Aracaju, 27 de agosto de 2021 – Uma das medidas adotadas pelo Brasil para proteger sua população da COVID-19 é a vacinação de pessoas em situação de rua tanto nos locais ocupados por elas quanto em abrigos e unidades de saúde. No município de Aracaju, no estado de Sergipe, a ação é feita desde junho por meio da iniciativa Consultórios na Rua.
Essa estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil foi criada em 2011 para atender com uma equipe multiprofissional às populações nessa situação de vulnerabilidade. A inclusão delas na campanha de imunização foi feita pelo Ministério da Saúde do país no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19, elaborado com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Em Aracaju, a equipe multiprofissional conta com assistentes sociais, médico, psicóloga e enfermeiras como Keila Cristina Costa, que presta cuidados a essa população desde 2017 e, neste ano, passou a integrar o Consultório na Rua. Ela afirma que a pandemia potencializou ainda mais os riscos para essa população que já era vulnerável, devido ao fato de terem menor acesso a medidas preventivas essenciais, como a higienização e o distanciamento físico.
“Havia a recomendação de ficar em casa, mas e quem não tem casa?”, questiona a enfermeira. Por isso, as equipes do Consultório na Rua buscam as pessoas onde elas estão e fornecem, além da vacina, álcool em gel, máscaras e outros produtos de saúde, bem como orientações específicas para a realidade delas. “Dialogamos com elas sobre a importância de tomar a vacina e questões relacionadas ao uso abusivo de substâncias psicoativas e de álcool”, detalha. A enfermeira conta que muitas pessoas desse grupo acreditam que, pelo fato de consumirem esses produtos, a vacinação possa ter efeito prejudicial no organismo delas.
Ela então esclarece que podem surgir reações adversas comuns após a vacinação, como dor no local da injeção e febre, mas que não há evidências de que o consumo de álcool e outras drogas possa reduzir o efeito da vacina contra COVID-19 ou causar complicações. Enquanto isso, profissionais redutores de danos, como Ednalva Monteiro, promovem ações de educação em saúde para diminuir os riscos do uso abusivo de substâncias e outros comportamentos nocivos à saúde. “Nosso trabalho tem como base o vínculo com as pessoas que abordamos”, explica a redutora de danos.
Essas atividades de imunização combinadas com orientações educativas têm efeito positivo sobre pessoas como o lavador de carros José Ferreira Nunes, em quem Keila Costa aplicou, no dia 12 de agosto, a dose única do imunizante da empresa Jansen. “A vacina (contra COVID-19) foi muito importante para mim e agora vou continuar higienizando as mãos, usando álcool em gel e máscara. Vou me cuidar mais ainda”, garante.
Joyce Barreto Andrade também tomou, em 14 de agosto, a dose única do mesmo imunizante em um abrigo para pessoas em situação de rua. “Estou me sentindo ótima, maravilhosa. Agora sei que estou protegida. Ainda há muita coisa pela frente, mas agora estou mais relaxada. Vou continuar me prevenindo. Quero que esta pandemia vá embora e bem rápido”, afirma.
Vacinar essas pessoas é garantir o direito delas enquanto cidadãs, garantir os direitos humanos dessa população, que ao longo da história sofreu um processo de exclusão”, ressalta a coordenadora do Consultório na Rua da Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju, Jayane Trindade. Ela explica que, no Brasil, foram instituídas a Política Nacional da População em Situação de Rua e diretrizes para garantir acesso e cuidados de saúde para esse grupo populacional. “Vacinar essas pessoas, entendendo que o território de existência delas é a rua, onde não se tem uma proteção e estão mais expostas, é proporcionar qualidade de vida e fazer com que o direito delas seja efetivado”, acrescenta.
A estimativa do governo brasileiro é de que mais de 140 mil indivíduos maiores de 18 anos vivam em situação de rua no país. Por isso, o Ministério da Saúde do Brasil tem incentivado, com apoio da OPAS, que seja feita busca ativa para imunizar toda as pessoas nessa condição.
Crédito das fotos: Ivve Rodrigues/OPAS/OMS