9 de janeiro de 2018 – O Ministério da Saúde do Brasil anunciou nesta terça-feira (9) que vai adotar, entre fevereiro e março deste ano, o fracionamento de doses da vacina contra a febre amarela em três estados: Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Essa medida é recomendada pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) como uma das estratégias de imunização que podem ser usadas em casos de emergência.
Uma dose completa de vacina contra febre amarela protege uma pessoa para toda a vida. Cada dose fracionada protege cinco pessoas, por um período determinado. Portanto, a OPAS/OMS recomenda aos países que a dose fracionada só seja utilizada como opção imediata e de curto prazo em resposta a necessidades eventuais de campanhas de larga escala – uma vez que um surto ameace a capacidade de abastecimento, por exemplo, se espalhando para áreas altamente povoadas. O fracionamento não tem a intenção de servir como estratégia de longo prazo nem de substituir as rotinas estabelecidas nas práticas de imunização.
Em dezembro do ano passado, a pedido do Ministério da Saúde do Brasil, uma equipe formada por membros da OPAS, da Rede Mundial de Alerta e Resposta a Surtos (GOARN, na sigla em inglês) e da OMS organizou em Brasília um workshop para especialistas em controle de febre amarela sobre estratégias de vacinação durante possíveis surtos em grandes cidades, incluindo o fracionamento de doses.
A OPAS/OMS tem dado amplo suporte ao governo do Brasil e aos estados na resposta aos surtos de febre amarela ocorridos desde o ano passado – como o envio de vacinas contra a doença, a compra de seringas para doses fracionadas, a divulgação de recomendações baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis e o trabalho em campo, juntamente com as autoridades nacionais e locais.
Em 2017, mais de 20 profissionais foram enviados pelo organismo internacional à Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro para atuar no controle de mosquitos Aedes, minimizando o risco de transmissão urbana da doença, na análise detalhada de dados para subsidiar ações estratégicas, na capacitação de profissionais, na pesquisa epidemiológica com pacientes infectados ou com suspeita de infeção e na atualização de guias e protocolos de atendimento.
Vacinação
A OPAS/OMS avalia que a medida mais importante para prevenir a febre amarela é a vacinação. Quem vive ou se desloca para as áreas de risco deve estar com as vacinas em dia e se proteger de picadas de mosquitos. Apenas uma dose da vacina é suficiente para garantir imunidade e proteção ao longo da vida. Efeitos secundários graves são extremamente raros.
Pessoas com mais de 60 anos só devem receber a vacina após avaliação cuidadosa de risco-benefício. A vacina contra a febre amarela não deve ser administrada em:
- Pessoas com doença febril aguda, cujo estado de saúde geral está comprometido
- Pessoas com histórico de hipersensibilidade a ovos de galinha e/ou seus derivados
- Mulheres grávidas, exceto aquelas com avaliação de alto risco de infecção e situações em que há recomendação expressa de autoridades de saúde
- Pessoas severamente imunodeprimidas por doenças (por exemplo, câncer, AIDS etc.) ou medicamentos
- Crianças com menos de 6 meses de idade (consulte a bula do laboratório da vacina)
- Pessoas de qualquer idade com uma doença relacionada ao timo
Perguntas e respostas sobre fracionamento
O que é a dose fracionada da vacina contra a febre amarela?
Especialistas orientam que uma dose menor da vacina pode proteger as pessoas contra febre amarela. Estudos mostram que a aplicação de um quinto (1/5) de uma dose regular fornece imunidade completa por pelo menos um ano, provavelmente mais. O uso de dose fracionada ou economia de dose pode ser feito para controlar um surto em casos onde o suprimento de vacinas é limitado.
O que os especialistas em vacinas dizem sobre a dosagem fracionada?
Após analisar evidências, o Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas sobre Imunização (SAGE) da OMS determinou que um quinto de uma dose padrão da vacina pode fornecer proteção total contra a doença por pelo menos 12 meses e pode ser usado para controlar surtos.
Em uma campanha de vacinação em massa na República Democrática do Congo em 2016, o método de fracionamento de doses se mostrou viável e uma abordagem promissora para proteger populações em risco que, de outro modo, não seriam protegidas.
A dosagem fracionada não é proposta para a imunização de rotina, uma vez que não há dados suficientes disponíveis para mostrar que doses mais baixas conferem proteção ao longo da vida. Atualmente, há estudos em andamento para determinar a proteção a longo prazo fornecida por doses fracionadas.
Quando o método de doses fracionadas deve ser utilizado?
O uso de doses fracionadas é a melhor maneira de estender o suprimento de vacinas e proteger o maior número possível de pessoas para impedir a propagação da febre amarela em situações de emergência. Com base nas evidências disponíveis, Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas (SAGE) sobre Imunização da OMS afirma que uma dose fracionada pode ser usada, como parte de uma resposta em caráter excepcional, quando há risco de um grande surto e escassez de vacinas.
A dose de emergência é válida para emissão de certificado internacional de vacinação contra a febre amarela?
A dose fracionada não dá direito a um certificado de febre amarela válido para viagens internacionais. Pessoas que quiserem fazer viagens internacionais necessitam de uma dose completa da vacina. A dose completa proporciona imunidade ao longo da vida e dá direito a um certificado internacional de vacinação contra a febre amarela.
Crianças podem receber uma dose fracionada da vacina contra a febre amarela?
Não existem dados disponíveis que demonstrem que uma dose fracionada da vacina contra a febre amarela em crianças com menos de dois anos de idade fornecerá a mesma proteção que a dose completa. Crianças muito novas podem ter uma resposta imunológica mais fraca à vacina do que pessoas mais velhas. Portanto, as crianças com menos de dois anos de idade devem receber uma dose completa.
Como os registros de vacinação serão mantidos?
A OMS recomenda que os países que decidam usar doses fracionadas mantenham registros adequados de vacinação das pessoas que recebam essa dose. É importante que elas sejam acompanhadas e, mais tarde, avaliadas quanto ao tempo de proteção que a vacina ofereceu – e, se necessário, serem revacinadas. Essas pessoas precisarão ser informadas de que receberam a dose fracionada e necessitarão de uma dose completa da vacina se desejarem viajar.
Existe um risco maior de efeitos adversos na aplicação de uma dose fracionada da vacina?
A dose fracionada provém da mesma vacina de dose completa. Foi aplicada em milhões de pessoas para prevenir a febre amarela no passado. É tão segura e eficaz quanto a dose completa da vacina.
Eventos adversos graves após uma dose completa de vacina contra a febre amarela são extremamente raros (menos de um por um milhão de pessoas). Não há evidências de aumento dos eventos adversos graves quando se utiliza uma dose fracionada.
Esse método já foi usado para outras vacinas?
Atualmente, a dose fracionada está sendo utilizada para a vacina inativada contra a poliomielite (IPV), raiva e Bacillus Calmette-Guérin (BCG), uma vacina usada principalmente contra a tuberculose.
[Este texto foi atualizado em 12.01.2018]