28 de novembro de 2017 – Estima-se que um em cada 10 produtos médicos que circulam em países de baixa e média renda sejam de baixa qualidade ou falsificado, de acordo com novas pesquisas realizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Desta forma, pessoas estão tomando medicamentos que não conseguem tratar ou prevenir doenças. O fato mostra não só um desperdício de dinheiro para indivíduos e sistemas de saúde, mas também o consumo de produtos médicos de qualidade inferior ou falsificados que podem causar doenças graves e até a morte.
"Medicamentos de baixa qualidade e falsificados afetam particularmente as comunidades mais vulneráveis", afirma Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. "Imagine uma mãe que deixa de comprar alimentos ou manter outras necessidades básicas para pagar o tratamento de sua criança, sem saber que os remédios são inadequados ou falsificados e que esse tratamento pode fazer com que o filho morra. Isso é inaceitável. Os países concordaram em medidas a nível global – é hora de transformá-las em ações tangíveis".
Desde 2013, a OMS recebeu 1,5 mil notificações de casos de produtos abaixo do padrão ou falsificados. Desses, antimaláricos e antibióticos são os mais comumente relatados. A maioria das notificações (42%) vem da África Subsaariana; 21% vem das Américas e outros 21%, da região Europeia.
Provavelmente, essa é apenas uma pequena fração do problema real e muitos casos podem não ser relatados. Apenas 8% das notificações à OMS, por exemplo, vieram da região do Pacífico Ocidental, 6% do Mediterrâneo Oriental e apenas 2% do Sudeste Asiático.
"Muitos desses produtos, como os antibióticos, são vitais para a sobrevivência e o bem-estar das pessoas", diz Mariângela Simão, diretora-geral assistente para Acesso a Medicamentos, Vacinas e Produtos Farmacêuticos da OMS. "Os medicamentos de baixa qualidade ou falsificados não têm apenas um impacto trágico em pacientes e suas famílias, mas também representam uma ameaça à resistência antimicrobiana, aumentando a preocupante tendência de medicamentos que estão perdendo o poder de tratar".
Antes de 2013, não existiam relatórios globais com essas informações. Considerando que a OMS estabeleceu um sistema global de vigilância e monitoramento de produtos de baixa qualidade e falsificados, muitos países estão agora ativos no que diz respeito aos medicamentos, vacinas e dispositivos médicos suspeitos.
A OMS treinou 550 reguladores de 141 países para detectar e responder a esse problema. À medida que mais pessoas são treinadas, mais casos são relatados à Organização. A OMS recebeu notificações de produtos médicos de qualidade inferior ou falsificados utilizados desde tratamentos de câncer até contraceptivos. Eles não se limitam a medicamentos de alto valor ou a marcas bem conhecidas e estão divididos quase uniformemente entre produtos genéricos e patenteados.
Junto ao primeiro relatório do sistema global de vigilância e monitoramento, publicado nesta terça-feira (28), a OMS está divulgando pesquisas que avaliam uma taxa de falha de 10,5% em todos os produtos médicos utilizados em países de baixa e média renda.
O estudo foi baseado em mais de 100 trabalhos de pesquisa publicados sobre questionários em relação à qualidade de medicamentos, aplicados em 88 países de baixa e média renda e envolvendo 48 mil amostras de medicamentos. A falta de dados precisos mostra que essas estimativas são apenas uma indicação da escala do problema. Mais pesquisas são necessárias para estimar mais precisamente a ameaça representada por produtos médicos de baixa qualidade e falsificados.
Com base em 10% das estimativas sobre esses medicamentos, um exercício de modelagem desenvolvido pela Universidade de Edimburgo calcula que entre 72 mil e 169 mil crianças podem morrer a cada ano em consequência de pneumonia tratada com antibióticos falsificados e de baixa qualidade. Um segundo modelo, feito pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, avalia que 116 mil (64 mil – 158 mil) mortes adicionais por malária podem ser causadas anualmente por antimaláricos de baixa qualidade e falsificados na África Subsaariana. Isso representa um custo de US$ 38,5 (21,4 - 52,4) milhões para pacientes e prestadores de cuidados de saúde em tratamentos adicionais devido ao fracasso do tratamento.
Os produtos médicos com baixa qualidade chegam aos pacientes quando as ferramentas e a capacidade técnica para impor padrões de qualidade na fabricação, fornecimento e distribuição são limitadas. Os produtos falsificados, por outro lado, tendem a circular quando a regulamentação e a governança inadequadas são agravadas pela prática antiética dos atacadistas, distribuidores, varejistas e profissionais de saúde. Uma grande proporção dos casos relatados à OMS ocorre em países com acesso limitado a produtos médicos.
Os modelos modernos de compras, como farmácias on-line, podem facilmente contornar a supervisão regulatória. Esses são especialmente populares em países de alta renda, mas são necessárias mais pesquisas para determinar a proporção e o impacto das vendas de produtos médicos de qualidade inferior ou falsificados.
A globalização está dificultando a regulamentação dos produtos médicos. Muitos falsificadores fabricam e imprimem embalagens em diferentes países, enviando componentes para um destino final onde são montados e distribuídos. Às vezes, empresas offshore e contas bancárias têm sido usadas para facilitar a venda de medicamentos falsificados. "A conclusão é de que se trata de um problema global", acrescenta Simão. "Os países precisam avaliar a extensão do problema e cooperar regional e globalmente para evitar o tráfico desses produtos e melhorar a detecção e a resposta".
Nota aos editores
A OMS está publicando dois relatórios nesta terça-feira:
- WHO Global Surveillance and Monitoring System for substandard and falsified medical products, baseado em dados coletados durante os quatro primeiros anos de operação até 30 de junho de 2017; e
- Um estudo sobre saúde pública e o impacto socioeconômico causado por produtos médicos abaixo do padrão de qualidade e falsificados, conduzido pela OMS e pelo Mecanismo de Estados Membros.
Este estudo se baseia em 100 revisões de literatura e dois modelos avaliados por pares e desenvolvidos pela Universidade de Edimburgo e pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres. Os 100 artigos analisados fornecem dados para mais de 48 mil amostras de medicamentos de 88 países. Como apenas 178 delas foram colhidas em países de alta renda, as estimativas de prevalência de produtos médicos de qualidade inferior ou falsificados foram limitadas aos países de baixa e média renda.
Apesar dessas limitações, os dois relatórios representam a compilação mais abrangente até o momento dos dados relacionados a produtos médicos de baixa qualidade e falsificados e são o primeiro passo para uma melhor compreensão da saúde pública e de seu impacto socioeconômico.