Discurso de abertura do diretor da OPAS/OMS, Jarbas Barbosa, na Cerimônia de Homenagem ao Brasil pela Certificação da Eliminação da Filariose Linfática como Problema de Saúde Pública

Boa tarde. 

Em primeiro lugar, eu gostaria de saudar a nossa ministra, Nísia Trindade; a secretária de Vigilância em Saúde, Ethel Maciel; nossa representante da OPAS/OMS no Brasil, Dra. Socorro Gross; a secretária de Saúde do Distrito Federal, que representa todas as Secretarias Estaduais de Saúde neste ato; e o Conselho Nacional de Saúde, que nos lembra que é importante a participação das comunidades e das pessoas acometidas por essas enfermidades para que consigamos realmente implementar todas as medidas necessárias.

Quando me lembro da filariose, duas coisas que me vêm à mente. Primeiro, um bairro muito pobre do Recife, que se chama Mostardinha. Quando passávamos no Mostardinha, era muito comum ver pessoas, principalmente mulheres, sentadas na calçada com um inchaço enorme nas pernas - por isso a filariose é chamada de elefantíase, uma doença extremamente incapacitante. E pouco tempo depois, quando eu estava em Olinda como secretário, começamos a fazer a transição de um programa que até então era muito verticalizado. Estávamos em um momento de fortalecimento do SUS nas áreas de vigilância, prevenção e controle.

Me lembro da primeira vez que fomos aos morros com apoio dos agentes comunitários de saúde para começar o tratamento em massa nas áreas de alta prevalência, que foi uma estratégia fundamental para que conseguíssemos chegar até aqui junto com as ações de vigilância e as outras ações que têm que ser tomadas.

Eu gostaria de parabenizar o Ministério da Saúde e o Governo Brasileiro. Enviamos uma carta ao Presidente da República, com cópia para a Ministra da Saúde e para o Ministro das Relações Exteriores, porque eliminar uma doença é um esforço muito grande por conta da relação entre algumas doenças e a pobreza, uma relação de um círculo vicioso, porque são os mais pobres que mais adoecem e, quando adoecem, se tornam ainda mais pobres porque perdem produtividade, porque a família tem mais despesas para levar à unidade de saúde, à reabilitação e o que mais for necessário fazer.

É um momento muito importante para o Brasil. Eu estive aqui com o Diretor-Geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, quando houve o lançamento do Brasil Saudável, uma iniciativa extremamente inovadora do Brasil de reconhecer essa determinação social, de trazer não apenas o Ministério da Saúde, mas vários outros Ministérios para uma ação sobre os chamados determinantes sociais. Atuaremos melhor fazendo essa integração entre várias áreas e vários Ministérios, como é o objetivo do programa Brasil Saudável.

Para nós, da Organização Pan-Americana da Saúde, eliminar doenças é uma prioridade. Eu digo sempre que não é só saúde pública, estamos falando de um imperativo ético e moral. Se nós temos as ferramentas para eliminar uma doença, precisamos identificar onde estão as pessoas acometidas, quais são as barreiras existentes, desenvolver novas estratégias e fazer essa aliança que foi importante para a eliminação da filariose entre academia, Fiocruz e Secretarias de Saúde para remover as barreiras e fazer com que as pessoas possam se beneficiar das inovações que estão sendo desenvolvidas. Pode ser um novo medicamento, uma vacina, um novo teste de laboratório ou mesmo uma maneira diferente de organizar os serviços para que as pessoas possam ter mais acesso.

A nossa iniciativa de eliminação está avançando em vários países. Eu estive até este sábado na Colômbia, onde participamos de um ato com o Ministro da Saúde do país, com vários representantes dos departamentos que correspondem aos estados. A Colômbia também lançou um plano com 22 doenças fazendo parte do plano de eliminação - ou seja, é algo que vem se movimentando na região. Para nós, é uma prioridade apoiar os Ministérios da Saúde, oferecer a cooperação técnica para que possam exercer essa liderança que têm no caso de um sistema federado como o Brasil, com a forte participação também dos secretários estaduais e dos secretários municipais para que consigamos realmente eliminar essas doenças.

É um parabéns e também um desafio. Assim como foi possível eliminar a filariose linfática, é possível eliminar a oncocercose e o tracoma, avançar muito com a tuberculose e o HIV. Então acho que o Brasil tem todas as condições de continuar sendo esse líder regional, por ter armado um programa inovador como o Brasil Saudável. É uma participação e um compromisso muito forte do sistema de saúde e também de instituições acadêmicas e científicas, com um peso técnico, para desenvolver grandes soluções como temos no Brasil.

Parabenizo cada um de vocês. Que isso nos sirva de inspiração para que consigamos continuar contribuindo para a eliminação da pobreza e da desigualdade.

Muito obrigado.