Pequenas bactérias podem ajudar a deter a propagação do vírus zika?

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2 de janeiro de 2017 - Os mosquitos matam cerca de 700 mil pessoas por ano. Se infectados com vírus que causam doenças como chikungunya, dengue e zika, podem transmiti-las aos seres humanos com uma picada. Pesquisadores têm agora implantado um projeto-piloto de uma nova técnica para controlar as doenças transmitidas por mosquitos, fazendo uso da natureza. É uma das novas ferramentas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como projeto-piloto para a resposta ao vírus zika. Rita Ramos mora em Jurujuba, uma comunidade de pescadores com cerca de mil habitantes, na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro, Brasil.

Ela é uma das administradoras da comunidade e seu marido trabalha em uma loja de materiais de construção. Desde junho de 2016, Rita participa de um projeto para ajudar a controlar assassinos em seu bairro: os mosquitos.

Pesquisadores da Universidade Monach, na Austrália, com a colaboração de Luciano Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz ou Fiocruz, descobriram que mosquitos infectados artificialmente com uma bactéria chamada Wolbachia não transmitem dengue, chikungunya e zika com facilidade. A bactéria Wolbachia existe naturalmente em 60% dos insetos comuns.

Esta abordagem inovadora para o controle de doenças transmitidas por mosquitos foi trazida ao Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz em 2012. Inicialmente era um projeto de controle da dengue, que começou em uma pequena comunidade próxima ao aeroporto internacional, em 2014. Nessa fase do projeto, agora em Jurujuba (Niterói), os pesquisadores estão criando e liberando mosquitos com a bactéria Wolbachia. Eles pretendem ver o quão bem esses mosquitos, ao se acasalarem com mosquitos selvagens, podem passar as bactérias para a próxima geração de mosquitos, criando assim populações que não podem transmitir vírus mortais.

No início de 2015, Rita conheceu Jorge Pedrosa por meio de seu agente comunitário de saúde. Jorge, que coordenava atividades para engajar as comunidades no projeto de controle da dengue, explicou a pesquisa na qual esse tipo especial de mosquito é criado e liberado diretamente para a comunidade. "No início, Jorge veio explicar a mesma coisa todas as semanas", disse Rita. "Nós não entendemos o projeto. Também queríamos saber porque eles escolheram nossa comunidade." Ela faz parte de uma das 28 famílias nesta parte de Jurujuba que participam do projeto. Rita e Jorge são acompanhados por Gabriel Sylvestre Ribeiro (à direita), coordenador entomológico do projeto.

Rita mantém este balde branco debaixo das escadas da frente. Ele contém um pequeno pacote de ovos de mosquitos, algumas pastilhas de alimentos para peixes e água. Juntos, esses elementos formam uma atmosfera ideal de reprodução para os mosquitos infectados com a Wolbachia. Gabriel e seus colegas inspecionam e atualizam o conteúdo a cada duas semanas. Rita diz que não havia notado a grande quantidade de mosquitos na comunidade e seu ponto de vista mudou. ˜Quando os vejo, não os mato. Deixo-os voar. Eu não tenho medo deles...agora, para mim, é um privilégio ter os mosquitos aqui."

Jorge e Gabriel visitam Jurujuba a cada duas semanas, além de outras comunidades-piloto. Essas comunidades, juntamente com outras na Austrália, Indonésia e Vietnã, estão reunindo informações valiosas que ajudarão os pesquisadores a entender o quão bem esse método funciona para controlar doenças. Esses países também fazem parte de um programa global que tem como objetivo eliminar a dengue.

A OMS está encorajando pesquisas sobre esse novo método de controle de mosquitos. Em março de 2016, o Grupo Consultivo sobre Controle de Vetores da instituição recomendou a implantação-piloto de mosquitos portadores de Wolbachia para testar a eficácia do método, a ser seguido por monitoramento e avaliação independentes. "A bactéria Wolbachia não é uma bala de prata", afirmou Gabriel. "Mas é realmente promissora." Espera-se que os resultados de Jurujuba e de outras comunidades brasileiras devam ser envolvidos em resultados mais amplos.

A Fiocruz é um dos parceiros da OMS que trabalha na implantação-piloto de mosquitos infectados pela Wolbachia. Outros parceiros são a Universidade de Antioquia, em Medelín, Colômbia, e o professor Ivan Dario Velez.

Para mais informações, veja a entrevista com Scott O'Neill (em inglês), professor e decano de ciência na Universidade Monash, na Austrália. Ele lidera uma equipe de pesquisadores que descobriram que a capacidade dos vírus se desenvolverem em mosquitos Aedes aegypti infectados pela Wolbachia foi significativamente reduzida.