OPAS/OMS aponta estigma como obstáculo para eliminar hanseníase

31 de janeiro de 2018 – No marco do Dia Mundial de Combate à Hanseníase, a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) participou nesta quarta-feira (31), em Belém (PA), do lançamento de uma nova campanha de conscientização do Ministério da Saúde do Brasil sobre a doença.

Sob o lema “Hanseníase. Identificou. Tratou. Curou”, as peças serão divulgadas em diversos veículos de comunicação para alertar os brasileiros – principalmente homens com idade entre 20 e 49 anos, grupo com o maior número de detecção de novos casos – sobre os sintomas da doença. Além disso, a campanha incentiva as pessoas que suspeitam tê-la a buscarem os serviços de saúde e orienta os profissionais de saúde sobre o diagnóstico precoce, tratamento e prevenção das deficiências resultantes dessa enfermidade.

Joaquín Molina, representante da OPAS/OMS no Brasil, afirmou que a região das Américas tem observado uma diminuição gradual do número de novos casos de hanseníase. Entre 2011 e 2016, por exemplo, houve uma redução de 26% nos casos detectados e 31% no número de crianças diagnosticadas. Apesar disso, ele reiterou que o combate à doença não pode perder a força. “Avançamos e podemos comemorar os progressos alcançados nos últimos anos, mas não podemos baixar a guarda. São necessários recursos financeiros adicionais e mais compromisso político para atingir o objetivo da eliminação da hanseníase.”

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil também registrou uma redução no número de detecção de casos nos últimos anos: de 40,1 mil em 2007 para 25,2 mil em 2016 – o que representa uma diminuição de 42,3% da taxa de diagnóstico do país.

Molina também apontou o estigma e a discriminação relacionados à doença como um obstáculo para sua eliminação. “É importante lembrar que, apesar de existirem tratamentos eficazes e cura para a hanseníase, campanhas massivas de educação em saúde pública, um aumento da consciência sobre a doença e integração dos tratamentos nos serviços de saúde, os esforços para o combate e controle dessa enfermidade ainda encontram um grande obstáculo: o estigma e a discriminação enfrentados pelas pessoas afetadas por ela”, disse. Na ocasião, o representante reafirmou o compromisso da OPAS/OMS de continuar trabalhando junto aos governos, parceiros, movimentos sociais e sociedade civil para assegurar um controle efetivo da doença no Brasil e em outros países das Américas.

“Em todo o mundo, os programas de combate à hanseníase e seus parceiros trabalham para promover a conscientização sobre uma doença que muitas pessoas acreditam estar extinta, quando, na verdade, 210 mil novos casos ainda são diagnosticados a cada ano”, ponderou Isabelle Roger, assessora regional de Doenças Negligenciadas e Hanseníase da OPAS/OMS. Ela revelou ainda que é possível haver um grande número de pessoas com a enfermidade sem o devido diagnóstico – o que as deixa em risco de desenvolver incapacidades físicas.

Abordagens Inovadoras

Desenvolvido pelo Ministério da Saúde brasileiro em parceria com a OPAS/OMS e com apoio da Fundação Nippon, do Japão, o Projeto Abordagens Inovadoras para Intensificar Esforços para um Brasil livre da Hanseníase teve início em outubro de 2017 e busca reduzir a carga da doença em 20 municípios dos estados do Maranhão, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí e Tocantins.

Essas localidades foram escolhidas por apresentaram o maior número de casos novos de hanseníase diagnosticados em menores de 15 anos. O Pará, estado onde a campanha foi lançada, é o terceiro com o maior número de novos casos (2.359), ficando atrás apenas de Mato Grosso (3.167) e Maranhão (2.715).

Saiba mais sobre a hanseníase

A hanseníase é uma doença crônica infecciosa causada por uma bactéria, que se multiplica muito lentamente e o período de incubação da doença varia de nove meses a 20 anos, com uma média de cinco anos. Afeta principalmente a pele, os nervos periféricos e os olhos. A detecção precoce dos casos reduz muito os riscos de deformidades e incapacidades físicas entre os pacientes. Essa enfermidade tem cura e o medicamento é gratuito em todos os países.

A hanseníase não é muito contagiosa. É transmitida por meio de gotículas nasais e orais durante contato próximo e frequente com uma pessoa que tem a doença e não recebeu tratamento. Quando tratada em seus estágios iniciais, as chances de incapacidade diminuem consideravelmente. Hoje, o diagnóstico e o tratamento da hanseníase são simples e os países com maior endemicidade estão se esforçando para integrar plenamente o cuidado nos serviços de saúde gerais existentes.

A doença está presente em 24 dos 35 países das Américas. Em 2016, esses Estados registraram um total de 27 357 novos casos. Isso representa 12,6% da carga global (11,6% somente no Brasil) e põe a Região das Américas como a segunda em número de casos reportados, atrás apenas da Região do Sudeste Asiático.

Estratégia Global para a Hanseníase 2016-2020

Lançada em 2016 pela OMS, a Estratégia Global para a Hanseníase 2016-2020 está baseada em três pilares: fortalecer o controle, a coordenação e as parcerias do governo; combater a hanseníase e suas complicações; enfrentar a discriminação e promover a inclusão. A estratégia fornece orientações aos gestores de programas nacionais de hanseníase para que tomem as medidas necessárias para reduzir a carga da doença, em colaboração com vários setores, incluindo organizações que trabalham em questões de direitos humanos e equidade de gênero.