Washington, DC, 22 de setembro de 2023 (OPAS/OMS) - A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o governo do Canadá lançaram uma iniciativa para eliminar o tracoma, uma doença ocular infecciosa e principal causa de cegueira entre mulheres em áreas pobres e remotas da América Latina.
Por meio de uma contribuição de 15 milhões de dólares canadenses (11,2 milhões de dólares americanos) fornecida pelo Global Affairs Canada (GAC), a OPAS expandirá a cooperação técnica em dez países da América Latina e do Caribe para fortalecer a vigilância e ampliar o tratamento da doença. A meta é atingir cerca de 10 milhões de pessoas nos próximos cinco anos.
A parceria foi anunciada pelo primeiro-ministro canadense Justin Trudeau na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York, como parte dos esforços do país para apoiar o progresso da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
"Agradecemos ao governo do Canadá por essa contribuição, que ajudará a prevenir a deficiência visual e a cegueira causadas pelo tracoma nas Américas", disse o diretor da OPAS, Jarbas Barbosa. "Essa iniciativa avançará ainda mais em nosso objetivo de eliminar doenças evitáveis que afetam desproporcionalmente as populações mais vulneráveis e empobrecidas em nossa região, como o tracoma, até 2030.
Causado pela bactéria Chlamydia trachomatis, o tracoma é transmitido tanto por moscas quanto pelo contato direto com as secreções oculares de pessoas infectadas. A doença afeta principalmente as pessoas que vivem em extrema pobreza. Os fatores que favorecem a transmissão incluem superlotação e condições sanitárias e de higiene precárias.
O tracoma é endêmico em muitas áreas rurais, pobres e remotas do mundo, incluindo Brasil, Colômbia, Guatemala e Peru, onde afeta cerca de 5,6 milhões de pessoas. Na América Latina, as populações indígenas da bacia amazônica são desproporcionalmente afetadas pela doença.
Estima-se que as mulheres têm duas vezes mais chances de serem afetadas pela doença e até quatro vezes mais chances do que os homens de ficarem cegos devido ao tracoma. Isso se deve a uma combinação de fatores, incluindo funções tradicionais de cuidado baseadas no gênero em comunidades endêmicas, baixa escolaridade e acesso limitado a serviços básicos de saúde.
A colaboração entre a OPAS e o Canadá se concentrará nas populações em risco no Brasil, Colômbia, Guatemala e Peru, e acelerará a implementação do pacote integrado de intervenções contra o tracoma da OMS/OPAS, conhecido como SAFE. Esse pacote inclui cirurgia para evitar deficiência visual e possível cegueira, antibióticos para reduzir a infecção, limpeza facial para evitar a infecção e melhorias ambientais para reduzir a transmissão.
Com o objetivo de avançar rumo à eliminação da doença na região, Bolívia, Equador, El Salvador, Haiti e Venezuela também receberão apoio para fortalecer a vigilância para determinar se o tracoma é um problema de saúde pública entre as populações que vivem em condições de vulnerabilidade nesses países. O México, que se tornou o primeiro país da América Latina a eliminar o tracoma como um problema de saúde pública em 2017, receberá apoio para a implementação de ações de vigilância para evitar a recorrência da doença.
As doenças infecciosas negligenciadas, incluindo o tracoma, são um grupo diversificado de 20 doenças parasitárias, bacterianas e fúngicas que têm um impacto desproporcional sobre a saúde de populações em situações de vulnerabilidade, incluindo minorias étnicas. Os fatores de risco incluem pobreza, desigualdade de renda, falta de acesso a água potável e saneamento adequado, além de barreiras à educação e aos serviços de saúde, entre outros.
A OPAS apoia os países das Américas a acelerar os esforços para a eliminação dessas doenças por meio de abordagens integradas focadas em aumentar o acesso aos serviços de saúde, melhorar os sistemas de informação e vigilância em saúde, abordar os determinantes sociais e ambientais da saúde e fortalecer a governança para não deixar ninguém para trás. A Iniciativa de Eliminação da OPAS é um grande impulso para apoiar os países na eliminação de mais de 30 doenças transmissíveis e condições relacionadas, como o tracoma, até 2030.