Divulgados os resultados da avaliação de riscos e perigos do aspartame

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A Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC) e o Comitê Conjunto FAO/OMS de Especialistas em Aditivos Alimentares (JECFA) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) publicam, nesta sexta-feira (14/07), suas avaliações sobre os efeitos do aspartame, um adoçante sem açúcar, na saúde. A IARC classificou o aspartame como possivelmente carcinogênico para humanos (Grupo 2B da IARC), afirmando que há "evidências limitadas" de sua carcinogenicidade em humanos, e o JECFA reafirmou que a ingestão diária aceitável de aspartame é de 40 mg/kg de peso corporal.

O aspartame é um adoçante artificial (químico) amplamente utilizado em vários produtos alimentícios e bebidas desde a década de 1980, incluindo bebidas dietéticas, goma de mascar, gelatina, sorvete, produtos lácteos como iogurte, cereais matinais, pasta de dente e medicamentos como pastilhas para tosse e vitaminas mastigáveis.

"O câncer é uma das principais causas de morte em todo o mundo. Todos os anos, 1 em cada 6 pessoas morre de câncer. A ciência está em constante expansão para avaliar os possíveis fatores iniciadores ou facilitadores do câncer, na esperança de reduzir esses números e o número de vítimas", disse o Francesco Branca, diretor do departamento de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS. "As avaliações do aspartame mostraram que, embora a segurança não seja uma grande preocupação em doses comumente consumidas de aspartame, foram descritos possíveis efeitos que precisam ser investigados em mais estudos e de melhor qualidade.

Os dois órgãos realizaram análises independentes, mas complementares, para avaliar o perigo potencial carcinogênico e outros riscos à saúde associados ao consumo do aspartame. Essa foi a primeira vez que o IARC avaliou o aspartame e a terceira vez para o JECFA.

Após analisar a literatura científica disponível, ambas as avaliações observaram limitações nas evidências disponíveis sobre o câncer (e outros efeitos à saúde).

A IARC classificou o aspartame como possivelmente carcinogênico para humanos (Grupo 2B) com base em evidências limitadas de câncer em humanos (especificamente, carcinoma hepatocelular, que é um tipo de câncer de fígado). Também houve evidências limitadas de câncer em animais de experimentação e evidências limitadas relacionadas aos possíveis mecanismos de causa do câncer.

O JECFA concluiu que os dados avaliados indicavam que não havia razão suficiente para alterar a Ingestão Diária Aceitável (IDA) previamente estabelecida de 0 a 40 mg/kg de peso corporal para o aspartame. Portanto, o Comitê reafirmou que o consumo de uma quantidade diária dentro desse limite é seguro. Por exemplo, com uma lata de refrigerante diet contendo 200 ou 300 mg de aspartame, um adulto de 70 kg precisaria consumir mais de 9 a 14 latas por dia para exceder a ADI, se nenhum outro alimento for consumido.

A avaliação de risco pela IARC é a primeira etapa essencial para entender a carcinogenicidade de um agente, estabelecendo suas propriedades específicas e seu potencial de causar danos, ou seja, câncer. As classificações da IARC refletem a força da evidência científica de que um determinado agente pode causar câncer em seres humanos, mas não refletem o risco de câncer em um determinado nível de exposição. A avaliação de risco da IARC leva em conta todos os tipos de exposição (por exemplo, dietética, ocupacional). A classificação do Grupo 2B com base na força das evidências é a terceira mais alta dos quatro níveis e geralmente é usada quando há evidências limitadas e não convincentes de câncer em humanos ou evidências convincentes de câncer em animais experimentais, mas não em ambos.

"As descobertas de evidências limitadas de carcinogenicidade em humanos e animais, e evidências causais limitadas sobre como a carcinogenicidade pode ocorrer, ressaltam a necessidade de mais pesquisas para entender melhor se o consumo de aspartame constitui um risco carcinogênico", disse a Dra. Mary Schubauer-Berigan, do programa de Monografias da IARC.

As avaliações de risco realizadas pelo JECFA determinam a probabilidade de ocorrência de um tipo específico de dano, ou seja, câncer, sob determinadas condições e níveis de exposição. Não é incomum que o JECFA leve em consideração as classificações da IARC em suas deliberações.

"O JECFA também analisou as evidências sobre o risco de câncer em estudos com animais e humanos e concluiu que as evidências de uma ligação entre o consumo de aspartame e o câncer em humanos não são convincentes", disse o Dr. Moez Sanaa, chefe da Unidade de Normas Alimentares e Nutricionais e Assessoria Científica da OMS. "Precisamos de estudos melhores com acompanhamento mais longo e questionários de alimentação repetidos em coortes existentes. Precisamos de estudos controlados e randomizados, em especial estudos de vias causais relevantes para a regulação da insulina, síndrome metabólica e diabetes, particularmente em relação à carcinogenicidade".

As avaliações da IARC e do JECFA sobre o impacto do aspartame foram baseadas em dados científicos coletados de diversas fontes, incluindo artigos revisados por pares, relatórios governamentais e estudos realizados para fins regulatórios. Os estudos foram revisados por especialistas independentes, e ambos os comitês tomaram medidas para garantir a independência e a confiabilidade de suas avaliações.

A IARC e a OMS continuarão a monitorar novas evidências e a incentivar grupos de pesquisa independentes a desenvolver mais estudos sobre a possível associação entre a exposição ao aspartame e os efeitos à saúde do consumidor.