Capítulo I. Resposta às emergências de saúde
A evolução da epidemia causada pelo vírus Zika recém-chegado às Américas
A Região das Américas experimentou uma epidemia explosiva de infecções causadas pelo vírus Zika, de meados de 2015 a meados de 2016. Entretanto, esse agente etiológico foi detectado pela primeira vez no Hemisfério Ocidental na Ilha de Páscoa, Chile, em fevereiro de 2014, coincidindo com uma série de surtos de Zika confirmados na Polinésia Francesa, na Nova Caledônia e em outras ilhas do Pacífico. O Chile informou prontamente a presença do vírus Zika à Repartição Sanitária Pan-Americana, de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional (RSI), deixando a Repartição em alerta para a possível introdução do vírus nas Américas continentais. Naquele momento, essa possibilidade não foi vista com grande alarme, pois os efeitos conhecidos do vírus eram considerados relativamente leves.
Um ano depois, em fevereiro de 2015, as autoridades sanitárias brasileiras responderam à solicitação por parte da Repartição de informações sobre a concentração de casos de sintomas como febre, dor muscular e nas articulações, erupção cutânea e cefaleia no Maranhão, um estado do nordeste do país. De 25 amostras examinadas pelo laboratório estadual do Maranhão, 14 deram positivo para a dengue e negativo para chikungunya, rubéola e sarampo. Porém, este laboratório não possuía capacidade de fazer exames para detecção do vírus Zika. No final de abril, as autoridades apresentaram um relatório preliminar do laboratório estadual da Bahia, o qual registrava que as amostras do
Maranhão e de outros estados do nordeste haviam obtido resultados positivos para Zika. Esses resultados foram posteriormente confirmados pelo laboratório de referência nacional em Belém, o Instituto Evandro Chagas. Em 7 de maio de 2015, a OPAS emitiu seu primeiro alerta epidemiológico para o vírus Zika. Nesse alerta, a OPAS descreveu a infecção e apresentou recomendações aos Estados Membros para a adaptação e o aumento da sensibilidade de seus sistemas de vigilância já existentes para dengue e chikungunya, a fim de detectar possíveis casos de infecção pelo vírus Zika. Também constaram do alerta detalhes sobre os testes laboratoriais, a gestão de casos e as medidas
de prevenção e controle, inclusive com recomendações para os viajantes.
Historicamente, a infecção causada pelo vírus Zika era conhecida por causar febre baixa e erupção cutânea. No entanto, durante o surto de 2014 na Polinésia Francesa, a
síndrome de Guillain-Barré (SGB) foi detectada em 42 pacientes, representando um aumento de quase 9 vezes das taxas anuais médias. Em julho de 2015, no estado da Bahia Brasil, foi detectada a ampla circulação do vírus Zika, bem como uma incidência crescente de anomalias neurológicas, inclusive a SGB.
Em agosto 2015, os obstetras e pediatras de outros três estados do nordeste brasileiro (Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte) notificaram um aumento percebido dos casos de microcefalia entre os recém-nascidos em suas práticas clínicas. Esses indícios casuais foram corroborados em outubro de 2015, quando foi confirmado um aumento de 70 vezes dos casos de microcefalia detectados em Pernambuco. Muitas mães de bebês com microcefalia relataram terem tido febre e erupção cutânea durante a gravidez.
Em resposta a esses resultados, em novembro de 2015, a Repartição mobilizou uma equipe de peritos para o Brasil sob os auspícios da Rede Mundial de Alerta e Resposta a Surtos (GOARN, sigla em inglês), a fim de ajudar as autoridades nacionais e estaduais a caracterizarem o evento. Essa missão chegou à conclusão de que o aumento da microcefalia não parecia ser um artefato ou o resultado de uma distorção provocada pela vigilância. Com base nos resultados clínicos e testes, a equipe chegou à conclusão de que a microcefalia parecia ser causada por uma entidade nova e diferente, cujo impacto poderia ser considerável tanto em curto como em longo prazo. Ao final de dezembro de
2015, 11 países e territórios nas Américas já estavam informando sobre a circulação local do vírus Zika, do Brasil, no sul, a Porto Rico, no norte.
Com a evidência crescente de uma conexão entre a infecção causada pelo Zika e essas complicações graves, em particular a microcefalia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocou uma reunião do Comitê de Emergência do RSI, em fevereiro de 2016, com a finalidade específica de considerar se a epidemia de Zika satisfazia os critérios para uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). Esse comitê chegou à conclusão de que a concentra??ão de casos de microcefalia associada ao Zika satisfazia os critérios do RSI para a declaração de uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Com isso, a Diretora da OMS, Dra. Margaret Chan, declarou formalmente a ESPII e convocou a coordenação e a colaboração urgentes para melhor entender o impacto completo do vírus Zika e as complicações associadas.
A gestão, coordenação e resposta referente a uma emergência de saúde em evolução
A Repartição coordenou e facilitou proativamente uma resposta regional ao Zika nos primeiros estágios da epidemia, meses antes da declaração da ESPII. A equipe Operações de Alerta e Resposta da OPAS (OAR), a qual administra a vigilância baseada em eventos de acordo com o mandato do RSI da OMS, foi providencial para detectar concentrações incomuns de erupção cutânea e febre no nordeste do Brasil. Após o Brasil ter confirmado a circulação do Zika em maio de 2015, a equipe OAR formulou e difundiu prontamente recomendações a todos os Estados Membros para que se preparassem para a possível chegada desse vírus. Nesse mesmo mês, a Diretora da OPAS ampliou a equipe OAR, tornando-a uma grande equipe de administração do evento Zika e incorporando mais especialistas em vigilância, gestão de casos clínicos, virologia, controle de vetores e comunicação de risco. Com base nos resultados do Brasil-GOARN, os quais indicavam
uma forte conexão entre o Zika e a microcefalia, a Diretora da OPAS ativou formalmente o sistema de gestão de incidentes para o Zika (IMS, sigla em inglês), em 8 de dezembro de 2015. O trabalho das equipes OAR e IMS de coletar, compilar, analisar, confirmar e comunicar os dados notificados pelos Estados Membros foi fundamental na prestação de apoio aos países durante o período de rápida propagação do vírus pela Região.
Depois da ativação do IMS, a Repartição acessou imediatamente os recursos do Fundo de Emergência para Epidemias da OPAS, possibilitando a rápida mobilização de recursos humanos e financeiros adicionais para coordenar a resposta regional para o Zika. As principais ações incluíram a compra de materiais e provisões, como a imunoglobulina para tratar os pacientes com SGB e os inseticidas pré-aprovados pelo programa de avaliação de pesticidas da OMS (WHOPES, sigla em inglês). A Repartição mobilizou 53 missões a 25 Estados Membros e territórios. Essas missões geralmente eram constituídas por peritos como neurologistas, neonatologistas, obstetras, epidemiologistas, virologistas e especialistas em controle de vetores e em pesquisa e organização de serviços de saúde. Além disso, a Repartição preparou numerosas iniciativas de capacitação e outras atividades no país, a fim de proporcionar treinamento para o pessoal
nacional em todos os aspectos críticos para uma resposta eficaz. Esses exercícios de capacitação cobriram disciplinas variando desde o diagnóstico laboratorial e administração clínica ao controle de vetores e comunicação de risco. Em coordenação com a OMS, os funcionários da Repartição redigiram ou atualizaram 13 documentos de orientação técnica, que prestaram assessoria aos Estados Membros a respeito dos diversos
componentes da resposta. Foi também organizada uma série de seminários regionais e sub-regionais, consultas com peritos e outros eventos semelhantes; entre eles, a primeira discussão mundial a respeito da agenda para a pesquisa sobre o vírus Zika, que reuniu representantes de organizações parceiras, inclusive os centros para controle e a prevenção de doenças dos Estados Unidos (CDC, sigla em inglês), a rede internacional do Instituto Pasteur e a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
Consulta internacional sobre Zika e ética
A grave ameaça representada pelo vírus Zika às mulheres grávidas e seus bebês ainda não nascidos, juntamente com o conhecimento científico limitado sobre o vírus, sua patogenia e os efeitos resultantes, levantou questões éticas difíceis para as autoridades sanitárias e os profissionais da saúde. Com vistas a oferecer uma orientação tão necessária nessa área, em abril de 2016, a Repartição convocou uma consulta internacional, que reuniu especialistas em ética e outros profissionais dos Ministérios da Saúde, da OPAS e da OMS que estavam envolvidos na resposta ao Zika.
As seguintes recomendações emanaram dessa consulta:
- Todas as mulheres devem ter acesso a informações e serviços integrais em matéria sexual e reprodutiva, inclusive planejamento familiar, saúde materna, testagem pré-natal, interrupção segura da gravidez, orientação e serviços de atenção pós-natal.
- O direito moral das mulheres de escolherem suas opções reprodutivas deve ser respeitado durante o surto do vírus Zika.
- As mulheres devem poder escolher livremente com base nas opções relevantes, inclusive a contracepção, a interrupção da gravidez e a manutenção de uma gravidez potencialmente afetada. Nenhuma opção deve ser associada à contingência de um diagnóstico específico ou à probabilidade de um resultado negativo da gravidez.
- As mulheres devem receber apoio social adequado a suas decisões reprodutivas e assistência para administrar as dificuldades relacionadas à infecção causada pelo vírus Zika e à síndrome congênita do Zika (SCZ).
- As autoridades sanitárias devem-se esforçar por minimizar a discriminação e a estigmatização, prestando continuamente informações ao público sobre a importância de se respeitarem as diferentes crenças, valores e escolhas.
- Devem ser proporcionadas às mulheres informações honestas, completas, corretas e atualizadas sobre o vírus Zika e a SCZ.
- O avanço da pesquisa sobre o Zika é um imperativo ético, e os pesquisadores têm uma responsabilidade ética de divulgar os dados e os resultados de pesquisa para permitir respostas imediatas a essa emergência de saúde.
O Wellcome Trust financiou essa consulta internacional.
Com o aumento das evidências de uma conexão entre a infecção causada pelo vírus Zika e os defeitos congênitos, em janeiro de 2016, a Repartição convocou peritos internos e externos em saúde materna e perinatal, genética, epidemiologia, vigilância e neurologia pediátrica para formular diretrizes tanto para o diagnóstico como para a vigilância da microcefalia (posteriormente considerada um elemento da definição mais ampla de síndrome congênita de Zika, ou SCZ), bem como para a atenção às mulheres grávidas expostas ao vírus Zika e aos recém-nascidos com microcefalia/SCZ. Foram enviadas missões técnicas com experiência no atendimento de mulheres grávidas à Bolívia, Colômbia, República Dominicana, El Salvador, Equador, Haiti, Honduras, Guatemala e Panamá. Os peritos da Repartição trabalharam em coordenação com os colegas da OMS para elaborar os critérios para um diagnóstico precoce da microcefalia/SCZ por meio do ultrassom.
A Repartição formulou diretrizes para o apoio psicossocial das mulheres grávidas em áreas de circulação do vírus Zika e organizou três seminários via Web para ajudar a difundir as informações. Foram elaboradas também outras diretrizes para as transfusões de sangue seguras e a produção segura de produtos derivados do sangue no contexto dessa epidemia.
Além de difundir amplamente orientações técnicas por escrito, a Repartição forneceu atualizações frequentes sobre a epidemia de Zika aos principais interessados diretos nos Estados Membros, assim como ao Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA), aos Membros e Estados Associados do Mercosul, aos Ministros da Saúde da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e aos membros do
Grupo das Nações Unidas para o Desenvolvimento-ALC (GNUD-ALC). Foram apresentadas orientações sobre o Zika e seu impacto nas mulheres e bebês à Comissão Interamericana de Mulheres, ao Grupo de Trabalho Regional para a Redução de Mortalidade Materna (GTR) e ao Fórum Econômico Internacional da América Latina e do Caribe (LACFORUM). A Diretora aproveitou as oportunidades proporcionadas por suas visitas aos Estados Membros para apresentar novas informações ao público nacional a respeito da situa??ão da evolução do Zika e da resposta multifacetada da Repartição, por meio de reuniões abertas à comunidade e de outros eventos na Colômbia, Cuba, Equador, Granada e São Vicente e Granadinas.
Aproveitando as iniciativas de cooperação técnica anteriores para o fortalecimento dos sistemas de saúde e a prontidão para o ebola, a Repartição elaborou um novo instrumento de avaliação para estimar a capacidade dos países de responder à epidemia de Zika e às complicações da doença. O instrumento foi aplicado em países como a Bolívia, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Haiti, Honduras, Paraguai e Suriname, e ajudou as autoridades sanitárias nacionais a identificar áreas que precisavam ser fortalecidas. Em outra iniciativa, a Repartição se aliou ao Banco Mundial (BM) e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para criar uma ferramenta combinada de avaliação e cálculo de custos a fim de identificar as lacunas nas capacidades de resposta dos sistemas nacionais de saúde e de calcular os custos das intervenções necessárias. Foram mobilizadas missões conjuntas com peritos das três instituições (OPAS, BM, BID) à Dominica e Honduras para a realização do teste-piloto desse novo instrumento. Desde então foi executado em El Salvador, Granada, Guiana, Haiti, Nicarágua e Panamá, além de dois estados do Brasil.
A Repartição também colaborou com a OMS e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, sigla em inglês) para elaborar um perfil de produto desejado para um exame diagnóstico de Zika que pudesse ser facilmente utilizado em serviços nacionais de saúde.
Para abordar a questão crítica do controle de vetores, a Diretora da OPAS constituiu um novo Grupo Técnico Assessor em Entomologia de Saúde Pública, que se reuniu pela primeira vez em março de 2016. Os participantes eram peritos da OMS, FIOCRUZ, CDC EUA, Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), Austrália Monash University, Fundação Bill e Melinda Gates e Escritório de Casa Branca dos Estados Unidos para Políticas Científicas e Tecnológicas. As recomendações da reunião incluíram a melhoria do controle de mosquitos e da vigilância e o aumento do treinamento nessas áreas; a elaboração de um novo protocolo para monitorar a resistência aos inseticidas; e a avaliação do impacto e da relação custo- efetividade dos atuais métodos de controle de vetores, assim como de ferramentas novas e suplementares, como as tecnologias de mosquitos geneticamente modificados e/ou estéreis. O grupo também enfatizou a necessidade de uma ação interdisciplinar mais forte, principalmente por meio de parcerias com as comunidades e com os respectivos setores produtivos a fim de elaborar, executar e manter as ações eficazes e economicamente viáveis para reduzir a população de mosquitos
Em meio ao aumento da preocupação da população a respeito dos riscos do surto de Zika no Brasil para os atletas e os torcedores que compareceriam aos próximos Jogos Olímpicos de verão no Rio de Janeiro, a Repartição submeteu à consideração do Comitê de Emergência do RSI informações e análise na reunião de junho de 2016. O relatório da Repartição, juntamente com as informações prestadas pelo Brasil, examinou recentes tendências epidemiológicas e demonstrou uma diminuição na incidência atual das infecções de Zika. Também observou que a transmissão do vírus da dengue, o qual é transmitido pelo mesmo vetor, o Aedes Aegypti, é historicamente baixa durante os meses de agosto e setembro, inverno no Brasil. O Comitê de Emergência do RSI chegou à conclusão de que o risco de maior propagação internacional do Zika devido aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos era muito baixo, e que a recomendação anterior do Comitê no sentido de não haver nenhuma restrição geral à viagem e ao comércio permanecia válida.
Prontidão da saúde pública para os Jogos Olímpicos de Verão 2016
O relatório apresentado pela Repartição ao Comitê de Emergência do RSI incorporou informações reunidas em uma série de missões ao Brasil, em que a equipe do IMS da Repartição para o Zika orientou as autoridades sanitárias nacionais a respeito dos preparativos para os Jogos Olímpicos, cobrindo áreas como a gestão da informação, o acionamento de alerta e resposta, o comando e controle nos níveis essenciais do governo (municipal, estadual e federal) e a transparência e compartilhamento de informações de saúde com outros Estados Membros da OPAS e interessados diretos.
Trabalhando de comum acordo com o Comitê Olímpico Internacional, e em parceria com as autoridades brasileiras, a Repartição e a OMS prestaram apoio à redução do risco de infecção pelo Zika entre os atletas olímpicos e os visitantes, assim como à redução dos riscos de doenças transmitidas pela água entre os atletas competindo nos esportes aquáticos das olimpíadas.
Com vistas a prevenir as infecções pelo Zika, a Repartição e a OMS recomendaram várias ações. Uma foi a fumigação e a vaporização dentro dos prédios para reduzir a população de mosquito adulto. Outra consistiu na eliminação dos possíveis criadouros nos arredores dos locais de realização das provas olímpicas e nos alojamentos para atletas e hotéis. Uma terceira ação foi a obtenção da participação das comunidades para eliminar os possíveis criadouros nas residências vizinhas, nas escolas e nos locais de trabalho. A Repartição e a OMS também recomendaram a distribuição de repelentes de insetos e materiais de promoção da saúde para os visitantes e atletas. A Repartição e a OMS sugeriram ainda o contato sistemático das autoridades sanitárias brasileiras com as delegações olímpicas antes dos jogos e durante os jogos, a fim de informá-las sobre as medidas que estavam sendo adotadas e quaisquer mudanças na situação epidemiológica.
A fim de prevenir as doenças transmitidas pela água, os funcionários da Repartição e da OMS trabalharam com as autoridades brasileiras para elaborar uma metodologia de monitoramento da qualidade das águas usadas para recreação por meio da análise bacteriológica e propuseram ações para reduzir a contaminação. A Repartição organizou uma oficina no Brasil, em novembro de
2015, e apresentou outras recomendações para o fortalecimento da comunicação social, da informação pública e da promoção da saúde. Em março de 2016, uma missão da Repartição visitou os locais de teste da água e examinou os critérios de qualidade que estavam sendo usados para monitorar esses locais. Desde meados de junho de 2016, a Repartição vem continuando o apoio aos esforços do Brasil nessa área.
Para apoiar o Brasil e exercer a coordenação regional de resposta ao Zika, a Repartição contou em grande medida com as parcerias e as redes já existentes, como a Rede de Laboratórios de Dengue das Américas (RELDA), cujos laboratórios participantes incluem o Instituto Nacional de Doenças Virais Humanas (INEVH, sigla em espanhol) na Argentina; o Instituto Evandro Chagas e a FIOCRUZ no Brasil; o Instituto Pedro Kouri em Cuba; o Instituto Pasteur na Guiana Francesa; o Instituto Nacional do México de Diagnóstico Epidemiológico e Referência; o Instituto Gorgas Memorial para Estudos da Saúde no Panamá; e o CDC EUA em Porto Rico. Esses laboratórios concordaram em ampliar o alcance da rede a fim de proporcionar vigilância laboratorial integrada de todos os arbovírus.
Outro apoio crucial à resposta ao Zika da Repartição veio do fundo da OMS de contingência para emergências (FCE), da Agência de Saúde Pública do Canadá, da Agência de Assuntos Mundiais do Canadá, da USAID, da Fundação Bill e Melinda Gates e da Noruega (por meio do FCE de OMS).
As lições aprendidas com a resposta emergencial à epidemia de Zika
Muitos aspectos dessa epidemia de Zika reforçaram algumas das prioridades e dos enfoques da cooperação técnica da Repartição em andamento, mas outros aspectos demonstraram a necessidade de se mudar a ênfase em outras áreas. Esse é sem dúvida o caso do controle e da gestão de vetores. A atual epidemia de Zika, os grandes surtos recorrentes de dengue nas três últimas décadas e o surgimento recente, bem como a rápida propagação, do vírus chikungunya sublinharam a magnitude da infestação de Aedes aegypti na Região e também expuseram o fracasso dos países no controle desse vetor de grande relevância para a saúde pública. Embora as lições aprendidas específicas referentes ao controle de vetores não sejam novas, a epidemia de Zika aumentou o incentivo para sua aplicação urgente. Uma lição central é que as populações de mosquito e a exposição humana estão associadas a muitos determinantes sociais e ambientais da saúde. Portanto, os programas de controle de vetores devem ser abrangentes, integrados, interdisciplinares e participativos. Outra lição crucial é que os recursos dedicados aos esforços de controle de vetores devem ser mantidos nos níveis apropriados mesmo quando tais esforços perdem alta visibilidade e atenção devido a seu próprio sucesso. Ao mesmo tempo, a inovação é essencial para desenvolver maneiras novas e mais eficazes de controlar as populações de mosquito.
Uma lição correlata aprendida é a necessidade de integração da vigilância, da prevenção e do controle das doenças arbovirais importantes para a saúde pública. Isso é especialmente válido para a dengue, o chikungunya, a febre amarela e o Zika, que são todas doenças transmitidas pelo mesmo mosquito. Esses esforços integrados devem incluir vigilância entomológica das espécies de mosquito, monitoramento da resistência aos inseticidas dos vetores e vigilância laboratorial dos vírus presentes nos vetores.
A experiência com o Zika na Região também demonstrou que é extremamente importante que os provedores de serviços de saúde da linha de frente mantenham um alto
índice de suspeita e estejam alertas para quadros e casos clínicos atípicos, a fim de assegurar a detecção oportuna de uma doença emergente. No âmbito regional, o mesmo discernimento e alerta são exigidos ao examinar os dados gerados pela vigilância baseada em eventos e ao responder de maneira apropriada, mesmo na falta de fortes evidências confirmatórias. O princípio norteador da Repartição na resposta ao Zika foi a atuação com cuidado, mas com urgência proporcional, baseada nas melhores evidências disponíveis. Nesse contexto, as atividades de comunicação do risco bem adaptadas são essenciais para transmitir as incertezas de maneira honesta e transparente a fim de merecer e preservar a confiança do público.
O trabalho anterior realizado pela Repartição e pelos Estados Membros da OPAS para fortalecer a capacidade de alerta e de resposta ante as epidemias e o papel dos pontos focais nacionais do RSI nos países contribuiu positivamente para a resposta regional ao Zika. Esses esforços foram originalmente envidados para incentivar o cumprimento nacional e regional do RSI e foram acelerados durante os preparativos de 2014 para a possível introdução do vírus ebola. Esses exercícios haviam proporcionado a muitos países a oportunidade de identificar e abordar lacunas em sua preparação para a epidemia. Além disso, os procedimentos e os canais estabelecidos como parte do RSI demonstraram ser eficazes, e até mesmo essenciais, no intercâmbio e no processamento das informações sobre o surto a fim de orientar as respostas nacionais, regionais e mundiais à propagação do Zika.
No âmbito da Repartição, a resposta à epidemia de Zika incitou uma intensa colaboração interprogramática e produziu novas sinergias entre os programas técnicos, inclusive entre aqueles que abordam a vigilância e o controle das doenças transmissíveis, a prontidão e a resposta em caso de desastre, os sistemas e serviços de saúde, e a saúde infantil e das mulheres, entre outros.
Como ocorreu com o chikungunya anteriormente, o Zika destacou as debilidades e as lacunas na capacidade dos programas nacionais de controle de vetores e dos sistemas de saúde de se adaptarem às novas ameaças. Nesse contexto, a epidemia reforçou a ênfase abrangente da Repartição ao aumento de sistemas de saúde fortes e resilientes e avanço de acesso e a cobertura universal. Também destacou outras prioridades de cooperação técnica como conseguir cumprimento total do RSI e a vigilância integradora, prevenção e controle de doenças arbovirais de importância de saúde pública.
No momento, ainda há muito que aprender sobre o Zika. Entretanto, a resposta regional preventiva guiada por uma liderança de saúde pública visionária e a coordenação durante o período de análise levaram a uma compreensão muito melhor do espectro da doença causada por esse vírus. Em 30 de junho de 2016, transtornos neurológicos associados ao Zika, inclusive a SGB, haviam sido notificados em 15 países e territórios nas Américas. A microcefalia relacionada às infecções de Zika contraídas localmente foi notificada em sete locais: Brasil, Colômbia, El Salvador, Guiana Francesa, Martinica, Panamá e Porto Rico. Além da forte associação de tempo e espaço identificada por meio da análise de dados de vigilância, havia outras evidências de uma conexão entre o Zika e essas complicações, a saber: a) a identificação do vírus Zika no tecido cerebral dos fetos e recém-nascidos afetados; b) a documentação da infectividade do vírus Zika nas células- tronco neurais; c) a identificação de receptores celulares específicos que são favorecidos pelo vírus; e d) a detecção da infecção pelo Zika durante fases específicas do desenvolvimento pré-natal que eram compatíveis com os defeitos fetais observados. A importante descoberta de que o vírus também pode ser transmitido sexualmente provocou uma grande preocupação, pois essa via de transmissão tem o potencial de amplificar enormemente a propagação desse vírus mesmo na ausência de mosquitos vetores aptos.
Há aproximadamente 500 milhões de pessoas vivendo em áreas de risco de transmissão por vetores do vírus Zika na América Latina e no Caribe. O impacto desse vírus já demonstrou ser considerável. O vírus provavelmente representará uma carga pesada para os serviços de saúde (inclusive os serviços de saúde mental), principalmente devido ao tratamento das complicações graves, e para a sociedade, especialmente para as mulheres. O Zika permanecerá na agenda regional de saúde pública em 2016-2017 e além, e a OPAS continuará respondendo de maneira apropriada e eficaz.
A resposta a desastres e riscos para a saúde
O terremoto do Equador
Além do trabalho relacionado ao Zika, a Repartição prestou apoio fundamental aos Estados Membros em várias outras emergências importantes de saúde durante o período em avaliação. A mais grave delas resultou de um terremoto de 7.8 de magnitude, que atingiu o Equador em 16 de abril de 2016, afetando mais de 720.000 pessoas. O desastre causou a perda de 663 vidas e forçou mais de 33.000 pessoas a buscar refúgio em abrigos. Trinta e nove centros de saúde e hospitais foram danificados, e 20 não puderam a continuar a funcionar.
Em sua resposta, a Repartição ativou seu esquema institucional de resposta a emergências e centros de operações de emergência (COE) tanto na Sede como no nível da representação nos países. Este último mobilizou pessoal e recursos de imediato para apoiar as autoridades sanitárias do Equador. Logo em seguida, o pessoal técnico da Sede e de outras representações nos países foi mobilizado para apoiar a coordenação da resposta humanitária (inclusive equipes médicas de emergência), a avaliação de danos e necessidades (particularmente para a infraestrutura de saúde), a gestão da informação e comunicação e a gestão logística de suprimentos. Os funcionários da Repartição também trabalharam estreitamente com as autoridades nacionais na vigilância epidemiológica, restauração dos serviços de saúde, imunização e saúde mental.
Com o apoio da Repartição, as autoridades sanitárias estabeleceram duas áreas de concentração, em Quito e em Manta, a fim de registrar e coordenar o movimento de entrada e saída dos medicamentos e provisões médicas nos depósitos, usando o Sistema de Apoio Logístico/Sistema de Gerenciamento de Suprimentos Humanitários da Repartição (LSS/SUMA, siglas em inglês).
Pela primeira vez na Região, o Ministério da Saúde Pública do Equador utilizou os padrões e os mecanismos de coordenação mínimos que haviam sido promovidos pela OPAS/OMS para a mobilização de equipes médicas de emergência (EMTs, sigla em inglês) nacionais e internacionais (ver quadro abaixo). Foi criada uma unidade de informação e coordenação médica das equipes de emergência (CICOM, sigla em espanhol) no centro de emergência ECU 911 em Quito, sob a responsabilidade do Departamento de Cooperação Internacional do Ministério da Saúde Pública. A CICOM facilitou o registro das EMTs e sua mobilização às áreas afetadas pelo desastre, ajudou na priorização do trabalho dos socorristas e melhorou a qualidade das informações referentes à cobertura sanitária. Os EMTs mobilizados eram compostos por mais de 20 equipes nacionais e cinco equipes internacionais, refletindo o sucesso dos esforços técnicos e do apoio em curso da Repartição voltados para a melhoria da capacidade nacional de responder a emergências.
Em coordenação com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, sigla em inglês), os funcionários de Repartição lideraram a formulação do componente de saúde do apelo urgente para a arrecadação de fundos para a assistência humanitária. Lançado em 22 de abril de 2016, o apelo incluía um pedido de US$ 4,5 milhões do setor da saúde para atender às necessidades de saúde de 110.000 pessoas durante três meses. A meta era aumentar o acesso aos serviços de saúde essenciais, inclusive atendimento de emergência, atenção à saúde materno-infantil e serviços nutricionais, e reduzir os riscos de saúde por meio da vigilância, do acesso aos serviços de saúde reprodutiva e dos serviços para vítimas de violência de gênero. Os funcionários da Repartição também apoiaram o desenvolvimento e o lançamento de um apelo urgente em nome do setor de água, saneamento e higiene do Equador. No final de maio de 2016, a Repartição havia recebido fundos ou compromissos no valor de mais de US$ 1,5 milhão (do Canadá, da Itália, dos Estados Unidos e do fundo central de resposta a emergências das Nações Unidas – CERF, sigla em inglês) a fim de apoiar a cooperação técnica da Repartição nessa área.
Apoio às equipes médicas de emergência (EMTs)
A Repartição tem apoiado a rápida mobilização das equipes médicas de emergência (EMTs) capacitadas aos Estados Membros afetados por desastres ou surtos de surgimento súbito, de acordo com os princípios e procedimentos constantes do Plano de Ação da OPAS para a Coordenação da Assistência Humanitária de 2014 (CD53/12 [2014]). Estes incluem padrões e critérios mínimos acordados mundialmente para suprir e equipar as EMTs; procedimentos para solicitar, aceitar e receber as EMTs; passos para coordenar a integração das EMTs com o centro de operações de emergência da saúde (COE); e orientação para agilizar os procedimentos de imigração, alfandegários e logísticos a fim de facilitar a mobilização das EMTs. O Plano de Ação da OPAS também inclui orientação sobre a formação das EMTs nacionalmente e a criação de mecanismos de registro tanto para as equipes nacionais como internacionais.
Em 2015-2016, a Repartição concentrou importantes esforços na capacitação dos países para a coordenação das EMTs. Foram realizadas oficinas nacionais no Chile, na Colômbia, na Costa Rica, no Equador, na Guatemala e no Peru. Elas proporcionaram treinamento para 183 participantes sobre os procedimentos e as ferramentas para solicitar, receber e mobilizar as EMTs e sobre o aprimoramento da coordenação das EMTs por meio dos COEs de saúde e do estabelecimento das unidades de informação para as EMTs (CICOM).
Em dezembro de 2015, a Repartição se aliou à secretaria de equipes médicas de emergência da OMS para sediar uma reunião mundial das EMTs. Compareceram 150 representantes dos governos (de mais de 30 Estados Membros da OMS), da sociedade civil, do setor privado e das organizações internacionais. Entre as questões discutidas estavam o fortalecimento da colaboração e da capacidade mundial, o esquema de garantia de qualidade das EMTs, os mecanismos nacionais de registro e coordenação das equipes e os padrões mínimos para as equipes nacionais e internacionais.
Relatório de reunião está disponível em inglês em: http://www.paho.org/disasters/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=2409&Itemid=&lang=en .
O Furacão Joaquin nas Bahamas
No início de outubro de 2015, as Bahamas foram golpeadas pelo Furacão Joaquin, uma tempestade de categoria 4 que teve um impacto enorme em seis ilhas, com mais de
14.000 habitantes. Ventos fortes, maré alta, inundação e detritos resultantes da forte chuva restringiram o acesso por ar, terra e mar, e ao mesmo tempo as linhas de transmissão de energia elétrica e os geradores danificados interromperam o fornecimento de eletricidade, abalando a cadeia de frio em vários centros de saúde.
Sendo a única agência das Nações Unidas residente nas Bahamas, a Representação da OPAS estava posicionada de maneira singular para ajudar o Governo desde o início do desastre. Nos dias após o Furacão Joaquin, a Repartição mobilizou peritos em gestão de desastre de sua Equipe Regional de Respostas a Desastres para ajudar o Ministério da Saúde e o Ministério do Meio Ambiente com uma avaliação do impacto do furacão e com a definição das intervenções prioritárias, ao mesmo apoiando a gestão de suprimentos e os esforços de coordenação.
Além disso, a Repartição doou provisões essenciais avaliadas em mais de US$ 100.000 para facilitar a comunicação em campo, assegurar a prestação contínua de assistência de saúde e apoiar as intervenções de resposta em matéria de água e saneamento e controle de vetores. Essas provisões incluíam geradores, bombas de diesel manuais e barris de armazenamento de diesel para retomar o funcionamento de vários postos de saúde afetados. Foram comprados ainda medicamentos essenciais e vacinas para substituir as reservas danificadas e perdidas, bem como unidades de refrigeração para restaurar a cadeia de frio. Outras contribuições da Repartição incluíram telefones Iridium para a comunicação por satélite a fim de apoiar a comunicação entre os serviços de saúde e os aplicadores de inseticida, permitindo que o Departamento de Serviços de Saúde Ambiental intensificasse suas intervenções de controle de vetores.
A resposta conjunta da Repartição e das autoridades bahamenses desempenhou uma função crucial ao melhorar a qualidade de vida e de saúde da população afetada pelo Furacão Joaquin.
Postos de saúde inteligentes no Caribe
Aproveitando a Iniciativa Hospitais Seguros da OPAS, os interessados diretos nacionais do Caribe estão reunidos em torno de um novo esforço para tornar os hospitais “inteligentes”. Essa abordagem, conduzida pela Repartição, representa uma transição, afastando-se do modelo tradicional de resposta a desastres ao incorporar proativamente medidas de adaptação, mitigação e prontidão referentes ao clima para reduzir o impacto dos desastres na saúde. Essa abordagem procura também reduzir a pegada ecológica do setor da saúde, um dos maiores consumidores de energia. Os centros de saúde são “inteligentes” quando vinculam sua segurança estrutural e operacional às intervenções ecológicas, com uma relação custo-benefício sensata.
Em maio de 2015, a Repartição obteve o compromisso dos Governos da Dominica, de Grenada, de Santa Lúcia e de São Vicente e Granadinas, bem como o financiamento de £ 8,3 milhões (cerca de US$ 11 milhões) do Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido (DPDI, sigla em inglês), a fim de tornar vários centros de saúde em cada país “inteligentes”. Reconhecendo o valor de uma plataforma que vincula a redução de riscos de desastres à mudança do clima, o Primeiro-Ministro do Reino Unido anunciou, em setembro de
2015, um financiamento adicional de £ 30 milhões (cerca de US$ 40 milhões) para estender o projeto a Belize, Guiana e Jamaica e aumentar o apoio aos países participantes do projeto original. A meta do projeto é tornar 50 centros de saúde nesses países mais seguros e ecológicos até 2020. Além disso, o projeto avaliará um total de 600 estabelecimentos para documentar, em um banco de dados on-line, suas necessidades de melhorias futuras. Até junho de 2015, todos os 173 estabelecimentos nos quatro países iniciais tinham sido avaliados, e 14 haviam sido identificados como estabelecimentos prioritários para a modernização. Além disso, 62 profissionais nacionais haviam recebido treinamento sobre a aplicação do SMART Toolkit e a gestão de atividades de modernização.
A maior parte do financiamento do projeto será destinada às reformas para garantir que os serviços de saúde sejam mais capazes de resistir às catástrofes naturais e à variabilidade do clima. Esse trabalho inclui o fortalecimento dos telhados e das estruturas; a instalação de contraventos antifuracão e dispositivos de conservação de água e energia; e melhorias para a drenagem em tempestades e o acesso e segurança em incêndios. A Repartição está prestando apoio técnico para assegurar-se de que existam planos e equipamentos apropriados para a resposta a desastres para cada estabelecimento e de que os procedimentos de manutenção e conservação estejam estabelecidos e sejam utilizados.
A Repartição também apoiou o lançamento de uma estratégia de relações públicas e de um levantamento de conhecimento, atitudes e práticas (CAP). Essas iniciativas resultaram no aumento do conhecimento sobre o projeto em outros organismos e instituições de financiamento multilaterais, bem como maior interesse destes de aplicar o conceito a novos serviços de saúde, escolas e hotéis.
A tempestade tropical Erika na Dominica
A tempestade tropical Erika, a quinta a receber um nome na temporada de furacões no Atlântico em 2015, inundou a Dominica no final de agosto com 13 polegadas de chuva em um período de 12 horas, resultando em um grave alagamento generalizado e danos extensos às casas, centros de saúde e outros elementos da infraestrutura essencial, inclusive estradas, pontes e sistemas de abastecimento de água e de comunicação. A Repartição mobilizou rapidamente sua Equipe Regional de Respostas a Desastres para ajudar as autoridades dominicanas na coordenação de emergência, avaliação de danos, vigilância de doenças e prevenção e controle de vetores. Nas semanas seguintes, a Repartição coordenou o pessoal médico que havia chegado dos países vizinhos para
ajudar a restaurar os serviços de saúde nas zonas afetadas. A Repartição prestou apoio financeiro, logístico e de coordenação a esses esforços e canalizou cerca de US$ 800.000 em contribuições voluntárias do DPDI do Reino Unido, da Ajuda Humanitária e Proteção Civil da União Europeia (ECHO) e dos Assuntos Mundiais do Canadá (GAC, anteriormente DFATD, siglas em inglês) para apoiar a prestação de assistência de saúde, fornecer acesso a água potável e saneamento e reduzir riscos de saúde ambiental. Os fundos permitiram à Repartição obter medicamentos e materiais essenciais para a saúde, equipamento crítico de controle de vetores e suprimentos, kits de teste e comprimidos de purificação da água, bem como sistemas de coleta das águas pluviais, que foram instalados em 39 centros de saúde.
A inundação induzida pelo El Niño no Paraguai
A oscilação sul do El Niño (OSEN) trouxe chuvas torrenciais e grave inundação a vários países sul-americanos durante esse período de análise. O Paraguai foi um dos países mais seriamente afetados, com 11 de seus 17 departamentos sofrendo inundações graves, cerca de 132.000 pessoas deslocadas e grandes perdas de colheitas e de reservas alimentares. O Departamento Nacional de Emergências do Paraguai facilitou a evacuação de mais de 60.000 pessoas das zonas afetadas e ativou uma grande rede de abrigos para receber as populações deslocadas.
A Repartição ajudou autoridades nacionais e locais com avaliações rápidas de necessidades (incluindo de centros de saúde danificados), gestão da informação, planejamento de resposta de emergência e coordenação geral da resposta do setor da saúde. A Repartição também obteve equipamentos de comunicação para as salas de comando de emergência do Ministério da Saúde e a Secretaria Nacional de Emergência e ofereceu tendas para as consultas de médicas em campo. Para reduzir o risco da contaminação da água e das doenças transmitidas pela água, a Repartição ajudou na construção de dois tanques de saneamento Imhoff e na reabilitação de 60 módulos sanitários portáteis que asseguraram saneamento e higiene adequados nos abrigos.
Com o retorno da estação chuvosa em maio de 2016, a Repartição continuou a monitorar a situação de emergência no Paraguai, a qual continuava crítica desde junho de
2016, com os níveis dos rios acima do normal, não permitindo que os deslocados voltassem para casa com segurança.
A crise nutricional na Guatemala
O El Niño também afetou a Guatemala, mas seu impacto se exacerbou por um episódio de seca prolongada que começou no final de 2013 e durou até março de 2016. Essa combinação de fenômenos meteorológicos produziu grandes perdas de cultivo, provocando a subsequente crise alimentar e o aumento das taxas de desnutrição aguda nos grupos mais vulneráveis: crianças menores de 5 anos e mulheres grávidas. Desde o início de 2016, cerca de 248.000 famílias necessitavam ajuda humanitária.
A Repartição canalizou mais de US$ 1,1 milhão do CERF e da ECHO a fim de implementar intervenções para salvar vidas e ações preventivas para atender às necessidades de saúde e nutrição de crianças menores de 5 anos de idade e mulheres grávidas e em idade reprodutiva que sofriam de desnutrição aguda ou estavam correndo esse risco. A Repartição também apoiou a coordenação e os esforços de prontidão de Ministério da Saúde e de outros parceiros.
O apoio específico da Repartição incluiu o treinamento dos profissionais de saúde para a detecção e a utilização de protocolos de tratamento da desnutrição moderada e aguda grave, infecções respiratórias agudas e doenças transmitidas por alimentos; criação de equipes de saúde móvel; compra de provisões de saúde essenciais; monitoramento e apresentação de dados de saúde; realização de campanhas de vacinação; e implementação de medidas protetoras para as mulheres que estão grávidas ou amamentando.
A mitigação das crises de migrantes
A Repartição prestou apoio crítico a vários Estados Membros que experimentaram fluxos migrantes inesperados durante o período deste relatório. Estas atividades de acolhida foram estendidas aos migrantes venezuelanos na Colômbia, aos migrantes cubanos na América Central e os residentes da República Dominicana de descendência haitiana que foram repatriados ao Haiti.
Em 2015 e 2016, a Colômbia recebeu um enorme influxo de imigrantes venezuelanos e de expatriados colombianos que viviam na Venezuela e retornaram ao país. De outubro de 2015 a maio de 2016, cerca de 171.000 migrantes cruzaram a fronteira, e desde junho de 2016 aproximadamente 2.000 migrantes foram registrados a cada semana no departamento Norte de Santander, ao longo da fronteira venezuelana. Essa situação teve um grande impacto nas comunidades fronteiriças da Colômbia, pois houve uma demanda excessiva dos serviços públicos, que já eram limitados, em uma área relativamente isolada do resto do país.
Liderando o grupo de ação sanitária na Colômbia, a Repartição facilitou o mapeamento de atores e intervenções humanitárias realizadas nas zonas de fronteira e apoiou a elaboração de um plano de resposta, com a coordenação do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e do OCHA.
A Repartição também ajudou as autoridades sanitárias nacionais a identificar e monitorar os riscos e as necessidades referentes à saúde. Uma preocupação especial era a necessidade de serviços de saúde básicos e saneamento nos abrigos. Outra questão foi a possível mudança do perfil de saúde da população devido ao baixo índice de vacinação dos migrantes venezuelanos. Os funcionários da Repartição trabalharam em colaboração com as autoridades sanitárias para aumentar a cobertura de vacinação e ampliar os recursos para a assistência de saúde, fortalecendo também os esforços de prevenção e controle do Zika, da malária e de outras doenças infecciosas em circulação naquela região.
No final de 2015, milhares de cidadãos cubanos saíram de seu país de origem e atravessaram o Equador (que tinha dispensado temporariamente a exigência de visto), pretendendo aparentemente seguir para o norte em direção aos Estados Unidos. Muitos acabaram na Costa Rica, porém, após a Nicarágua ter fechado a fronteira. Quando a Costa Rica passou a emitir um número mais limitado de vistos de trânsito, os migrantes cubanos mais recentes começaram a se congregar no norte do Panamá. Em meados de dezembro, mais de 4.200 migrantes estavam alojados em 31 abrigos nos distritos fronteiriços do norte da Costa Rica. Outros 2.200 esperavam vistos para cruzar da Costa Rica à Nicarágua ou do Panamá à Costa Rica.
A pedido do Governo costarriquense, a Repartição mobilizou apoio à coordenação e aos esforços de resposta do Ministério da Saúde e da Comissão Nacional de Emergência. Em colaboração com outros organismos das Nações Unidas e agentes humanitários internacionais, a Repartição ajudou a ativar um centro de coordenação para as operações de saúde e enviou pessoal tanto da Representação no País em São José como da Equipe Regional de Respostas a Desastres para equipar e administrar os abrigos, avaliar as necessidades, estimar os riscos para a saúde e apoiar os esforços do Ministério da Saúde a fim de prestar apoio psicossocial aos migrantes.
A ilha de Hispaniola evitou por pouco uma possível crise sanitária quando cerca de 100.000 haitianos que viviam na República Dominicana foram deportados ou devolvidos voluntariamente ao Haiti em conformidade com uma decisão judicial que rescindiu retroativamente a cidadania de nascença dos dominicanos de descendência haitiana.
O começo da repatriação em massa, em junho de 2015, coincidiu com o início da temporada de furacões, assim como as eleições legislativas, municipais e presidenciais no Haiti. Esses fatores, combinados com a capacidade operacional e financeira reduzida da equipe humanitária no Haiti, provocaram o temor de uma possível crise humanitária. Uma grande preocupação referente à saúde era o aumento do risco dos surtos de cólera entre os migrantes deportados nas zonas de fronteira.
Respondendo à situação, a Repartição, com o apoio financeiro do Canadá, associou-se com o Ministério de Saúde Pública e População do Haiti (MSPP) para estabelecer um posto de saúde preventivo na comuna de Ouanaminthe, no Departamento Nordeste, e ajudou a fortalecer os centros de saúde fronteiriços existentes para garantir a disponibilidade da assistência de saúde aos repatriados. A Repartição e o MSPP melhoraram a vigilância epidemiológica, principalmente em departamentos fronteiriços, fortalecendo a capacidade clínica de tratar e administrar os casos de diarreia. A Repartição também prestou apoio comprando kits de saúde de emergência para cobrir as necessidades básicas de saúde de 10.000 pacientes durante três meses, bem como kits suplementares de profilaxia após a exposição e de tratamento para a malária.
Graças e essas e outras ações empreendidas pelo MSPP, a Repartição, outros parceiros humanitários incluindo o OCHA, a Organização Internacional para as Migrações (OIM), e as organizações não governamentais locais e internacionais, não houve nenhum surto de cólera diretamente vinculado à chegada dos haitianos deportados
às comunas fronteiriças. As taxas de incidência de diarreia e de infecções respiratórias agudas também permaneceram estáveis nessas áreas. Até junho de 2016, outros repatriados continuaram cruzando a fronteira do Haiti.
O incêndio tóxico no Paraguai
Em 14 de outubro de 2015, teve início um incêndio em um depósito de armazenamento que continha transformadores elétricos antigos repletos de bifenil policlorado (PCB, sigla em inglês), em San Lorenzo, Paraguai. Cerca de 4.000 pessoas residindo nos arredores imediatos foram expostas aos vapores, que eram visíveis a 5 quilômetros de distância. Os vapores da combustão incompleta do PCB são uma grande fonte de dioxina e furano, ambos classificados como carcinógenos do grupo 1 pelo Centro Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC, sigla em inglês). O incidente no Paraguai foi considerado um evento importante, um dos maiores envolvendo o risco de exposição às dioxinas na história recente.
Em resposta a uma solicitação do Governo do Paraguai, a Repartição prestou assessoramento técnico ao Ministério da Saúde para a resposta imediata e a avaliação preliminar dos riscos à saúde pública, como parte de uma equipe conjunta de várias organizações que também incluía o pessoal do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do OCHA, bem como das secretarias das Convenções da Basileia, de Roterdã e de Estocolmo e de órgãos do Governo do Paraguai.
A Repartição entregou rapidamente um relatório de avaliação, que indicou uma alta possibilidade de exposição à dioxina. Com base em entrevistas extensas e mais de
400 amostras de sangue, foram encontradas 252 pessoas com sinais e sintomas que poderiam estar diretamente relacionados com o incidente. Essas pessoas foram encaminhadas ao atendimento médico e acompanhamento pelos serviços de saúde do país.
Reconhecendo que os efeitos de longo prazo das exposições à dioxina, como o câncer ou os problemas endócrinos, podem levar décadas para se manifestarem, a Repartição recomendou uma série de ações de acompanhamento, as quais foram incorporadas a uma proposta de financiamento da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO, sigla em inglês).
A colaboração interinstitucional e interdisciplinar em resposta a esse evento resultou em uma proposta do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em parceria com o PNUD e outras organizações, para que se criasse uma mesa-redonda permanente com todos os organismos (inclusive a OPAS) e setores a fim de coordenar esforços para fortalecer a capacidade do Paraguai na prevenção, prontidão e resposta em caso de emergências ou incidentes tecnológicos.
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