Participação comunitária e vacinação de pessoas acamadas no Distrito Federal
“No começo, eu não queria me vacinar. Por falta de informação, por medo mesmo”, revela David Mendes, morador da Cidade Estrutural, área de baixa renda no Distrito Federal, e dono de um serviço de carro de som que foi contratado por meio de um projeto da OPAS, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília e Secretaria de Saúde do Distrito Federal, para motivar a comunidade a se proteger por meio da vacinação.
O trabalho fez o próprio David mudar de opinião sobre os imunizantes. “Eu estava divulgando e convocando os vizinhos para se vacinar. E, de tanto ouvir as mensagens que eu mesmo reproduzia, eu me encorajei a fazer algo tão bom para a saúde como é se vacinar”, relata.
No projeto, chamado “Imuniza Estrutural”, foram capacitadas 926 lideranças comunitárias para realizar ações de educação, principalmente relacionadas à atualização das cadernetas de vacinação, como parte do esforço para ampliar as coberturas vacinais em todo o país.
Uma delas foi Keyla Costa Silva, educadora social e professora de capoeira, que emprestou sua voz ao carro de som. “Ver uma pessoa da comunidade como eu, chamando os vizinhos pelo nome, fez com que eles se sentissem importantes e confiantes para se vacinar”, destaca. “Houve um diálogo direto e corpo a corpo com as pessoas. Então, conseguimos mobilizar muita gente para a imunização, não só para a COVID-19, mas também para gripe e sarampo”, completa Keyla Costa Silva.
Além dela, foram contratados pontos focais, enfermeiros, trabalhadores e assistentes sociais. Todos eles residentes da Cidade Estrutural, como Mariza Batista Araújo, que prefere ser chamada de “vizinha” em vez de “líder ou assistente social” em sua comunidade. “Trabalho há mais de 25 anos em projetos sociais que trazem benefícios à nossa comunidade. Por isso, eu me identifico como uma vizinha que trabalha para o bairro”, explica.
Ela destaca que, no início do projeto, a mobilização e a comunicação foram desafiadoras. “As pessoas tinham muito medo de se vacinar e desconhecimento sobre assuntos científicos e de saúde. Tivemos que convencê-los a superar essa barreira”, afirma.
Uma das pessoas que entendeu os benefícios da vacinação após conversar com as lideranças – ou “vizinhos” – do projeto foi Elitânia Santos. “Eu ainda não tinha sido vacinada, até que minha tia, que mora ao lado, me disse que estavam vacinando. É importante fazer isso para prevenir doenças”, diz.
Entre as ações realizadas, esteve a vacinação no Centro Olímpico Estrutural – um grande espaço público próximo à comunidade – e uma feira de saúde com foco na prevenção da dengue, planejamento familiar e higiene das mãos, água e alimentos. Também foram organizados treinamentos, rodas de conversa e atividades de arte de rua, como grafite e competição de rap.
Outro projeto, realizado pela Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal e a OPAS, foi a vacinação contra COVID-19 de pessoas acamadas, como Esthefanny Ketelley, uma criança de 11 anos portadora de uma síndrome rara conhecida como Atrofia Muscular Espinhal (AME), dependente de ventilação mecânica e bomba de fusão para se alimentar.
As pessoas que residem na área de abrangência de cada Unidade Básica de Saúde – como são chamados no Brasil os estabelecimentos de atenção primária – são monitoradas pelos agentes comunitários de saúde. Qualquer indivíduo que não possa se deslocar recebe a visita dos vacinadores, que aproveitam para tirar dúvidas e dar o imunizante também a outras pessoas do domicílio, conforme o esquema vacinal.