Oropouche: casos de transmissão de gestante para bebê em investigação no Brasil

woman under mosquito net

Washington, D.C., 18 de julho de 2024 (OPAS) - A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) emitiu uma alerta epidemiológica informando seus Estados membros sobre a identificação de possíveis casos, atualmente em investigação no Brasil, de transmissão do vírus Oropouche (OROV) da mãe para o bebê durante a gestação. A alerta recomenda reforçar a vigilância ante a possível ocorrência de casos similares em outros países com a circulação do OROV e outros arbovírus.

O vírus OROV é transmitido ao ser humano por meio, principalmente, da picada de um inseto comumente conhecido como maruim, bem como por espécies do mosquito Culex. Foi detectado pela primeira vez em Trinidad e Tobago em 1955 e, desde então, têm sido documentados surtos esporádicos em vários países das Américas, incluindo Brasil, Equador, Guiana Francesa, Panamá e Peru. Recentemente, foi observado um aumento na detecção de casos na região.

Entre janeiro e meados de julho de 2024, quase 7.700 casos confirmados de Oropouche foram notificados em cinco países das Américas, com o Brasil registrando o número mais alto (6.976), seguido pela Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia. A identificação de suspeitas de transmissão do vírus da gestante para o bebê ocorre no contexto deste aumento de casos notificados.

Culicoides paraenses
Culicoides paraenses. (Fotos: Bruna Lais Sena do Nascimento, Laboratório de Entomologia Médica/SEARB/IEC.)

Em caso recente, uma gestante residente no estado de Pernambuco apresentou sintomas de Oropouche durante a 30ª semana de gestação. Após confirmação laboratorial da infecção por OROV, foi posteriormente reportada a morte do feto. Um segundo caso suspeito foi notificado no mesmo estado brasileiro – onde sintomas semelhantes foram observados em uma gestante – e resultou em um aborto espontâneo.

"A possível transmissão vertical e as consequências para o feto ainda estão sendo investigadas", diz a OPAS na alerta epidemiológica. "No entanto, essas informações são compartilhadas com os Estados Membros a fim de se proporcionar ciência sobre a situação e, ao mesmo tempo, solicitar que estejam alertas para a ocorrência de eventos semelhantes em seus territórios", agrega, com o objetivo de entender melhor essa possível via de transmissão e suas implicações. 

No dia 17 de julho deste ano, a OPAS publicou diretrizes para ajudar os países na detecção e vigilância do vírus Oropouche ante possíveis casos de infecção materno-infantil, malformações congênitas ou morte fetal. A Organização está trabalhando em estreita colaboração com os países onde foram confirmados casos para partilhar conhecimentos e experiências.

Entre os sintomas da doença, estão a aparição repentina de febre, cefaleia (dor de cabeça), rigidez articular, dores e, em alguns casos, fotofobia, náuseas e vômitos persistentes que podem durar de cinco a sete dias. Embora a apresentação clínica grave seja rara, pode evoluir para meningite asséptica. A recuperação completa pode levar várias semanas.

Foto de Culicoides paraensis y Culex quinquefasciatus
Culicoides paraensis (el menor en la foto) e Culex quinquefasciatus (el más grande en la foto)

Para controlar o OROV, a OPAS faz um chamado aos países da região para implementarem medidas de prevenção e controle de vetores, incluindo o fortalecimento da vigilância entomológica, a redução das populações de mosquitos e outros insetos transmissores, bem como a conscientizar a população sobre medidas de proteção pessoal, especialmente gestantes, para prevenir picadas.

Entre as medidas recomendadas estão: proteger as residências com mosquiteiros de malha fina nas portas e janelas, usar roupas que cubram pernas e braços, principalmente em casas onde alguém esteja doente; aplicar repelentes contendo DEET, IR3535 ou icaridina e usar mosquiteiros nas camas ou móveis onde as pessoas descansam.

Desde o aumento no número de casos na região, a OPAS tem prestado apoio técnico aos países afetados para fortalecer as suas capacidades de detecção e confirmação do vírus Oropouche. Esse esforço inclui a distribuição de reagentes para detecção molecular simultânea e um protocolo que está atualmente disponível em 23 países para facilitar a detecção precoce do vírus.

Culicoides paraenses
Culicoides paraenses.

Além disso, a OPAS tem organizado diversas atividades, como um workshop internacional sobre vigilância molecular de arbovírus emergentes e reemergentes, que reuniu especialistas e pesquisadores em saúde da Bolívia, Brasil, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Venezuela.