29 de janeiro de 2018 – A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou os primeiros dados de vigilância sobre resistência aos antibióticos e revelou altos níveis de resistência a uma série de infecções bacterianas graves em países de alta e baixa renda. De acordo com o Global Antimicrobial Surveillance System (GLASS), há uma ocorrência generalizada de resistência aos antibióticos entre 500 mil pessoas com suspeita de infecção bacteriana em 22 países.
As bactérias resistentes mais comumente relatadas foram Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Staphylococcus aureus e Streptococcus pneumoniae, seguidas da Salmonella spp. O sistema não inclui dados sobre a resistência da Mycobacterium tuberculosis, uma vez que a OMS acompanha a tuberculose desde 1994 e fornece atualizações anuais no Global tuberculosis report.
Entre os pacientes com suspeita de infecção sanguínea, a proporção que apresentava bactérias resistentes a pelo menos um dos antibióticos mais utilizados variava entre diferentes países – de zero a 82%. A resistência à penicilina – medicamento usado por décadas em todo o mundo para tratar a pneumonia – variou de zero a 51% entre os países que relataram dados. Entre 8% a 65% de E. coli associadas a infecções do trato urinário apresentaram resistência à ciprofloxacina, um antibiótico comumente usado para tratar essa condição. "O relatório confirma a grave situação da resistência aos antibióticos em todo o mundo", diz Marc Sprenger, diretor do secretariado de Resistência Antimicrobiana da OMS.
"Algumas das infecções mais comuns do mundo – e potencialmente as mais perigosas – estão provando ser resistentes aos medicamentos", acrescenta. "E o mais preocupante de tudo: os patógenos não respeitam as fronteiras nacionais. É por isso que a OMS está encorajando todos os países a criarem bons sistemas de vigilância para detectar a resistência aos medicamentos e fornecer dados para este sistema global".
Até o momento, 52 países (25 de alta renda, 20 de média renda e sete de baixa renda) estão inscritos no sistema global da OMS. Para a elaboração do primeiro relatório, 40 países forneceram informações sobre seus sistemas nacionais de vigilância e 22 países também proveram dados sobre os níveis de resistência aos antibióticos.
"O relatório é um primeiro passo essencial para melhorar a nossa compreensão sobre a extensão da resistência antimicrobiana. A vigilância está no começo, mas é vital desenvolvê-la se quisermos antecipar e enfrentar uma das maiores ameaças à saúde pública global", afirma Carmem Pessoa-Silva, coordenadora do sistema da OMS.
Os dados apresentados no relatório variam amplamente em qualidade e completude. Alguns países enfrentam grandes desafios na construção de seus sistemas nacionais de vigilância, entre eles a falta de profissionais, de investimentos e de infraestrutura.
No entanto, a OMS está apoiando outros países para criar sistemas nacionais de vigilância da resistência antimicrobiana que possam produzir dados confiáveis e significativos. O GLASS está ajudando a padronizar a forma como os países coletam dados e permite uma imagem mais completa sobre padrões e tendências de resistência antimicrobiana.
Programas sólidos de vigilância da resistência às drogas em TB, HIV e malária têm funcionado há muitos anos e ajudaram a estimar a carga dessas doenças. Além disso, essas ferramentas orientam ações em serviços de diagnóstico e tratamento, monitoram a eficácia das intervenções de controle e subsidiam indicações de regimes de tratamento efetivos para abordar e prevenir futuras resistências. Espera-se que o relatório GLASS desempenhe uma função similar para agentes patogênicos bacterianos comuns.
A implantação do GLASS já está fazendo a diferença em muitos países. O Quênia, por exemplo, melhorou o desenvolvimento de seu sistema nacional sobre resistência antimicrobiana; a Tunísia começou a agregar dados sobre resistência antimicrobiana a nível nacional; a República da Coreia revisou completamente seu sistema de vigilância nacional para alinhá-lo à metodologia GLASS, fornecendo dados de alta qualidade e completude; e países como o Afeganistão ou o Camboja, que enfrentam grandes desafios estruturais, se inscreveram no sistema e estão usando a estrutura GLASS como uma oportunidade para fortalecer suas capacidades de vigilância. A participação nacional no GLASS é vista como um sinal de crescente compromisso político para apoiar os esforços globais de controle da resistência antimicrobiana.
Nota aos editores
A necessidade de um sistema de vigilância global foi destacada pela OMS em 2014 no documento Antimicrobial resistance global report on surveillance.
Em outubro de 2015, a OMS lançou o GLASS junto aos Centros Colaboradores da OMS e às redes existentes de vigilância de resistência antimicrobiana e com base na experiência de outros programas de vigilância da OMS. A vigilância da resistência à droga usada para a tuberculose, por exemplo, foi implementada em 188 países nos últimos 24 anos. A vigilância da resistência aos medicamentos contra o HIV começou em 2005 e, até 2017, mais de 50 países relataram dados sobre o pré-tratamento e adquiriram resistência usando métodos de pesquisa padronizados.
Qualquer país, em qualquer fase do desenvolvimento de seu sistema nacional de vigilância de resistência antimicrobiana, pode se inscrever no sistema. Os países são encorajados a implementar os padrões e indicadores de vigilância gradualmente, com base em suas prioridades nacionais e recursos disponíveis.
O sistema global irá, eventualmente, incorporar informações de outros sistemas de vigilância relacionados à resistência antimicrobiana nos seres humanos, como na cadeia alimentar, monitoramento do consumo de antimicrobianos, projetos de vigilância direcionados e outros dados relacionados.
Todos os dados produzidos pelo GLASS estão disponíveis gratuitamente online e serão atualizados regularmente. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, ressaltou seu objetivo de tornar a resistência antimicrobiana uma das principais prioridades da OMS, reunindo especialistas e trabalhando nesta questão no âmbito de um novo conjunto de iniciativas estratégicas.