=SSYfDgCrl0A

Português:

https://www.youtube.com/watch?v=bbf7Q5QoZy4

Inglês:

https://www.youtube.com/watch?v=cejwvdpQxbg

Francês:

https://www.youtube.com/watch?v=t4vTlPIvlxc

 Por favor siga o link para ter acesso à gravação da reunião e fique a vontade para compartilhar com outros colegas: https://mediaplayer.mdanderson.org/video-full/A34270B2-56C0-4E1C-AABF-A243B639A385

Webinar

 

A próxima reunião será realizada na sexta-feira, 30 de outubro das 12:00PM-1:30PM hora leste, Washington, D.C.

TEMA Didático: ‘Por que se está recomendando a introdução do teste de HPV nos programas de triagem?' – expositora, Dra. Maribel Almonte, IARC e também será apresentado um caso.

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