Beber contribui para mais de 300 mil mortes todos os anos. A OPAS pede aos países das Américas que limitem horário para venda de álcool, proíbem publicidade de bebidas alcoólicas e aumentem os impostos sobre esses produtos
Washington D.C., 12 de abril de 2021 (OPAS) – O consumo de álcool foi 100% responsável por cerca de 85 mil mortes anuais durante o período de 2013 a 2015 nas Américas, onde o consumo per capita é 25% superior à média global, revelou um estudo realizado pela Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) publicado nesta segunda-feira (12) na revista científica Addiction.
“Este estudo demonstra que o uso nocivo de álcool nas Américas é uma grande prioridade de saúde pública”, afirmou Anselm Hennis, diretor de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da OPAS. “Está associada a mortes evitáveis e a muitos anos de vida vividos com incapacidade. Precisamos de intervenções, políticas e programas eficazes, viáveis e sustentáveis para reduzir o consumo de álcool.”
O novo estudo com dados de mortalidade em 30 países das Américas - o maior do tipo realizado na região - revela como principais conclusões:
- Uma média de 85.032 mortes (1,4% do total) anualmente foram atribuídas exclusivamente ao álcool;
- A maioria das mortes (64,9%) ocorreu entre pessoas com menos de 60 anos;
- As causas de morte foram principalmente por doença hepática (63,9%) e distúrbios neuropsiquiátricos (27,4%), como dependência de álcool;
- O consumo de álcool é um fator que contribui para mais de 300 mil (5,5% do total) mortes anualmente nas Américas;
- Mais homens do que mulheres morreram pelo consumo nocivo do álcool. Eles foram responsáveis por 83,1% das mortes exclusivamente atribuíveis ao consumo de álcool. As maiores disparidades de gênero ocorreram em El Salvador e Belize; essa diferença foi menor nos Estados Unidos e no Canadá;
- Cerca de 80% das mortes em que o álcool foi um “fator importante” ocorreram em três dos países mais populosos: Estados Unidos (36,9%), Brasil (24,8%) e México (18,4%);
As taxas de mortalidade atribuível ao álcool foram mais altas na Nicarágua (23,2 por cada 100 mil pessoas) e na Guatemala (19 por cada 100 mil), embora esses países tenham um consumo de álcool per capita relativamente menor.
O estudo indica que os países de alta renda têm maior consumo de álcool per capita, enquanto os países de baixa e média renda têm uma taxa maior de classificação atribuível ao álcool para o mesmo nível de consumo. Como taxas de mortalidade mais altas são provavelmente devido ao acesso comparativamente mais precário a serviços, informações médicas de saúde e boa nutrição, bem como transporte limitado em situações de emergência e outros fatores que podem tornar o consumo de álcool mais nocivo.
A OPAS pede aos países das Américas que reduzam o consumo nocivo de álcool aumentando os impostos sobre bebidas alcoólicas e implementando restrições abrangentes à publicidade, promoção e patrocínio do álcool. Melhorar a qualidade dos dados sobre a mortalidade e morbidade do álcool é fundamental para monitorar o impacto do consumo.
As políticas promovidas pela OPAS são essenciais para prevenir mortes, doenças e problemas sociais relacionados ao álcool. Outra medida simples, mas poderosa, é limitar o horário de vendas do álcool e reduzir a concentração de pontos de venda de álcool em uma comunidade.”
Anselm Hennis, diretor de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da OPAS
Maristela Monteiro, consultora sênior da OPAS sobre álcool, ressaltou que “o estudo demonstra que a maior proporção de mortes totalmente atribuíveis ao consumo de álcool ocorre prematuramente entre pessoas de 50 a 59 anos, e principalmente entre homens. O uso prejudicial de álcool está matando pessoas no auge de suas vidas. Esta é uma perda não apenas para suas famílias, mas também para a economia e a sociedade em geral.”
Durante a pandemia de COVID-19, o álcool foi promovido por meio de canais de mídias sociais e sua disponibilidade aumentou em muitos países devido ao acesso mais fácil a compras online e entrega em domicílio. Há evidências de que as pessoas com maior probabilidade de aumentar o consumo de álcool já bebiam excessivamente antes da pandemia. Além disso, locais que vendem bebidas alcoólicas, como bares e boates, estão atraindo multidões que não usam máscaras nem praticam o distanciamento social.
À medida que começamos a planejar um retorno a um novo normal, as políticas de álcool devem ser protegidas e fortalecidas.”
Maristela Monteiro, consultora sênior sobre álcool da OPAS