As novas infecções por HIV na América Latina não diminuíram de 2010 a 2020, enquanto a redução no Caribe não está a caminho de cumprir as metas. Acelerar a introdução e ampliação de novos métodos de prevenção e tratamento para a população de maior risco é a chave para voltar aos trilhos e superar os desafios impostos pela pandemia de COVID-19
Washington, DC, 30 de novembro de 2021 (OPAS) – À véspera do Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado nesta quarta-feira (1), a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) enfatizaram que o número de novas infecções por HIV não diminuiu em uma década na América Latina. Ambas as organizações pediram mais ações para alcançar a meta de eliminação da aids até 2030, após quase dois anos de interrupções devido à pandemia de COVID-19.
“Acabe com as desigualdades. Acabe com a AIDS. Acabe com as pandemias” é o tema do Dia Mundial de Luta contra a Aids deste ano, que se concentra no enfrentamento das desigualdades que impulsionam a doença e dificultam o acesso a serviços essenciais de HIV, especialmente para os mais afetados e deixados para trás.
“O HIV não afeta a todos da mesma forma. Existem pessoas com maior risco de se infectarem, que continuam enfrentando o estigma e a discriminação e que não têm acesso aos métodos de prevenção ou cuidados de que precisam, e isso é inaceitável”, declarou a diretora da OPAS, Carissa F. Etienne. “Se quisermos acabar com a aids, devemos nos concentrar naqueles que correm maior risco, em acelerar a introdução de métodos de diagnóstico e prevenção novos e existentes e em garantir o acesso precoce ao tratamento mais eficaz”, complementou.
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde e do UNAIDS, 2,4 milhões de pessoas vivem com o HIV na América Latina e no Caribe; 81% delas foram diagnosticadas. Destas, 65% receberam tratamento e 60% tinham carga viral suprimida. Enquanto isso, as mortes por aids caíram 27% desde 2010 e a porcentagem de pessoas que vivem com HIV que tiveram seu diagnóstico tardio caiu de 33% em 2016 para 25% no ano passado.
“Para acabar com a aids até 2030, devemos acabar urgentemente com as desigualdades econômicas, sociais, culturais e jurídicas que impulsionam a aids e outras pandemias em nossa região”, disse Alejandra Corao, diretora regional interina do UNAIDS para a América Latina e o Caribe. “Embora haja a percepção de que um período de crise não é o momento mais apropriado para priorizar o enfrentamento das injustiças sociais pré-existentes, é claro que até que esta seja resolvida, devemos redobrar nossos esforços para superar a crise.”
COVID-19 e HIV: cumprimento das metas em risco
Em 2020, a pandemia de COVID-19 impactou os serviços de HIV, comprometendo a disponibilidade de tratamento e interrompendo a prestação de serviços. Entre elas, atividades de prevenção, teste de HIV (que caiu 34% em relação a 2019) e teste de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), bem como terapia antirretroviral entre indivíduos recém-diagnosticados, de acordo com dados de 20 países. A pandemia também atrasou a implementação da PrEP (profilaxia pré-exposição).
A OPAS/OMS e o UNAIDS alertaram que, à medida que os testes e o número de resultados positivos são reduzidos, existe um risco significativo de retrocesso no progresso em direção às metas de eliminação. Ambas as organizações acreditam que os serviços de saúde baseados na comunidade precisam ser fortalecidos e adequadamente financiados para serem a primeira linha de batalha contra o estigma, colocando as pessoas e seus direitos humanos no centro da resposta à pandemia.
No entanto, dispensar medicamentos para vários meses de uma só vez, telessaúde, consultas online, autoteste, envio pelo correio e entrega em casa de medicamentos e novos modelos de cuidados voltados para a comunidade ajudaram a sustentar os serviços de HIV durante a pandemia de COVID-19.
Autoteste, PrEP e tratamento adequado
Pessoas preocupadas com a confidencialidade do diagnóstico ou que geralmente não são alcançadas com o teste convencional agora podem saber seu status sorológico por meio do autoteste em suas casas. A OPAS e o UNAIDS recomendam esse método de teste - que até o momento só era introduzido por programas nacionais em 10 países da região. As organizações estão promovendo a PrEP na campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids deste ano.
Desde 2015, a OPAS e o UNAIDS recomendam a introdução da PrEP, que pode ser tomada por quem não vive com o HIV, mas tem alto risco de contraí-lo. Essa população representa 92% dos novos casos de HIV na América Latina e 68% no Caribe. Apenas 10 países da região têm políticas públicas para o fornecimento da PrEP, dois países a mais do que em 2019. Sem aumentar a PrEP, é improvável que a região alcance redução suficiente em novas infecções para acabar com a aids até 2030.
Garantir o tratamento precoce com os medicamentos mais eficazes também é fundamental para reduzir a transmissão do HIV e salvar vidas. No entanto, muitos países estão atrasados na adoção do antirretroviral dolutegravir (DTG) como parte do tratamento de preferência recomendado pela OMS. Na maioria dos países da região, o número de pessoas em regime de tratamento com este antirretroviral - que é mais eficaz, mais fácil de tomar e tem menos efeitos colaterais do que outros - não ultrapassa 50%. Pessoas que vivem com HIV e têm carga viral indetectável não podem transmitir o vírus.